Um Nobel para finger que, de noite, todos os economistas são cinzentos
Um deles (Hansen) destacou-se no domínio dos métodos estatísticos. Outro (Shiller) na análise das perturbações de expectativas e na crítica aos métodos da economia tradicional na análise dos mercados financeiros. O terceiro (Fama) é o maior expoente desses mesmos métodos tradicionais e canónicos de análise dos mercados financeiros.
Fama é o criador da “teoria dos mercados eficientes” que supõe as condições em que os mercados processam de forma ótima a informação disponível e portanto determinam os preços mais eficientes. Tudo corre bem neste mundo maravilhoso do Dr. Pangloss. Ora, não só esta teoria não se pode testar, como é puramente ideológica e auto-justificativa, pois não corresponde à experiência da vida real. O colapso dos mercados financeiros com a crise do subprime no verão de 2007 tornou-se aliás um impedimento para a entrega do Prémio a Fama, que teve de esperar até agora um prémio que há muito estava dirigido para salientar os seus trabalhos e a forma como se tornou um guru do sistema financeiro.
A história anterior de dois premiados pelo Nobel em 1997, Merton e Scholes, que depois de galardoados tiveram de sofrer a vergonha da falência da sua empresa de fundos especulativos, a LTCM, logo em 1998, demonstra como o entusiasmo com os ideólogos dos mercados é arriscado.
Essa incapacidade da teoria dominante em explicar a crise financeira foi discutida por um dos livros recentes de Shiller, o outro galardoado de hoje. “Espíritos Animais”, o livro escrito com Akerlof (outro prémio Nobel), demonstra claramente os erros da teoria canónica e a sua incapacidade em compreender as expectativas e as estratégias de vários dos agentes que atuam nos mercados financeiros e na vida económica em geral. Mas Fama não se preocupará certamente nem com esta crítica nem com a experiência da realidade. Afinal, já recebeu o Nobel. Hoje mesmo.
Francisco Louçã, dirigente do Bloco de Esquerda em Portugal, professor universitário.