O Arquivo de Segurança Nacional dos Estados Unidos liberou documentos referentes às operações que conduziram à derrubada do governo do presidente João Goulart no dia 1º de abril de 1964. Os documentos revelam detalhes sobre a ação norte-americana por atrás das forças do golpe. Entre os arquivos liberados existe uma fita de áudio de um contato telefônico de Lyndon Johnson, que estava em sua fazenda no Texas, que resume como os golpistas se mobilizaram contra Goulart. Johnson é ouvido instruindo o subsecretário de Estado, George Ball.

Entre os documentos existem comunicados secretos enviados pelo Embaixador norte-americano Lincoln Gordon, que prestou informações a Washington sobre o seu envolvimento direto, apoiando os golpistas. Para assegurar o sucesso do golpe súbito, Gordon recomendou "que seja preparada uma entrega clandestina de armas de origem não americana, a ser feita a Castello Branco e seus partidários em São Paulo".

Gordon sugeriu que estas armas sejam "pre-posicionadas antes de qualquer erupção de violência". E seria “usada por unidades paramilitares e o Exército amigável contra exército hostil se necessário”. Para esconder o papel norte-americano, Gordon recomendou que as armas fossem entregues por submarino sem qualquer logotipo dos EUA. As entregas deveriam ser feitas à noite e nas costas isoladas ao sul de Santos, em São Paulo.

Gordon também disse que a CIA deveria tomar medidas para ajudar a fortalecer as "forças de resistência no Brasil". Estes incluíram apoio encoberto, "apelando em favor da democracia e do sentimento anticomunista no Congresso, forças armadas, trabalho amigável e grupos de estudante, igreja, e empresários”. Quatro dias antes do golpe, Gordon informou Washington que "nós podemos estar pedindo fundos adicionais modestos para outra ação coberta programa no próximo futuro”.

Ele também pediu que o EUA enviassem navios-tanques de petróleo para facilitar as operações de logística dos conspiradores do golpe militar, e solicitou uma força-tarefa naval para intimidar a resistência ao golpe e para estar em posição de intervir militarmente caso fosse necessário.

No dia 31 de março, mostram os documentos, Gordon recebeu um telegrama secreto de Secretário de Estado, Decano Rusk, que declara que o governo norte-americano havia decidido mobilizar uma força-tarefa naval imediatamente para assumir posição ao largo da costa do Brasil. “Despache navios-tanques de petróleo da Marinha norte-americana de Aruba; e junte um transporte aéreo de 110 toneladas de munição e outros equipamentos, inclusive ‘CS agent’ (um gás especial)".

Durante o “período de emergência” na Casa Branca, em 1º de abril, de acordo com um memorando da CIA, o secretário de Defesa Robert McNamara falou para o presidente Johnson que a força-tarefa já tinha zarpado e um navio-tanque da Esso contendo gasolina de aviação logo estaria próximo ao porto de Santos. Um transporte aéreo de munição, informou, estava sendo carregado em Nova Jersey e poderia ser enviado para o Brasil dentro de 16 horas.

Tal apoio dos EUA ao golpe militar se tornou desnecessário. As forças golpistas obtiveram sucesso, derrubando Goulart rapidamente e com menos resistência armada do que os norte-americanos imaginaram. No dia 2 de abril, agentes de CIA no Brasil declararam que "João Goulart, presidente deposto de Brasil, estava seguindo de Porto Alegre para Montevidéu".