Pela primeira vez, pessoas que recebem o Bolsa Família, índios e operários que participaram das construção das arenas terão ingresso

A maioria dos que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro aplica no futebol de 58%a 122% da receita, em boa parte gerada pela TV, e não sobra centavo para os outros esportes. Fica para o Estado um papel que deveria ser supletivo, mas termina sendo de protagonismo na habilitação de atletas de alto rendimento.

Gesta-se assim um neomalthusianismo de novo tipo, que seleciona pela renda, um darwinismo financeiro em que vence não o atleta mais apto e sim o mais abastado. A ofensiva excludente estende-se agora aos estádios de futebol. A bilheteria das novas e belas arenas multiuso, reformadas ou construídas para as copas das Confederações e do Mundo, elitiza o público. O torcedor menos favorecido perdeu, em exemplo eloquente, o espaço de democrático da antiga geral, onde o ingresso era mais barato. Recentemente, um jogo tinha entradas a R$ 400 e a mais barata R$ 160.

A questão é se equipamentos construídos com apoio público, mas administrados pela gestão privada do futebol, devem cobrar preços da ópera de Londres. É de se estudar que ao menos 10% dos ingressos vão para o torcedor que não seja rico, equilibrando-se a receita com os mais caros. Num estádio de 60 mil lugares, 6 mil poderiam ser vendidos a “preços populares”. Já temos um belo precedente a comemorar. O Ministério do Esporte conseguiu da Fifa uma novidade para a Copa do Mundo, que tradicionalmente tem ingressos mais caros: no Brasil, pobres e índios terão direito a uma cota de entradas gratuitas.

*Aldo Rebelo é Ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB-SP

Artigo publicado no jornal Diário de S. Paulo