Cartolinas erguidas

Nivaldo Santana falou em seguida e iniciou afirmando que os movimentos de junho foram positivos porque tiveram um aspecto pedagógico. Serviram  para mostrar que o povo na rua é o principal motor das mudanças. Deve-se considerar também a inteligência política das forças do campo da esquerda para compreender que esses movimentos abriram uma espécie de caixa de Pandora — até forças que vivem no subterrâneo da política procuraram interferir no seu desdobramento.

Uma particularidade importante do movimento de junho, segundo Nivaldo Santana, é que ele teve presença predominante de jovens estudantes. E a presença organizada dos trabalhadores foi bastante periférica. Um elemento importante disso é que nas cartolinas erguidas de norte a sul do país a chamada agenda dos trabalhadores não compôs a lista de reivindicações, disse ele. Para Nivaldo Santana, a agenda das manifestações teve a particularidade de privilegiar a mobilidade urbana, a saúde, a educação e uma crítica ao sistema político brasileiro.

Conjunto de fatores

Segundo ele, as cartolinas expressaram também um demonstrativo de que os trabalhadores não tiveram uma participação organizada e protagonista, uma realidade que deve ser analisada de forma tranquila por se tratar de um fenômeno político da juventude, com uma pauta mais difusa e sem uma direção mais clara.

Esse dado difere as manifestações de junho de outros grandes movimentos de massa que ocorreram no Brasil, como as “Diretas já”!, o “Fora, Collor!” e outros. Também não podem ser comparadas à “Primavera Árabe”, aos indignados da Espanha ou ao Occupy Wall Street. Segundo Nivaldo Santana, no Brasil houve um conjunto de fatores que interferiu e provocou a grande explosão popular. Esse acirramento da luta política no país leva a uma disputa de rumos, analisou. Dar um sentido progressista ao movimento e atuar de forma mais organizada e unitária, com uma agenda mais clara, é o desafio que precisa ser enfrentado, avaliou.