Tânia Bacelar iniciou sua exposição falando sobre as desigualdades regionais, destacando que a diversidade cultural brasileira, uma herança histórica positiva, convive com a herança das bases produtivas desiguais. Para ela, o mix da cultura do país acentua a presença da população indígena no Norte, enquanto os negros são mais concentrados no Sudeste e Nordeste, e os europeus no Sul. Como as bases produtivas regionais não dialogam entre si, o potencial de um desenvolvimento mais harmonioso fica minimizado.

Ela explicou que a base industrial inicialmente concentrada no Rio de Janeiro e em São Paulo reduziu a capacidade de convívio com a diversidade por conta de outra herança negativa: a desigualdade. A industrialização do país predominante nestes dois Estados, disse a professora, propiciou uma divisão social bem marcada. Ela citou como exemplo a alta concentração econômica e populacional em São Paulo. Segundo Tânia Bacelar, o Estado, com sua larga fatia do Produto Interno Bruto (PIB) e seu elevado número de habitantes, explica muito bem o que é o Brasil.

Desconcetração

A professora disse que a comparação de São Paulo com o restante do país revela um resultado bem interessante — a realidade do Estado encobre as potencialidades de outras regiões brasileiras. Tânia Bacelar explicou que essa concentração industrial decorre da colonização do país, que chegou ao final do século XIX e ao começo do século XX com um ciclo econômico fortemente estabelecido no Sudeste. A presença econômica acentuada na região, lembrou, resultou também na concentração da base universitária e do conhecimento científico.

Ela, que é especialista em economia regional e tem um pensamento multidisciplinar, transitando pela geografia, o urbanismo e a política, destacou que desde o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) o Brasil não tem um projeto para enfrentar suas assimetrias. Para Tânia Bacelar, só agora o país começa a passar por uma tímida desconcentração da sua economia, com o avanço da agroindústria para o Norte e o Centro-Oeste — o “miolo” do país — e a migração de empresas para outros pólos.

Universidades

Mas nem por isso São Paulo perde a sua capacidade industrial, que, segundo ela, enfrenta uma reorganização com o avanço de outras modalidades econômicas. Ao mesmo tempo, explicou a professora, a migração industrial leva consigo o aumento da densidade populacional. Com isso, cresce no país o número de cidades médias — com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. Para ela, esse é o tamanho ideal de uma cidade, que oferece condições para se enfrentar problemas estruturais, como saneamento e planejamento.

Tânia Bacelar, que foi secretária de Planejamento e da Fazenda do governo Miguel Arraes (1987-90) em Pernambuco e recentemente encabeçou o processo (não concluído) de reorganização da Sudene, destacou que o Brasil chegou a ter 80% da sua produção industrial brasileira no Sudeste, 44% na Grande São Paulo, na década de 1970. Para ela, trata-se de um padrão de concentração inusitado e inaceitável em um país continental e pleno de tantas potencialidades. Segundo a professora, a decisão do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva de interiorizar as universidades e o ensino merece aplausos.

Educação

Ela elogiou ainda as políticas sociais do governo, que tem favorecido o Norte e Nordeste por conta do peso maior das carências, e ressaltou que merece menção especial também a grande relevância das medidas econômicas que estão dotando essas regiões com fontes de rendas estruturais. Segundo a professora, são iniciativas que fazem a máquina econômica girar e dinamizam a vida das populações locais. Para Tânia Bacelar, o governo mostrou sensibilidade ao perceber o potencial dessa dinâmica quando se voltou para o que ela chamou de “consumo insatisfeito”.

A professora discorreu ainda, resumidamente, sobre o debate cambial — que para ela “tem fundamento” —, comentou a importância que o país vai assumindo na indústria do petróleo e destacou o potencial que o Brasil tem para ocupar um importante lugar na produção de alimentos. Tânia Bacelar explicou que a demanda alimentar vai crescer significativamente — segundo dados da FAO — por conta da elevação do padrão de vida em países como China e Índia. E terminou enfatizando que o grande desafio do país é melhor rapidamente os níveis de educação dos brasileiros.

Segundo descreveu Sérgio Barroso, que destacou a excelência da conversa, “a professora Tânia nos deu emocionada aula de Brasil". "Na verdade, quando ela adentra pelas marcas salientes da nação, consegue compor essa aquarela de cores luminosas e sombrias que mesclam nossas potencialidades e tragédias, nosso passado e um futuro do presente”, enfatizou.