Segundo o ex-presidente, o Brasil ficou afastado do mundo árabe por "interesses econômicos das grandes potências". Para Lula, não há motivos para não ampliar a relação entre esses países. "Quanto mais forte for a relação do Brasil com o Oriente Médio, do ponto de vista comercial, político, econômico e cultural, menos o Oriente Médio será dependente da Europa e dos Estados Unidos, e menos o Brasil será dependente da Europa e dos Estados Unidos", disse, em entrevista à BBC Brasil, durante sua viagem ao Qatar. "Essas relações tendem a continuar crescendo."

Nos pronunciamentos que fez, o ex-presidente evitou analisar o papel que o Brasil pode desempenhar na crise política no Oriente Médio. Questionado, disse apenas que é "preciso ter cuidado" para não dar um "palpite equivocado" em "um processo ainda em construção". Lula afirmou que os protestos são "um bem para a democracia" e que fazem parte de um processo "normal", pelo qual já passaram Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai, com o regime militar. "Agora é a vez do Oriente Médio", comentou. "Acho que esse processo é bom. Depois disso, poderemos colher a sensação de um Oriente Médio renovado, mais preocupado com a juventude, com a distribuição de renda, mais preocupado com a democracia", afirmou à BBC Brasil.

O ex-presidente também evitou citar os países que enfrentaram problemas recentemente. Sobre a situação mais delicada, que ocorre na Líbia, Lula defendeu a negociação. "É preciso que [Muamar] Gadafi se disponha a conversar ou que convoque uma eleição, um referendo, alguma coisa, para que seja possível medir o tamanho do desejo do povo sobre sua saída", comentou.

Convidado pela TV Al Jazeera para falar sobre as transformações do mundo árabe e perspectivas para o futuro, o ex-presidente defendeu a alternância no poder como forma de garantir o fortalecimento da democracia. "A democracia não é um conceito vago. A democracia não é um estado de espírito. É uma conquista da sociedade, como um todo. Tudo o que eu consegui foi através da democracia", afirmou. Lula disse ter rejeitado um terceiro mandato. "Quando um líder acha que é indispensável, ou que não poderia ser substituído, começamos a ver o nascimento de um ditador, de uma ditadura".

Tanto na entrevista à BBC quanto no fórum da Al Jazeera, Lula falou sobre sua ideia de trabalhar pela captação de recursos que serão destinados a ações em países da América Latina e da África. Nos primeiros meses depois de deixar a Presidência, a agenda de Lula tem sido concorrida. Neste mês, o ex-presidente irá a Portugal receber um título da Universidade de Coimbra. Em seguida, estão previstas viagens para o Paraguai, a uma reunião sobre educação, e ao Uruguai, para a comemoração dos 40 anos da Frente Ampla. Em abril, Lula irá para os Estados Unidos, a um debate promovido pela Microsoft em Washington. Depois irá ao México, Espanha e Inglaterra.

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Fonte: Valor Econômico