Desde a crise de 2008, havia sinais claros de que a sequência seria uma guerra comercial/cambial. As economias centrais entram em recessão, explodem pressões políticas, a crise do sistema financeiro e do endividamento das famílias impede uma recuperação rápida. Assim, a saída à vista é tentar ampliar as exportações e reduzir as importações.

Foi o mesmo desenho do pós-crack de 29. Nos anos seguintes houve uma ruidosa corrida protecionista que agravou sobremaneira a crise – especialmente nos países que não se defenderam a tempo.

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Em outros tempos, recorriam-se a medidas protecionistas. Com os acordos comerciais em torno da OMC (Organização Mundial do Comércio), era quase óbvio que a guerra se daria através de desvalorizações cambiais.

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Desde os anos 90, estava claro que o caminho a ser trilhado passava pelas desvalorizações cambiais. De um lado, a OMC avançava cada vez mais em regulações visando impedir o uso de táticas extra-tarifárias (como subsídios, controles sanitários indevidos etc.). Na outra ponta, o FMI (Fundo Monetário Internacional) pouco fazia para coibir os grandes movimentos de capitais, trazendo ampla instabilidade cambial.

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Foi em cima desse vácuo que a China e os asiáticos conseguiram se consolidar como o novo núcleo dinâmico da economia mundial. Segurando o câmbio, os chineses puderam abrir mão de práticas anti-concorrenciais, serem aceitos pela OMC e oferecer preços imbatíveis para seus produtos.

Nesse período todo, o câmbio passou ao largo da OMC, apesar de seus impactos diretos sobre a competitividade dos países no comércio mundial.

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Com a crise de 2008, abriram-se inúmeras discussões sobre maneiras de impedir a volta do protecionismo e conter os fluxos financeiros internacionais. Não se saiu do discurso.

À medida que a crise evoluía, o câmbio passou a ser cada vez mais utilizado para amenizar as crises dos países centrais, culminando com a decisão norte-americana de emitir dólares para resgatar títulos públicos – maneira de inundar a economia de liquidez derrubando a cotação do dólar, encarecendo as importações e barateando as exportações.

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Entrou-se, assim, em uma dinâmica complicada, com as duas maiores economias do mundo valendo-se de desvalorizações cambiais para garantir superávits comerciais.

É nesse quadro que, a partir do ano passado começou a tomar corpo a tese de recorrer à OMC para impedir desvalorizações cambiais competitivas. A tese foi exposta inicialmente por Vera Thorsten, especialista da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e representante brasileira em vários fóruns internacionais.

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Nos próximos dias, a Fazenda deverá reforçar esse ponto. O único problema é que o Brasil está em posição desconfortável. Após a desvalorização de 2008, permitiu-se pela enésima vez a apreciação cambial.

Agora, qualquer acordo impedindo rodadas de desvalorização pegaria o Brasil no contrapé.

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Fonte: Luis Nassif Online