Vinte e dois presos, dezenas de feridos, cerca de 30 protestos de milhares de camponeses e 16 bloqueios de vias em 12 dos 32 departamentos (estados) colombianos. Esse é o balanço do primeiro dia de paralização nacional na Colômbia. A iniciativa, apelidada de 19A, ganhou ampla adesão e deve forçar o presidente Juan Manuel Santos a dialogar com diferentes setores, principalmente o agrário, castigado pelos acordos de livre-comércio assinados pelo país.

Da greve geral participam as principais organizações de camponeses, caminhoneiros trabalhadores do setor de saúde e conta com o respaldo de todos os sindicatos do país e quase todos os movimentos sociais. Além disso, o início se insere num momento em que os mineiros dão continuidade a uma luta de semanas por melhores condições trabalhistas. Cenário difícil de ser ignorado por qualquer chefe de Estado no mundo.

O estado que concentrou mais mobilizações foi o de Boyaca, onde foram registrados enfrentamentos durante todo o dia entre os plantadores de batatas e produtores de leite com as forças antimotim colombianas. Em Putumayo, ao redor de seis mil camponeses bloquearam uma estrada, ação repetida em Nariño, onde os indígenas se uniram aos agricultores e aos caminhoneiros, que protestam contra o alto preço da gasolina. Em todo o país, 250 mil caminhoneiros entraram em greve.

As primeiras declarações oficiais sobre a paralização foram do ministro do Interior, Fernando Carrillo, que ressaltou o caráter pacífico das manifestações, exceto um “número limitado” de enfrentamentos e que 20 mil policiais estão mobilizados “para garantir a ordem”.

Denúncias

No entanto, os manifestantes falam de uma série de acontecimentos preocupantes no primeiro dia de mobilizações e nos dias anteriores. De acordo com eles, ônibus foram interceptados e grevistas detidos, além terem sido registradas agressões, detenções e feridos.

Também relataram perseguição contra líderes das organizações, com recompensas pela entrega de alguns e até ameaças de morte. A situação é particularmente grave na cidade mineira de Segovia, no departamento de Antioquia, onde mineiros e camponeses foram reprimidos com armas de fogo.

Jornalistas da mídia alternativa relataram dificuldade para cobrir a greve. Segundo alguns, os principais veículos de comunicação têm prioridade e privilégio em algumas localidades do país. Meios alternativos se reuniram na Aliança de Meios e Jornalistas para a Paz com a intenção de juntar esforços e conseguir reportar da forma mais completa os acontecimentos.

Santos

No começo da noite, Santos comentou a greve dizendo que a adesão foi baixa, em comparação com o que era esperado. Ele disse que devem haver outras mobilizações e agradeceu aos colombianos que, “se comunicando com as autoridades, facilitam a intervenção da polícia para manter a ordem nas estradas.”

A tendência da paralização é crescer. Nesta terça-feira (20/08) se juntam ao protesto funcionários da saúde, e nos próximos dias, estudantes e professores, sem contar manifestantes que se simpatizam com a causa. Saúde e educação protestam contra a privatização dos setores na Colômbia.

Já os camponeses reclamam do abandono no qual vivem, o descumprimento de acordos por parte do governo, a erradicação do cultivo da coca – sem um plano de substituição – e os efeitos dos tratados de livre comércio com outros países.

Enquanto isso, em Cuba, o chefe negociador das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Iván Márquez, pediu que “não se criminalize o direito ao protesto” e também propôs que os TLCs sejam revisados. A guerrilha, que negocia o fim do conflito com o governo em Havana, enviou uma saudação “aos estudantes, trabalhadores da saúde, produtores de flores, de arroz, de leite e a todos os que hoje levantam sua voz contra a injustiça.”