A Síria em Boston
A realização do plano Kerry-Lavrov para a Síria foi interrompida pelas dificuldades encontradas pelos dois Grandes. Do lado dos E.U.A, parece difícil ser-se obedecido pelos aliados que arregimentaram contra a Síria e aos quais se pede uma retirada sem compensação. Do lado Russo, observa-se com inquietação a chegada súbita de combatentes do Cáucaso. Eles poderiam misturar-se com as forças de paz da Organização do Tratado de segurança colectiva, como anteriormente aconteceu com o exército vermelho no Afeganistão.
Afinal de repente, a mudança de equipe na administração Obama não parece produzir frutos. O próprio John Kerry se contradiz de uma declaração para a seguinte, de modo que mais ninguém vê a luz ao fundo do túnel. Aproveitando a ocasião, novas forças de bloqueio surgem no Congresso onde três projetos de lei foram apresentados.
O primeiro prossegue o projeto israelita de destruição da Síria. O segundo representa os interesses do complexo militar-industrial: uma guerra limitada. O terceiro visa a partilha do gás. É neste contexto que surgiu o atentado de Boston.
Uma dupla bomba matou três pessoas e feriu mais de uma centena de outras no final da maratona de Boston, terça-feira 16 Abril de 2013, às 14h50 (hora local). Graças à surpreendente descoberta de uma mochila contendo a tampa de uma panela de pressão e aos vídeos das cameras de vigilância, as autoridades conseguiram, na quinta-feira às 17h10, difundir as fotografias de dois suspeitos: os irmãos Tamerlão (26 anos) e Dzhokhar (19 anos) Tsarnaev. Sexta-feira, os dois irmãos escaparam à um polícia (policial-Br.) que eles mataram no campus do MIT (sigla em inglês do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, NdT). Depois, após terem desviado um Mercedes, foram atingidos pela polícia. Mais de 200 disparos foram trocados durante a noite, os dois irmãos foram feridos. Tamerlão morreu no hospital Beth Israel. O seu irmão, Dzhokhar, escapou a pé antes de ser preso pela polícia.
O acontecimento mobilizou as cadeias de televisão do mundo inteiro. A partir de Makhachkala (capital do Daguestão), os pais dos suspeitos clamaram que eles tinham sido manipulados. A sua mãe, que parece ter sofrido pressões da polícia norte- americana, fez questão de sublinhar que eles estavam sob vigilância estreita do FBI, e que não poderiam montar nenhuma operação sem que o mesmo FBI não soubesse. Enquanto o governador da Chechénia, Ramzan Khadirov, observando que os suspeitos não estavam a viver na Rússia, excluiu de avanço qualquer possível ligação com o seu país.
A implicação pessoal do presidente dos Estados-Unidos, Barack Obama, que interveio quatro vezes e se deslocou à catedral de Boston para lá pronunciar uma homilia, mostra a importância do acontecimento. O telefonema do presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, sublinhou o relançar da cooperação anti- terrorista. Resta-nos concluir que ela pode tomar duas direções opostas.
Se se admitir que o inimigo comum é o terrorismo checheno, poderá concluir-se que ele não terá êxito na Síria; os Estados-Unidos e a Rússia juntarão esforços para o combater em todo o mundo, e também no Levante. Mas, também se poderá supôr que Washington e Moscovo podem vencê-lo em casa deles e ignorá-lo na Síria. O problema com este tipo de atentado é que ele permite desenvolvimentos contraditórios, que só os que o planificaram têm previsto. E a qualquer momento, podem fazer surgir novos elementos que orientarão o modo como este atentado será percebido e quais as consequências políticas que daí se poderão retirar.
Seja como for, pode-se afirmar (1) que a questão chechena inibe os Russos na Síria (2) que o atentado de Boston é uma encenação visando colocar o terrorismo checheno na primeira linha (3) que a maneira como este assunto for apresentado determinará a sequência dos acontecimentos na Síria.
O único ponto fraco da história (estória-Br.), é a sobrevivência de Dzhokhar Tsarnaev. Um rapaz de 19 anos, é incontrolável.