O que quero dizer é que a macroeconomia portuguesa é mais complicada de explicar do que as da Grécia, Espanha e Irlanda. O problema grego tem a ver com as excessivas tomadas de empréstimo pelo governo; Irlanda e Espanha foram afetadas pelas bolhas imobiliárias.

Portugal, ao contrário, não estava com uma situação fiscal tão problemática – a dívida em relação ao PIB , às vésperas da crise, mal poderia ser comparada à da Alemanha. Mas o país também não registrava aumentos enormes nos preços dos imóveis. Havia muito endividamento do setor privado, mas não é fácil explicar exatamente o porquê.

O que está claro, contudo, é que neste momento Portugal enfrenta problemas de ajuste similares aos da Espanha, e talvez piores. Os preços e os custos da mão de obra não estão de acordo com o restante da zona do euro; para que voltem a se harmonizar será preciso uma desvalorização interna dolorosa, aliás, uma deflação; e diante dos altos níveis da dívida privada, uma deflação terá efeitos colaterais graves. Tolstoi estava errado: muitos países infelizes, pelo menos na Europa neste momento, estão infelizes por razões mais ou menos parecidas.