Cerca de 95% das negociações salariais que ocorreram durante o ano passado resultaram em ganhos reais, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A análise, feita com 704 unidades de negociação da indústria, comércio e serviços, mostrou que 2012 foi o ano mais expressivo em termos de reajustes acima da inflação desde 1996.
O Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-Dieese) usou como parâmetro a evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o SAS, aproximadamente 4% das negociações conquistaram reajustes em percentual igual ao índice de inflação e 1% delas tiveram reajuste inferior. O aumento real médio observado nas negociações foi de 1,96%.
Entre os setores econômicos pesquisados, a indústria foi o que teve melhor desempenho, com aumentos reais em 97,5% dos casos, no ano de 2012. Esse setor também foi o único a não apresentar reajustes abaixo da inflação. No comércio, aproximadamente 96% das negociações resultaram em reajustes acima da inflação, 1% obtiveram correção salarial em valor igual à inflação e 3%, em valor abaixo. No setor de serviços, cerca de 90% das categorias conquistaram aumentos reais, 8% tiveram reajustes iguais à inflação e quase 3%, abaixo.
Nos três setores, a maior parte dos reajustes de 2012 se concentrou nas faixas de aumento real de até 3%. Na indústria e no comércio, a maior incidência se deu entre os ganhos de 1,01% a 3%, e nos serviços, entre 0,01% e 2%. Ganhos reais acima de 3% foram observados em 14% das negociações dos serviços, 12% da indústria e 7% do comércio.
Na comparação por tipo de instrumento normativo assinado para obtenção de reajustes salariais, 96% das convenções coletivas de trabalho – que abrangem toda ou parte de uma categoria profissional, conquistaram aumento real. Entre os acordos coletivos de trabalho – assinados por entidades sindicais de trabalhadores e empresas, a ocorrência de aumentos reais foi menor, em cerca de 86% dos casos. O valor médio dos aumentos reais nas convenções coletivas de 2012 foi de 2,09% e nos acordos coletivos foi de 1,13%.
Efeito irradiador em 2013
O coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre, prevê que, em 2013, a retomada das atividades na indústria deve se refletir em bom desempenho nas negociações salariais. “A indústria crescendo, isso tem um efeito irradiador”, disse ele.
O economista observou que, apesar de 2012 ter sido o melhor ano para as negociações, importantes categorias – como metalúrgicos e bancários, foram prejudicadas pelo desaquecimento das atividades econômicas no país, no segundo semestre do ano passado.
Ele acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer entre 3% e 3,5% e que a inflação deve ficar no teto em 6,5%, favorecendo mais as negociações que ocorrem no segundo semestre do ano. Na avaliação de José Silvestre, o governo deve manter-se atento para evitar a aceleração inflacionária.
Os ganhos acima da inflação, no ano passado, oscilaram na média de1,96% sendo que, no primeiro semestre, a taxa ficou em 2,14% e no segundo, 1,61%. Apesar desse recuo, o percentual do segundo semestre foi o segundo maior desde 2008, ficando atrás apenas do resultado de 2010 quando a variação atingiu 2,05%.
Considerações do Dieese
Em suas considerações finais, o documento completo do Dieese (disponível em
http://www.dieese.org.br/balancodasnegociacoes/2012/estPesq64BalNegoc2012.pdf) observa uma diferença na qualidade dos reajustes por data-base, com endurecimento dos empresários no segundo semestre com a consolidação dos índices econômicos. Para 2013, o relatório aponta resultados otimistas com o avanço dos bons índices da economia, em especial a taxa de desemprego. Leia a íntegra do texto:
Correspondendo às expectativas criadas pelas negociações dos reajustes salariais do primeiro semestre de 2012, o balanço anual dos reajustes revela, com base no INPC-IBGE, o melhor resultado entre os analisados pelo DIEESE desde 1996. Utilizando-se o INPC-IBGE, constata-se que 2012 foi o melhor ano dos reajustes salariais seja em termos da quantidade de reajustes acima da inflação, seja em relação ao valor médio dos aumentos reais, tanto no quadro geral quanto segundo recortes setorial e regional.
No entanto, quando analisados os aumentos reais segundo o recorte por data-base, observa-se que no segundo semestre de 2012 estes foram, em média, menores do que os conquistados pelas categorias profissionais com data-base no primeiro semestre, um comportamento diverso do observado nos anos anteriores. Em geral, os aumentos reais do segundo semestre são maiores, o que ocorre devido, principalmente, à concentração de datasbase de categorias profissionais com maior poder de negociação. Em 2012 ocorre o contrário. O aumento real médio cai em todos os setores – Indústria, Comércio e Serviços –, em especial nas datas-base de setembro a dezembro.
Entre as possíveis causas para a redução dos ganhos reais no segundo semestre há que se considerar o ritmo lento da atividade econômica em 2012, que resultou no crescimento de apenas 0,9% do PIB nacional, com queda dos investimentos. Ao longo do ano, na medida em que os dados econômicos nacionais foram se consolidando, verificou-se uma piora gradativa das expectativas dos empresários quanto à reação da atividade econômica. Tal agravamento pode ter resultado no endurecimento da postura patronal nas negociações coletivas.
Outro fator a ser levado em consideração é a elevação das taxas de inflação de 12 meses a partir de julho, segundo o INPC-IBGE10, o que tende a limitar as possibilidades de obtenção de ganhos reais pelos trabalhadores.
Entretanto, mesmo com a queda no aumento real médio do segundo semestre, este foi inferior apenas ao observado no segundo semestre de 2010. E o resultado anual consolidado, o melhor dentre todos os analisados pelo DIEESE.
Para 2013, a tendência é de as negociações manterem ou avançarem os patamares conquistados em 2012. A situação econômica é claramente mais positiva. O PIB já está rodando em torno de 2,4% ao ano, podendo chegar a 3% e 4% até final de dezembro. A taxa de câmbio está mais adequada para a competitividade das exportações e para a inibição da importação de produtos industriais. A taxa básica Selic, em termos reais, está no seu menor patamar histórico. A inflação, cujos índices mantiveram-se elevados no primeiro bimestre do ano, tende a ficar dentro da meta estabelecida pelo governo pelo décimo ano seguido11. E por fim, cabe destacar que a taxa de desemprego, uma variável fundamental nas negociações coletivas, está no menor patamar da história.
Este cenário e o importante papel desempenhado pelas entidades sindicais de trabalhadores na defesa dos ganhos dos trabalhadores e no combate à desigualdade social – ações imprescindíveis para o desenvolvimento do país – abrem a perspectiva para outro bom resultado em 2013.