Dilma Rousseff não precisa receber esclarecimentos da construção naval – pois a fase rósea do setor começou com Lula, em 2003 e continuou com Dilma. Já Aécio Neves precisa de muitos dados, pois, na era FHC, o dinheiro do Fundo de Marinha Mercante (FMM) era sugado, para pagar juros. Hoje, ao contrário, o Tesouro fortalece o fundo, com novos créditos. Com FHC, a Transpetro lançou o programa Navega Brasil que, por não encomendar sequer um navio no mercado interno, foi chamado de “Naufraga Brasil”. Agora, a Transpetro tem 46 navios contratados. A carteira dos estaleiros é de 381 obras, o que inclui 16 plataformas e 29 navios-sonda, com 81.811 empregados diretos.

O Sindicato Nacional da Construção Naval (Sinaval) fez um documento aos presidenciáveis dirigido também a Marina Silva – que declarou ser a favor da abertura da indústria, mas que anda se desmentindo a todo momento, sobre energia nuclear, pré-sal e outros temas. No estudo, o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, lembra que, segundo a Agência Internacional de Energia, em 2040, as fontes renováveis representarão 7% do consumo mundial, e o petróleo, embora politicamente incorreto, ainda significará 75% da energia do mundo. Isso significa demanda por plataformas, navios-sonda, barcos de apoio e navios de petróleo.

Em barcos de apoio, são 87 contratados e 61 em construção. Quanto a plataformas, até 2030 serão necessárias mais 41 unidades. Será que algum novo presidente terá a coragem de fazer com que gerem empregos na China, Coréia e Cingapura? A Petrobras, mesmo com política nacionalista, mantém 60 plataformas afretadas, pagando aluguel a estrangeiros. Em termos regionais, vai ser difícil Marina ou Aécio tentarem dissolver a indústria. Se antes o setor era concentrado no Rio, hoje há pólos na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, fora as indústrias do Norte – especializadas em barcos menores. Somente em submarinos, as cinco obras representam encomendas de R$ 23 bilhões – inclusive, um com propulsão nuclear. Quem irá parar essa obras, prejudicando o país?

No mundo, há 87 mil navios, e a frota brasileira é irrelevante: 310 unidades. Assim, há um mercado em potencial, com expansão da cabotagem e volta do país às rotas externas. Isso é mais importante porque o crescimento da China favorece o Pacífico, deixando o Brasil, ligado ao Atlântico, ainda mais isolado dos grandes mercados, conforme alerta do órgão da ONU para comércio, a Unctad. O comércio mundial opera 10 bilhões de toneladas, esperando-se crescimento de 50% até 2024.

O comércio marítimo corre o risco de ficar ainda mais em mãos de gigantes. Com 453 navios, a dinamarquesa Maersk tem 13,4% da frota mundial; a suíça MSC – 398 navios – tem 12,9% e a francesa CMA CGM – frota de 288 embarcações – concentra 7,2%. Em quarto lugar, está a chinesa Cosco, ainda com 155 navios e 4,5% do mercado de navios porta-containeres, mas almejando melhor situação. Sétima economia do mundo, o Brasil tem frota inexpressiva.

O estudo mostra que os estaleiros são carentes de melhor gestão e ainda importam itens como motor principal, sistema de navegação e comunicação por rádio e satélite. Mas a saída melhor é investir para suprir as carências, em vez de apenas jogar a toalha em favor dos ávidos concorrentes estrangeiros. Diz o documento: “Os países hoje líderes na construção naval e offshore levaram décadas para alcançar a posição que ocupam. Nossa indústria levou uma década para sair da estagnação. Hoje somos reconhecidos como indústria naval relevante.”

O documento pede a manutenção do conteúdo local, que não sejam tirados recursos do FMM para pagar juros, aperfeiçoamento do Fundo de Garantia da Construção Naval (FGCN) e ampliação dos recursos para ciência e tecnologia. Democraticamente, o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) levará aos presidenciáveis posição contrária, em favor da revisão do que considera rigidez do conteúdo local. As empresas que exploram petróleo preferem ter a liberdade para importar equipamentos.

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Fonte: Monitor Mercantil