Hong Kong – Os novos e sucessivos aumentos salariais de trabalhadores em várias regiões da China talvez possam ameaçar – por curto prazo – a competitividade do país, mas a igualmente sucessiva melhoria de produtividade, somada a outras evoluções positivas registradas na economia, significam que a China continuará atraindo investidores estrangeiros.

Avalia-se que o custo trabalho na China deverá – em três anos – atingir os níveis dos EUA, em quatro anos, o dos países da Zona do Euro, e em seis, do Japão, segundo previsões do banco francês Natixis, que em seu relatório sentencia: “A China não será por muito tempo ainda espaço competitivo para produção, considerando o forte aumento do custo de produção”.

O Boston Consulting Group (BCG) sustentou no final do ano passado que “até 2015 as construções em determinadas regiões dos EUA serão interessantes economicamente, tanto quanto na China”. Exemplo característico de empresas que se retiram da China é – de acordo com o BCG – o gigante de tecnologia NCR, que fabrica equipamentos ATM, e transferiu sua fábrica ao estado norte-americano de Georgia, onde empregará 870 trabalhadores.

Também a Adidas está encerrando as operações de sua única fábrica na China, constituindo-se a última grande empresa que transfere sua base de produção a países mais baratos, apesar de conservar a rede das 300 fábricas com as quais tem formalizado acordos de produção. De acordo com a Adidas, um trabalhador chinês que trabalha na fabricação de sapatos esportivos recebe um salário mensal de 2.000 iuan (cerca de 258 euros), enquanto seus colegas na fábrica da Adidas em Cambodja recebem apenas 107 euros.

Rumo à África

Esta tendência de evolução salarial é fortalecida pelos recentes aumentos nos salários de trabalhadores residentes em centros urbanos, que receberam reajustes de 13%. Já os imigrantes, que pertencem à categoria de trabalhadores que recebem salários mais baixos, receberam aumentos de 15%, atingindo os 2.200 iuan mensalmente.

Até hoje os maiores aumentos de salários receberam os trabalhadores de grandes empresas japonesas, como a Toyota e a Honda, após realizarem grandes greves, e após uma onda de suicídios praticados por trabalhadores em fábricas de equipamentos eletrônicos de Taiwan.

O banco Natixis avalia que estes aumentos salariais obrigarão as empresas estrangeiras a transferirem suas fábricas ao sul e sudeste da Ásia, onde o custo trabalhista é muito menor. Simultaneamente, estima que esta evolução poderá favorecer países de outras regiões do mundo: Egito e Marocos, na África do Norte, e Bulgária e Romênia, na Europa.

Apesar de tudo isso, a China não perderá sua primazia fabril graças, principalmente, á melhoria de sua produtividade. Segundo análise do Fung Global Institute (instituição de pesquisa especializada nas economias asiáticas), “os maiores aumentos salariais foram acompanhados por uma forte elevação do nível de produtividade. A produtividade dos trabalhadores na China tem aumentado mais velozmente do que os salários no delta do Rio das Pérolas, no coração da grande indústria chinesa, de acordo com 200 empresas que participaram de uma pesquisa do Standard Chartered Bank.

“As regiões litorâneas da China proporcionam um ambiente empresarial eficaz que continua atraindo investidores, em antítese com as regiões do interior, as quais oferecem salários menores”, sublinha Alistair Thorndon, o maior especialista sobre questões econômicas da China, na IHS Global Insight.

Sucursal do Sudeste Asiático do Monitor Mercantil