Em seus comentários, alguns leitores apontaram que o euro é essencialmente um projeto político, e não econômico. Bem, na verdade, trata-se de ambas as coisas; esta tem sido a estratégia europeia desde a declaração de Schuman. O objetivo é promover uma série de planos de integração econômica que produzem um efeito duplo: são economicamente produtivos, mas também responsáveis por criar uma “solidariedade de facto”, aproximando mais a Europa de uma união política.

Durante 60 anos, esta estratégia foi muito bem-sucedida. O caso da Europa é uma das grandes e inspiradoras histórias de sucesso do mundo moderno, possivelmente de todos os tempos: paz, prosperidade e democracia florescendo onde antes havia campos minados e arame farpado.

Mas: a estratégia depende de que cada passo na direção da integração econômica seja ao mesmo tempo um símbolo político e uma boa ideia do ponto de vista econômico. Isto era claramente verdadeiro no caso do carvão e do aço, do mercado comum, da eurolinguiça e assim por diante. Entretanto, nada indica que o euro tenha sido aprovado neste teste. A limitada mobilidade da força de trabalho europeia (apesar de esta situação ter melhorado) e, principalmente, a falta de integração fiscal tornam uma moeda comum uma proposição dúbia, na melhor das hipóteses.

E isto representa um problema para o projeto europeu mais amplo. A solidariedade é construída por meio de medidas econômicas que funcionam, e não por medidas fracassadas. Não creio que um rompimento do euro nos traria de volta aos dias da Linha Siegfried; mas isto certamente causaria um esfriamento naqueles sentimentos solidários que deveriam conduzir o continente, passo a passo, no rumo de uma verdadeira federação.

Se eu fosse um líder europeu, estaria muito, muito preocupado diante disso – e disposto a correr alguns riscos expressivos, como a criação de títulos europeus, na tentativa de reverter a situação.

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Fonte: O Estado de S. Paulo