Diário de Trabalho 24.3.42
Bertolt Brecht

As perguntas nem sempre são igualmente urgentes, mas há sempre o desejo de produzir respostas: que outra coisa significa escrever? É como um moinho de vento, que trabalha mesmo sem grão. Mas o homem inteiro é como um Estado, que pode às vezes estar completamente desunido, sem governo, meio devastado, incapaz de dar uma resposta coerente ao mundo exterior. Às vezes você escreve movido por certas forças e às vezes você tenta ganhar força escrevendo. Aqui nos Estados Unidos você é um objeto da literatura, não o sujeito. Durante semanas trabalhei diariamente com Czinner e Bergner numa filmstory, e agora ela está em Washington, ele esta trabalhando num filme, e a story não esta terminada. Foi, sim, posta no gelo. Dieterle me mostra seu último filme que conta a história do jazz. Ele é o produtor, o que quer dizer que ele mesmo lida pessoalmente com os bancos, e agora eles o estão forçando a cortar o maior número possível de negros e introduzir outro tanto de boy meets girl. Tudo que resta do filme é uma coleção de retalhos. Pensei nisso e anotei algumas sugestões, mas ele não me ligou de volta e está provavelmente correndo de um banco para outro. Enquanto estou sentado na cadeira indiana de madeira debaixo do limeiro do jardim e um imenso bombardeio de vez em quando cruza o céu, olho para uma trepadeira e penso: ela não sabe nada de determinismo, provavelmente opera com base num sistema de causas. Ai aparece um homem, estica um braço e amarra a trepadeira num arame – um vez na vida dela. Nesse sistema esse tipo de coisa não pode parecer determinado. Depois eu penso: estes são pensamentos sombrios. E me levanto para ir buscar um charuto.

Diário de Trabalho Bertolt Brecht Volume II 1941 – 1947
Editora Rocco