Jornalista e autor de uma extensa obra composta por mais de trinta títulos, Gabriel García Marquez inaugurou o Realismo Fantástico com a obra “Cem Anos de Solidão”, de 1967. Ao contar a história da família Buendía, passada na cidade fictícia de Macondo, Marquez alcançou imagens inesquecíveis. “‘E era uma chuva tão grande, que os peixes nadavam no ar’. Essa é uma das construções que eu mais gosto em ‘Cem anos de Solidão’. Sempre penso nela quando cai uma daquelas tempestades em Belém. Gabriel é dono de um universo tão fantasioso, tão fabuloso, que instiga o leitor a fazer parte da fantasia, e também imaginar o até então inimaginável”, diz André de Aviz, professor de arte e literatura, escritor, e um declarado fã do etéreo universo criado por García Marquez. “Tenho várias edições deste livro, inclusive em língua original, castelhano. É uma obra que sempre me faz retornar, reler trechos, e experimentar sempre um novo encantamento”.

INFLUÊNCIA

Marco na literatura latino-americana, o livro que inaugurou o estilo do “Realismo Fantástico” foi resultado da influência de um outro autor capaz de conceber roteiros oníricos. “A metamorfose”, do alemão Franz Kafka, foi a chave certa que abriu as portas da percepção de García Marquez. O colombiano conta que, “ao ler a primeira frase do livro, ‘quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso’, pensou ‘então eu posso fazer isso com as personagens? Criar situações impossíveis?’”.

E ao gozar das possibilidades infinitas da literatura, Marquez mostrou que podia ir além nas narrativas. Inspirados por tantas palavras inebriadas, sua literatura influenciou autores como Jorge Amado, e os contemporâneos Raduan Nassar e Orígenes Lessa.

Mas além da literatura, ou por causa dela, García Marquez tem em sua biografia um engajamento político peculiar. Tendo como pátria a Colômbia, o escritor viveu diversos momentos tortuosos, como a ascensão de poderes autoritários que tomou conta da América Latina na década de 1960. Intelectual e autor respeitável, Marquez, apesar da crise política, conseguia transitar com certo privilégio. Aproximou-se de Fidel Castro, e foi perseguido. Morou em outros países da América Latina, como México, conheceu diversos outros líderes polêmicos, e nunca escondeu sua simpatia pelos autoritaristas.

“Esse assunto é delicado. Mas o que vale ressaltar é que Gabriel nuca se esquivou. Ele foi um ser de seu tempo. Viveu as transformações políticas, morou na Europa por muitos anos e experimentou todas essas questões de forma intensa. E o escritor deve sempre manifestar e viver a sua realidade, sobretudo porque dessa realidade parte a sua vivência literária”, defende André de Aviz. “Ainda que sua postura política esteja à mercê de críticas, a sua literatura é muito maior que isso. Ele é, sem dúvida, um dos autores mais criativos e imaginativos de que se tem notícia”.

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Com informações do Diário do Pará