O comunista Aldo Arantes, que foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) conta no livro sua trajetória política, abordando fatos históricos e marcantes da ditadura militar do Brasil. O debate reuniu grandes personalidades políticas como a deputada federal e líder da bancada do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali; Delaide Arantes, ministra do TST; o presidente estadual do PCdoB, João Batista Lemos; a secretária municipal de Políticas para as Mulheres do Rio, Ana Rocha; o presidente da UJS-RJ, Daniel Iliescu; entre outros.

O evento foi promovido pela Fundação Maurício Grabois (FMG), pelo Instituto João Goulart e pela Comissão Estadual da Verdade. O representante da FMG no Rio de Janeiro, Caíque Tibiriçá, convidou os debatedores, como o próprio Arantes; o advogado que teve um papel fundamental na defesa de presos políticos nos anos de chumbo, e que também foi preso, Modesto da Silveira; o cineasta, ex-dirigente do CPC da UNE e amigo pessoal de Aldo Arantes, Cacá Diegues; o ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, que também foi perseguido no regime militar, Haroldo Lima, e a representante da Comissão Estadual da Verdade, Nadine Borges.

O cerne do debate girou em torno das terríveis experiências da ditadura, destacando a importância do debate permanente na socidade, a investigação profunda, para que através desse resgate da memória do povo brasileiro, erros como os daqueles anos não se repitam nunca mais. Outro ponto crucial no debate, levantado por todos da mesa, foi a necessidade de se aprofundar a democracia, sobretudo através de uma Reforma Política que elimine o poder econômico da disputa eleitoral brasileira e que contribua para a democracia e a representatividade do povo brasileiro.

Aldo Arantes iniciou sua fala lembrando a história de quando João Goulart foi à sede da UNE, na Praia do Flamengo 132, agradecer o apoio crucial dos estudantes para sua posse, que dependeu de uma campanha nacional. Foi a primeira vez que um presidente da república entrava na sede da entidade máxima dos estudantes brasileiros.

Aldo relembrou fatos importantes da luta contra a ditadura, narrados em seu livro. O comunista ainda citou trechos do discurso de João Goulart, onde destacou frases importantes – ditas há mais de 50 anos – mas que ainda dizem muito sobre a atual conjuntura política, como: “A democracia que eles querem, é a democracia que quer acabar com a Petrobrás”.

Aldo também afirmou que no fim de seu livro promove reflexões sobre o momento presente, para além das memórias da ditadura. “Hoje temos uma ofensiva dos setores conservadores contra a situação em que o Brasil vive. A vitória de Lula e agora da presidenta Dilma colocou o Brasil emoutro patamar, mas nós ainda temos grandes problemas estruturais (…) Já sabemos que não é mais possível avançar sem reformar, não podemos acreditar que essa estrutura ultrapassada irá realizar milagre (…)”, afirmou, destacando a importância de uma reforma política que afaste o poder econômico das eleições brasileiras.

“Ninguém deixa de reconhecer que o governo de Lula e Dilma virou um página da história do Brasil, mas ninguém deixou de ir às ruas por isso. O desenvolvimento do Brasil chegou a um obstáculo e para superar isso são necessárias transformações, reformas. Isso significa mais Estado, embora a lógica que os setores conservadores estão tentando impor hoje é a redução do papel do Estado e privatizações. As reformas são fundamentais para o futuro da nação, mas temos um gargalo, uma crise de representação. O Congresso Nacional não está identificado com os anseios da sociedade. Se não tivermos uma reforma política, não iremos avançar. A reforma política é a mãe de todas as reformas.Hoje, nós formamos uma coalizão em torno dessa luta e chegamos a conclusão que temos que ir para as ruas, colocar nas ruas esse debate. A questão mais importante é justamente a que versa sobre o financiamento de campanha por empresa. Na nossa opinião, essa é a questão estruturante mais grave, porque o poder do dinheiro mantém o parlamento distanciado da sociedade, e essa é a causa da crise de representatividade”, destacou Aldo Arantes.

Na sequência, o cineasta Cacá Diegues teve a palavra, lembrou da amizade antiga com Aldo e salientou a dificuldade e o horror daqueles anos de ditadura:

“Eu e Aldo somos amigos desde a época da UNE, mas tivemos que nos distanciar, justamente porque a realidade da época não nos permitia (…) Naquele período nós fomos proibidos de pensar, retiraram da gente nossa matéria prima, nosso trabalho, que era a criação sobre a realidade brasileira. Era tudo muito horrível, muito cruel, era a beira do horror. Não podemos deixar isso nunca mais acontecer no país, isso nunca mais pode acontecer de novo”, afirmou Cacá Diegues.

O advogado Modesto da Silveira também falou no debate e fez questão de destacar:

“Nós não fomos presos, fomos sequestrados, uma prisão tem uma forma legal, deve ser formalizada. Eu fui apanhado em casa depois da meia noite, de maneira violenta. E nós, como advogados, ainda tínhamos um privilégio, por sermos advogados deram ordem para que não nos matassem (…) Essa luta que estamos travando, hoje, por verdade e memória é fundamental. Nós vamos e temos que recuperar e relembrar com detalhes para que nunca mais se repita (…) Nós precisamos ter um financiamento público de campanha senão jamais teremos uma democracia que permita um processo evolutivo humanístico”, apontou Modesto da Silveira.

Nadine Borges relembrou das reuniões que teve com Aldo, destacando o esforço no Grupo de Trabalho Araguaia – que participou com Aldo – na tentativa do resgate histórico em torno  das atrocidades cometidas pela ditadura militar contra os militantes revolucionários da Guerrilha do Araguaia:

“Montamos juntos o Grupo de Trabalho Araguaia e o Aldo sempre batia na tecla da operação limpeza realizada pelos militares depois da Guerrilha do Araguaia”, salientou Nadine, afirmando ter ouvido de um torturador da ditadura que o exército realmente realizou operações de limpeza na região, anos depois dos fatos tenebrosos do Araguaia.

Nadine ainda fez questão de sublinhar a importância da abertura dos arquivos da ditadura. “Precisamos lutar pela abertura dos arquivos da ditadura. Não há cabimento esses arquivos ainda estarem fechados no Brasil. Que a gente lute por essa abertura, isso não tem preço”.

Haroldo Lima, também lembrou fatos do lastimável período militar, mas fez questão de destacar os avanços conquistados recentemente e a necessidade de se construir uma reforma política. “O nosso povo há muitos anos só fazia perder. De repente, começamos a ganhar. Nesse período, de Lula pra cá, já ganhamos muita coisa, trouxemos 40 milhões de brasileiros para a sociedade brasileira (…) Precisamos de uma reforma política para que possamos criar um edifício com alicerces”, finalizou o ex diretor-geral da ANP.

“A grande vitória e emoção nossa é que depois de toda perseguição e tortura vocês estão aqui hoje vivos conosco e militando arduamente ao nosso lado”, foi como a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) expressou o sentimento sobre o evento. A deputada também apontou a necessidade das reformas para a democratuização efetiva do país. “Precisamos enfrentar duas grandes reformas, a reforma política e a reforma da mídia. A oligopolização da informação é muito danosa, é muito difícil pensar em um país que avança sem pensar na democratização da informação. Essas duas reformas são fundamentais (…) Temos que nos organizar para uma luta estruturante da sociedade brasileira”, salientou a líder dos comunistas na Câmara Federal.

Em entrevista, o presidente estadual do PCdoB-RJ, João Batista Lemos, salientou a importância histórica do livro de Aldo Arantes. “O livro de Aldo resgata uma história importante da luta do povo brasileiro, da classe operária, do movimento estudantil e das entidades revolucionárias no Brasil. Muito importante para resgatar a história, isso faz parte da formação  da consciência social do nosso povo e para que os novos militantes assumam essa continuidade com bastante sabedoria e bravura”, falou o líder comunista no Rio de Janeiro.

Ao final, Aldo Arantes teve novamente a palavra e, mais uma vez, lembrou a importância da mobilização em torno da luta pela Reforma Política, e informou que será realizada uma grande reunião, no dia 5 de maio, no Rio de Janeiro, para preparar um forte ato pela Reforma Política.

Na sequência, Aldo Arantes se posicionou para a sessão de autógrafos no relançamento de seu livro “Alma em Fogo, memórias de um militante político.