Intitulado «O que há a dizer», o poema em prosa surgiu, dia 4, simultaneamente no jornal alemão Suddeutsche Zeitung, no espanhol El País, no norte-americano The New York Times e no italiano La Repubblica.

O texto denuncia um possível ataque preventivo de Israel contra instalações nucleares do Irão, projecto que «poderá exterminar o povo iraniano» porque «se suspeita do fabrico de uma bomba atómica».

Ao mesmo tempo, o escritor, referindo-se a Israel, recorda que há «esse outro país onde há anos / – ainda que mantido em segredo – / se dispõe de um crescente potencial nuclear, / que não está sujeito a qualquer controlo, / já que é inacessível a qualquer verificação».

«O silêncio geral sobre esse facto», continua o texto, «a que se sujeitou o meu próprio silêncio, / sinto-o como uma gravosa mentira / e coacção que ameaça castigar / quando não é respeitada: / “anti-semitismo” se chama a condenação».

Aos 84 anos, o autor explica porque só agora decidiu dizer que «Israel, potência nuclear, coloca em perigo / uma paz mundial já de si frágil». «Porque há que dizer / o que amanhã poderá ser demasiado tarde».

Apelando «para que os governos / de ambos os países permitam / o controlo permanente e sem entraves, / por parte de uma instância internacional, / do potencial nuclear israelita / e das instalações nucleares iranianas», Günter Grass conclui que: «Só assim poderemos ajudar todos, / israelitas e palestinianos, / mas também todos os seres humanos /que nessa região ocupada pela demência / vivem em conflito lado a lado, / odiando-se mutuamente, / e decididamente ajudar-nos também.»

Este apelo à paz feito pelo Nobel da Literatura teve como resposta do governo israelita a declaração, no domingo, 8, de Günter Grass persona non grata.

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Fonte: Avante!