Afinal, "todos os detalhes deste negócio sinistro estavam escondidos à vista de todos", diz o porta-voz da ONG Reprieve. Foto MichaelB in Houston/Flickr Uma reportagem do Guardian teve acesso a alguns dos documentos, facturas e emails entre as empresas que constituem prova num processo de disputa comercial mas com um alcance político importante. Os protagonistas são a Sportsflight, uma intermediária no negócio do aluguer de jactos e a operadora aérea Richmor.

Os recibos de despesas de vários destes voos apresentados em tribunal coincidem com a passagem nos mesmos locais e na mesma altura de alguns dos presos que denunciaram nos seus relatos terem sido capturados e metidos num avião. São os casos de Abu Omar, raptado pela CIA em Milão e levado para a tortura numa prisão ilegal no Cairo, de Encep Nuraman, o líder dos terroristas indonésios da Jemaah Islamiyah, ou Khalid Sheik Mohammed, que os norte-americanos apresentaram como sendo o "cérebro do 11 de Setembro" e cujos actos de tortura a que foi sujeito estão documentados num memorando elaborado pelo Departamento de Justiça.

"Estes documentos revelam como a rede secreta de tortura da CIA foi capaz de agir sem controlo durante tantos anos. E também mostram a farsa que foi a CIA ter conseguido classificar como secretas as queixas dos prisioneiros sobre tortura, enquanto todos os detalhes deste negócio sinistro estavam escondidos à vista de todos", disse Cori Crider, responsável jurídico da ONG Reprieve, que descobriu os documentos no tribunal.

O verdadeiro dono de um dos aviões utilizados nos chamados "voos de rendição", Phillip Morse, que o alugava a estas empresas, está ligado ao desporto nos EUA e em Inglaterra. Sabe-se hoje que no intervalo do transporte de presos para a tortura nas prisões ilegais, o avião era usado para transportar a conhecida equipa de baseball Boston Red Sox. Depois da matrícula do avião ser conhecida pelos piores motivos, ao rebentar o escândalo dos voos ilegais da CIA, o dono e a família "ficaram com medo de voar nele por causa de tanta publicidade" à volta do avião, diz um dos empresários numa carta revelada pelo Guardian que também faz parte dos documentos do processo, e onde lamenta que o negócio tenha sido tão afectado pela curiosidade da imprensa.

__________

Fonte: Esquerda.net