Uma supostamente “inteligente” proposta da Alemanha, travestida em ultimato, tenta evitar o choque entre a União Européia (UE) e os EUA na belicosa questão das mudanças na composição do Conselho Diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) que se refere, principalmente, à redistrbuição dos votos.

O Governo dos EUA – que aparentemente manda no FMI – busca reduzir os direitos europeus de voto em benefício das economias emergentes. Já Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha e “moleque de recados” da supostamente poderosa “Frau” Angela Merkel, chanceler da Alemanha, vociferou aos EUA para que desistam de seu direito de veto e, em troca, a Europa “aceitará abrir mão dos direitos de voto que dispõe”.

A redistribuição dos votos em percentuais, pelo menos de 5%, a favor da China e das demais economias emergentes, havia sido acordada durante a última reunião do G20, realizada em Pittsburgh (EUA). E é óbvio que esta piada de ultimato dos alemães foi rejeitada pelo governo de Washington.

Mas há um aspecto – no mínimo – curioso: a Zona do Euro não participa com esta feição do Conselho Diretor do FMI. Mas seus países integrantes, sim. Participam. E como era de se esperar, o resultado é uma contraproducente super-representatividade, e é uma amostra de fraqueza, porque esta super-representatividade enfraquece, ao invés de fortalecer o poder de negociação da UE dentro do FMI.

O bon vivant Dominique Strauss-Khan, presidente do FMI e, ex-ministro das Finanças da França, concorda com a redução das posições européias ou, então, com uma representação da Zona do Euro por apenas um país votante.

Manda quem pode

A reorganização do órgão superior do FMI é necessária para que possa expressar melhor o peso econômico das economias emergentes. Todos os participantes do FMI reconhecem que, com sua composição atual, a organização não representa a distribuição da economia, como fazia há 65 anos, quando foi fundada. Porém, a perspectiva da necessidade de representação da China, Coréia do Sul e Turquia custará aos países europeus uma vaga no Conselho Diretor do FMI.

Agora que aproxima-se 1º de novembro, quando expira o prazo, os EUA pressionam. Já a UE ameaça que, se não for encontrada uma solução, então, prevalecerá sua aprovação para ampliação do Conselho Diretor do FMI para 24 vagas, das 20 previstas em sua constituição, enquanto a aprovação dos EUA, embora obrigatória para cada mudança, assim como o peso de 17% de votos que dispõem no organismo, é o último país com poder de veto. Os europeus (especificamente, os 27 países-membros das EU) dispõem, também, de forte represetatividade: 32% dos votos, com oito cadeiras. Mas não basta.

Megalomania européia

Na realidade, a distribuição dos votos e das cadeiras no FMI reflete uma correlação de riqueza e poder que, de acordo com os atuais fundamentos internacionais, encontra-se bastante afastada da realidade. Os países do Hemisfério Sul e as economias emergentes exigem dos países ricos limites a seus privilégios.

Não pode a China, que já superou o Japão e tornou-se a segunda superpotência econômica mundial, controlar apenas 3,065% do total de votos no Conselho Diretor, enquanto o Japão continua controlando 6,01%.

Há apenas um ano, o G20 concordou em triplicar os recursos do FMI para US$ 750 bilhões, mas seu presidente pediu mais US$ 250 bilhões para “fortalecer o arsenal de endividamento”. Mas ninguém é bobo. Todos sabem que este volume de recursos é excessivo.

Considerando os fatos, o Governo dos EUA contribuirá com cerca de US$ 42 bilhões. E só. E o FMI vai correndo buscá-los. No final das contas, o que se vê é uma desenfreada megalomania dos empoados europeus.

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Fonte: Monitor Mercantil