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    Comunicação

    Debate em Salvador destaca atualidade de Gramsci

    Três mesas de debates discutiram diferentes aspectos do pensamento gramsciano, abrindo um forte espaço intelectual de esquerda na universidade baiana. O seminário Gramsci e o pensamento político teve início na tarde da terça-feira (23/4), seguindo até quinta (25/4),  começando no campus da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e encerrando na Escola de Saúde Coletiva […]

    POR: Redação

    5 min de leitura

    Três mesas de debates discutiram diferentes aspectos do pensamento gramsciano, abrindo um forte espaço intelectual de esquerda na universidade baiana. O seminário Gramsci e o pensamento político teve início na tarde da terça-feira (23/4), seguindo até quinta (25/4),  começando no campus da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e encerrando na Escola de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
    O primeiro debate abordou a relação entre Estado e Sociedade, e foi encaminhado pelo historiador da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Eurelino Coelho, e o jornalista e membro da direção nacional da Fundação Maurício Grabois (FMG), Osvaldo Bertolino. Foi mediado pelo professor da UNEB e membro da FMG, seção Bahia, Ricardo Moreno, e contou com as presenças da diretora do Departamento de Educação da universidade, Liane Carla, e da integrante da Fundação Maurício Grabois, Ilka Bichara.
    Segundo Ricardo Moreno, quem assistiu ao debate acompanhou uma exposição da evolução do pensamento gramsciano. O professor falou também sobre a trajetória de Antonio Gramsci (1891-1937), filósofo, político, cientista político e antifacista italiano. Eurelino Coelho diz que o pensamento gramsciano é uma leitura sempre atual e que o faz refletir sobre sua atividade como historiador e professor.
    De acordo com Osvaldo Bertolino, hoje em dia, ninguém contesta mais a necessidade de estudar Gramsci para entender a realidade atual. “Na Fundação Maurício Grabois, já chegamos a constituir um núcleo de estudo sobre ele.” Para o jornalista, a leitura de Gramsci pode ajudar a entender a tumultuada relação do Brasil no século XX e o que foi o movimento do liberalismo no mundo. Bertolino ainda reivindicou a influência leninista sobre a obra de Gramsci recuperando essa faceta do autor.
    Conforme apontou Coelho, o Estado tem uma importância maior para o pensamento liberal, com sua visão apologética desse ente burocrático. Neste regime, estado e sociedade civil são entidades exteriores e desconectadas. É o pensamento marxista que fará a conexão entre estes elementos propondo a superação do estado por meio do socialismo. Coelho acredita que a contribuição do filósofo italiano é “apenas de um intérprete, não de um inovador. O essencial nesse ponto já está dito desde 1850 com o que foi desenvolvido por Marx”.
    De acordo com o historiador, Gramsci foi um intelectual que tratou de temas de um mundo dominado pelo imperialismo, sempre com ideias que se aplicam facilmente a realidade atual do Brasil e do mundo. Além disso, ele foi uma das figuras centrais do Partido Comunista Italiano.
    Ao finalizar sua contribuição no seminário, Eurelino Coelho discorreu sobre o pensamento de Gramsci de que “não há caminho fácil para derrotar a burguesia e que a guerra de posição não pode ser confundida com compartilhamento de trincheira com o inimigo”. Para o filósofo italiano, o segredo é o espírito de cisão.
    Neste ponto, Coelho insinua o tema central da segunda mesa de debates sobre o conceito de hegemonia. A mesa do dia 24 contou com a participação do membro da Grabois no Rio de Janeiro, Felipe Maia, que também é professor da UERJ, sob a coordenação de Mary Castro. Pela Uneb, representou o professor Sandro Santa Bárbara, que discutiu a guerra de posição e a guerra de movimento com seus caracteres táticos e estratégicos.
    “A revolução molecular da guerra de posição não significa necessariamente um isolamento, mas um processo de acumulação de forças para derrotar o adversário mais adiante”, diz Moreno, sintetizando o debate. Pelo que foi debatido, a guerra de posição não pode ser vista como programática, mas como uma construção de alianças para superação desse estado em direção à guerra de movimento, que é, este sim, o processo revolucionário de tomada de poder, conduzido pelo partido comunista.
    Na terceira mesa, também com participação de Felipe Maia, e coordenação de Milton Barbosa, o professor da Saúde Coletiva e ex-reitor da UFBA, Naomar Almeida, dividiram a reflexão com o professor Jairnilson Paim, do mesmo Instituto de Saúde Coletiva, que buscou exemplificar o papel do intelectual militante em Gramsci a partir da sua própria experiência educacional. Segundo Moreno, ele mencionou o papel dos intelectuais orgânicos a serviço do estado hegemônico com seu papel institucional de preservar o status quo. A escola seria a instituição privilegiada de preservação da hegemonia e da dominação por meio do pensamento único. Apesar disso, apontou brechas para a construção da contra-hegemonia.
    Felipe destacou o papel político do intelectual na construção da guerra de ideias contribuindo para a formulação do “agente consciente” que é o partido político. Jair apontou a angústia intelectual de elaborar a teoria para a transformação social e esbarrar na burocracia de um estado que é formado para a conservação dos papéis de classe. O intelectual é o elemento do processo revolucionário que é capaz de elaborar uma nova concepção de estado que seja capaz de se superar por meio da acumulação de forças progressistas.
    Lançamento
    Nas quarta e quinta-feiras aconteceu o lançamento do livro “Mauricio Grabois, uma vida de combates”, de Osvaldo Bertolino, presente nos três dias de debates. A atividade faz parte das comemorações pelo centenário de Grabois, nascido em outubro de 1912. Grabois foi líder do PCdoB na Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e comandante da Guerrilha do Araguaia, quando morreu em combate. No dia 27, o desaparecimento do comunista completa 76 anos.