O jornal Valor Econômico ouviu alguns desses corneteiros. O estrategista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, trabalha com um crescimento de 3,9%, mas acha que o número pode ser menor. Segundo ele, a combinação de demanda ainda forte — evidenciada pela alta de 2,5% do consumo das famílias no quarto trimestre — e o choque sobre os preços de commodities tem um potencial inflacionário “preocupante”, que pode exigir um aumento mais forte dos juros e novas medidas de contenção do crédito. Padovani, que projeta mais uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic, estuda revisar a trajetória, incluindo mais um aumento de 0,5 ponto. Com isso, a Selic, hoje em 11,75% ao ano, iria para 12,75%. Na quarta-feira, o BC elevou a Selic em 0,5 ponto.

A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, estima um crescimento de 4,5% neste ano, mas diz que sua previsão tem viés de baixa. Para ela, a aceleração do consumo das famílias no quarto trimestre "alerta para a necessidade de ações ainda mais contundentes da autoridade monetária". Thaís acredita que o BC vai promover mais duas rodadas de aumento de juros de 0,5 ponto, apostando também que a demanda vai levar o Banco Central a adotar novas medidas de restrição ao crédito. Ela estima um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,9% neste ano, acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%.

Outro motivo importante para os corneteiros esperarem um crescimento significativamente mais fraco em 2011 é a herança estatística ("carry over", em economês) que 2010 deixou para este ano, de apenas 1,1%. Isso significa que, se a economia não crescer nada em relação ao patamar do fim de 2011, ainda assim o PIB subirá 1,1%.

"Esse carry over é um dos mais baixos dos últimos anos", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. O de 2009 para 2010, por exemplo, ficou em 3,6%. A herança estatística deste ano é bem mais baixa porque o PIB é calculado pela comparação entre a média do crescimento de um ano e a média do ano anterior. Em 2009, o PIB começou fraco e se acelerou ao longo do ano, o inverso do que ocorreu em 2010, quando iniciou o ano a todo vapor e perdeu força com o passar dos meses. Borges diz que, dado o legado que 2010 deixou para 2011, o crescimento do PIB neste ano deverá ser bastante moderado. A sua estimativa de uma alta do PIB de 3,6% contempla uma expansão trimestral média na casa de 1% neste ano.

Borges tem uma visão diferente da de Padovani e Thaís quanto ao que o crescimento do consumo das famílias representa para a política monetária. Para ele, o consumo foi de fato robusto, mas tirar implicações para a política monetária a partir dos últimos três meses de 2010 seria um erro. No meio do caminho, diz ele, foram adotadas as medidas de restrição ao crédito, que aumentaram os juros e reduziram prazos de financiamentos. "O efeito sobre o crédito foi relevante, e pode ser que o BC atue mais nesse sentido".

Para o economista Fernando Rocha, da JGP Gestão de Recursos, o governo já entendeu que a missão passou de aquecer a economia para esfriar o ritmo, mas ainda precisa acertar a calibragem. "Já vimos as medidas macroprudenciais, duas elevações da Selic e uma intenção de corte no orçamento deste ano, mas o governo precisará manter o aperto monetário", diz. "Mais que o resultado do ano, o mercado já vê inflação fora da meta em 2011 e também 2012, então a hora de apertar é agora."