JOÃO AMAZONAS E MAURÍCIO GRABOISPUBLICADO EM 04.02.2015

Publicado no jornal A Classe Operária, n.º 40, de abril de 1970; e editado no livro Pela liberdade e pela democracia popular, São Paulo: Anita Garibaldi, 1982, com a seguinte apresentação: “Decorridos quase doze anos de sua publicação, conserva o mesmo interesse da época em que foi escrito. Seu conteúdo corresponde plenamente ao momento atual, quando se realiza intensa luta ideológica no movimento operário e comunista em defesa dos ideais revolucionários, contra o revisionismo e toda espécie de oportunismo, contra os mitos criados nestas últimas décadas.

O nome de Vladimir Ilitch Lênin, um dos maiores gênios da Humanidade, domina toda uma época da história universal. Desde a última década do século passado até os dias de hoje, suas idéias imortais iluminam a árdua caminhada dos povos em busca da completa libertação. Foi o dirigente da Grande Revolução de Outubro que descortinou novas e brilhantes perspectivas para os explorados e oprimidos, assinalando o início da derrocada final do capitalismo. A concepção marxista revolucionária, à qual ligou definitivamente seu nome, apodera-se mais e mais das massas e se transforma em força invencível que, como avalanche, leva de roldão tudo o que é retrógrado e obscurantista. Por isso mesmo, em todos os continentes, os trabalhadores e as forças populares comemoram entusiasticamente, neste mês, seu centenário de nascimento. Tal comemoração se verifica num momento em que se estende, em vasta escala, a rebelião das massas contra os opressores e quando boa parte da população do Globo luta pelo socialismo. As idéias de Lênin afirmaram-se de maneira irresistível, foram comprovadas na vida e na sua justeza e triunfaram plenamente.

Os revisionistas soviéticos fazem grande alarde a propósito do centenário de Lênin. Realizam pomposas conferências, suntuosos atos comemorativos e reuniões solenes. E, não satisfeitos com mobilizar seus apaniguados em todos os países, chegam à infâmia de propor despudoradamente que a ONU, na qual dominam os Estados Unidos, celebre também esse centenário. Incorporam, assim, os imperialistas ianques às festividades por eles promovidas. Toda essa febril agitação visa a dar uma imagem deturpada de Lênin. Objetivam os revisionistas embair a opinião pública e utilizar cinicamente o prestígio do fundador do bolchevismo para fins social-imperialistas e contra-revolucionários. Comportam-se como os filisteus burgueses aos quais Lênin causticou ao afirmar que as classes opressoras, depois da morte dos grandes revolucionários, “tentam convertê-los em santos inofensivos, canonizá-los, por assim dizer, cercar seus nomes de uma certa auréola de glória para ‘consolar’ e enganar as classes oprimidas, castrando o conteúdo de sua doutrina revolucionária, cegando o seu gume revolucionário, envilecendo-a”.

O Partido Comunista do Brasil registra esse 100º aniversário expressando sua profunda admiração por esse inesquecível guia do proletariado mundial e seu reconhecimento pela imensa contribuição que Lênin deu à causa dos trabalhadores. Esforçando-se por se tornar verdadeiros discípulos de Lênin, os comunistas brasileiros procuram assimilar suas idéias e agir em consonância com elas. Buscam nas cristalinas fontes do leninismo lições e estímulo para orientar-se com acerto na complexa luta do povo por sua emancipação. Toda vez que assim têm procedido, alcançam importantes êxitos. Os ensinamentos de Lênin sobre o Partido, a luta ideológica, o papel das massas, a violência revolucionária e o internacionalismo, entre inúmeros outros, constituem, hoje, poderosos meios nas mãos dos revolucionários. Ajudaram os comunistas brasileiros, nos anos difíceis da maré montante do revisionismo que avassalava o movimento operário, a defender o Partido do proletariado, a manter-se nas posições marxistas-leninistas e a traçar uma orientação correta.

Precisamente por permanecer fiéis às idéias de Lênin sobre o Partido, os comunistas brasileiros reorganizaram, em 1962, o Partido Comunista do Brasil. O criador do primeiro Estado Socialista considerava o Partido como o instrumento fundamental da revolução. À tarefa de construir a vanguarda da classe operária dedicou o melhor de seus esforços. Empenhou-se na edificação de um partido de novo tipo – bem diferente dos antigos partidos social-democratas – efetivamente revolucionário por sua teoria e sua prática. Essa organização teria de ser coesa e disciplinada, constituída por revolucionários conseqüentes, homens e mulheres provados, capaz de enfrentar os mais tempestuosos choques de classes. Queria um partido para os combates mais encarniçados, que não temesse as dificuldades, não perdesse o rumo nem com os êxitos nem com os fracassos. Forjou, assim, o Partido Bolchevique, principal artífice da Revolução Proletária e da construção socialista na União Soviética. Propugnando uma indestrutível unidade no Partido, opunha-se por todos os modos à coexistência nas fileiras partidárias de revolucionários e oportunistas. Preconizava a ruptura orgânica, radical, com os partidos que se desviavam do verdadeiro caminho da revolução. Quando, no curso da I Guerra Mundial, os dirigentes dos partidos da II Internacional traíram os interesses fundamentais dos trabalhadores, Lênin não hesitou em desmascará-los e em indicar a necessidade da formação de novos partidos que pudessem desempenhar efetivamente as funções de vanguarda do proletariado. Agora, quando os entrechoques de classes se tornam mais agudos e se evidencia mais claramente a traição revisionista, a concepção de Lênin sobre o Partido adquire maior oportunidade.

Alicerçados nessa concepção, os comunistas brasileiros romperam com os revisionistas que renegaram o marxismo e conduziram o movimento operário do país à capitulação diante da burguesia. Desde 1957, sob a influência direta do XX Congresso do PCUS, afloravam no Partido sérias tendências oportunistas que o levaram a transformar-se num partido social-democrata. A linha política aprovada em março de 1958 e as decisões do V Congresso, em 1960, que se afastavam do marxismo-leninismo, acabaram por liquidar o Partido da classe operária. Simultaneamente a essa traição dos revisionistas, proliferavam também teses liquidacionistas que negavam a necessidade do Partido e defendiam a formação de agrupamentos pequeno-burgueses. Imbuídos do preceito leninista de que a classe operária não possui na luta contra seus inimigos outra arma se não a organização baseada nos princípios, os comunistas convocaram e realizaram a Conferência Nacional Extraordinária de fevereiro de 1962 e separaram-se definitivamente dos oportunistas dirigidos por Prestes. Os sucessos alcançados pelo PC do Brasil, após sua reorganização, vieram comprovar, uma vez mais, a justeza dos fundamentos leninistas sobre o Partido. Na presente situação, mais do que em qualquer outro período, o povo brasileiro necessita de um partido leninista. Sem um partido desse tipo é impossível unir as grandes massas e as forças patrióticas para derrubar a ditadura e liquidar o regime reacionário de latifundiários e grandes capitalistas ligados aos imperialistas norte-americanos. Construir tal partido vem sendo a preocupação básica do Comitê Central desde 1962. Ainda em sua última reunião de dezembro de 1969, as questões levantadas no Capítulo III do documento aprovado visam, exatamente, a superar deficiências que se apresentam e a elevar a combatividade do Partido a fim de que se coloque à altura das tarefas que lhe cabe realizar.

Também no que se refere à luta contra as idéias estranhas, os comunistas brasileiros inspiraram-se em Lênin. Este emérito teórico marxista jamais deu tréguas ao oportunismo de todos os matizes. Era inimigo acérrimo do revisionismo e dos fariseus da social-democracia. Em carta a Inês Armand, revelou o quanto era atacado pelos oportunistas e salientou que a luta contra ele fora uma constante em sua existência: “Ei-lo, o meu destino. Uma campanha após outra, contra a estupidez e o primarismo dos políticos, contra o oportunismo etc. Isto, desde 1893. E o ódio com o qual essas pessoas mesquinhas me gratificam. Entretanto, não trocaria esse destino por uma ‘paz’ com esses mesquinhos personagens”. Em nenhum momento conciliou com os tergiversadores do marxismo ou com os falsos doutrinadores revolucionários. Desde os populistas russos até Kautsky, assim como os oportunistas de direita e de “esquerda” nos primeiros anos da Revolução de Outubro – todos foram energicamente combatidos por Lênin. Destacava ao máximo a importância da luta ideológica como uma das formas da luta de classes. Não deixou sem resposta nenhuma tese ou opinião errônea, dentro e fora da Rússia, que circulasse no movimento operário. Tinha em conta que as concepções contrárias aos interesses do proletariado, difundidas sem contestação, mesmo em âmbito estreito, podem causar prejuízos e transformar-se em entraves de maior envergadura. Por isso mesmo, sua vasta obra está impregnada de espírito polêmico e criador, é uma defesa admirável dos princípios do marxismo. Em todos os campos de atividade, nos mais intrincados problemas da política e da filosofia, da arte e da literatura, da ciência e da economia ou da construção do socialismo, Lênin interveio para rechaçar as idéias e teorias falsas.

Sustentando a bandeira do leninismo, os comunistas brasileiros têm se preocupado em rebater as idéias estranhas ao marxismo, tendo como alvo principal o revisionismo contemporâneo. Travaram intensa luta ideológica, sem precedentes no movimento operário do país, contra a linha adotada por Prestes, linha decalcada nas teses do XX Congresso do PCUS. E isso numa situação em que os revisionistas contemporâneos não estavam ainda suficientemente desmascarados no plano mundial. Não temeram romper com a organização que enveredara pelo caminho da traição. Essa luta alcançou significativos êxitos. Os partidários de Prestes apareceram com sua verdadeira fisionomia de reformistas, seguidores da burguesia, e perderam, em conseqüência desse desmascaramento, grande parte da influência que exerciam sobre as massas. As teses errôneas de Kruschev, aceitas sem restrições pelos dirigentes prestistas, encontraram firme oposição dos militantes que se mantiveram leais à concepção leninista. Ao combater essas teses, numa luta de princípios difícil e complexa, não só puseram a nu o conteúdo falso das lucubrações revisionistas, como também conseguiram elaborar uma orientação correta sobre importantes questões da revolução brasileira.

O Partido Comunista do Brasil, depois de sua reorganização, travou luta ideológica não apenas contra o revisionismo, mas também, contra outras tendências adversas que surgiram no movimento revolucionário, como o trotsquismo e o “foquismo”. Os trotsquistas, aproveitando-se da guinada para a direita realizada pelo partido de Prestes, tratavam de reorganizar suas forças, já de há muito desmanteladas, e de aparecer como verdadeiros marxistas. Os leninistas não se deixaram levar pelas manobras trotsquistas e revelaram a catadura contra-revolucionária desses agentes do inimigo. Posteriormente, na Carta Aberta, rebateram opiniões erradas de Fidel Castro e condenaram sua integração cada vez maior aos revisionistas soviéticos. Mais tarde, mostraram a essência pequeno-burguesa e prejudicial do “foquismo” que se difundia no Brasil e na América Latina.

Assim, os comunistas brasileiros, nestes anos de reorganização do Partido, não deixaram de responder e de atacar as concepções opostas ao marxismo-leninismo. Esta luta ainda prossegue e está longe de chegar a seu termo. O PC do Brasil considera que, na presente situação, o legado de Lênin exige dos autênticos revolucionários o combate sem descanso às idéias errôneas que vêm sendo veiculadas no movimento operário e popular e que objetivam desviá-lo do seu verdadeiro leito. Esse legado impõe aos comunistas do Brasil aprofundar mais o conhecimento da realidade do país e da teoria revolucionária para refutar, no terreno das idéias, o que é nocivo à luta do povo, seja qual for a sua origem.

Igualmente, no que concerne ao caminho da revolução brasileira, os comunistas basearam-se no leninismo. O emprego da violência revolucionária das massas constitui um dos aspectos fundamentais da obra e da ação prática do grande estrategista e tático do proletariado. Em seu livro O Estado e a Revolução, ele fundamentou amplamente, seguindo os postulados de Marx e Engels, a necessidade da violência como força transformadora da sociedade e demonstrou ser impossível à classe operária conquistar o poder pela via pacífica. “A substituição do Estado burguês pelo Estado proletário – disse – é impossível sem uma revolução violenta”. Por isso mesmo, foi intransigente na repulsa aos defensores do caminho parlamentar, que negavam a luta armada para levar a cabo a revolução. Lênin mostrava que o exército permanente e a polícia são instrumentos fundamentais do poder do Estado, a principal arma de repressão das massas populares por parte das forças reacionárias. Afirmava que sem destruir tais instrumentos não se dará a libertação dos explorados e oprimidos.

Norteando-se por essas indicações básicas, os comunistas no Brasil, em 1960, opuseram-se, de modo tenaz, às teses apresentadas e aprovadas no V Congresso do Partido. Justamente a defesa do caminho revolucionário, da luta armada, foi o centro dos debates então travados entre os marxistas-leninistas e os revisionistas de Prestes. Durante o governo de Goulart, a política do desenvolvimento pacífico, seguida pelo partido prestista e por outras correntes, estendeu-se e ganhou muitos setores da população. Na aparência, a situação parecia indicar que a via pacífica acabaria vingando no país. Mas o PC do Brasil, estribado na teoria de Lênin e numa análise realista da vida política brasileira, não cessou de desmascarar essa solução, demonstrando toda a sua falsidade. Tendo em conta a experiência histórica dos povos, afirmou repetidas vezes ser necessário preparar a ação armada porque as forças reacionárias não se entregariam sem resistência e terminariam por contra-atacar para derrotar as forças populares. Isto foi o que, de fato, ocorreu com o golpe militar de abril de 1964. Hoje, mais do que antes, a luta armada é uma necessidade vital para o povo brasileiro, questão decisiva, de salvação nacional. Sem empunhar armas e fazer a guerra popular, não se poderá pôr fim a uma ditadura terrorista como a que impera no país. Os militares no Poder cerraram as menores brechas à atividade democrática e estão em guerra aberta contra o povo. As forças revolucionárias outra saída não têm se não a de se preparar intensamente para enfrentar seu piores inimigos através da violência; derrotar as Forças Armadas; destroçar a máquina do atual Estado policial-militar; e instaurar um Poder popular revolucionário.

O pensamento de Lênin sobre o papel do Partido e das massas impregna a orientação do PC do Brasil. Vladimir Ilitch foi ardente partidário da mobilização, organização e educação das massas. Já em seu combate aos populistas, nos primórdios do movimento social-democrata russo, em fins do século passado, denunciou vigorosamente a falsa teoria dos heróis “ativos” e das multidões “passivas”. Via a revolução como obra de milhões de pessoas, sob a direção do Partido. “As melhores vanguardas exprimem – disse em abril de 1920 – a consciência, a vontade, a paixão e a imaginação de dezenas de milhares de homens, enquanto que a revolução é feita em momentos de exaltação e tensão especiais de todas as faculdades humanas, pela consciência, vontade, paixão e imaginação de dezenas de milhões de homens impulsionados pela mais aguda luta de classes”. Toda orientação que não visasse a ganhar as massas para a idéia revolucionária era por ele repelida com energia. Foi impiedoso com os “esquerdistas” que não levavam em consideração o nível de consciência dos trabalhadores e procuravam evitar o difícil trabalho para incorporá-los à revolução. Foi também adversário irreconciliável do seguidismo, da prosternação diante do movimento espontâneo das massas. Rebateu a tese dos oportunistas da II Internacional, que dizia ser impossível a revolução sem que toda a classe operária estivesse nas fileiras do movimento revolucionário. Ridicularizando essa tese, mostrava que nem mesmo os sindicatos, no regime capitalista, conseguem agrupar todo o proletariado. Destacou com ênfase o papel de vanguarda do Partido e o exemplo pessoal dos comunistas com o fim de despertar e mobilizar os trabalhadores. Exaltou muitas vezes a iniciativa revolucionária e estimulou sempre as ações combativas. Para ele, o Partido devia estar à frente das massas e, ao mesmo tempo, indissoluvelmente ligado a elas.

Conquistar as forças populares para a luta revolucionária, levá-las à ação contra a ditadura tem merecido atenção especial dos comunistas brasileiros. A linha política traçada na VI Conferência Nacional Extraordinária tem em vista estreitar a ligação do Partido com as massas e fazer avançar a revolução. Combatendo as correntes pequeno-burguesas, os comunistas voltaram sempre o gume de seu ataque às concepções que elas defendem de desprezo pelas massas. A orientação do Partido sobre a luta armada, exposta no documento Guerra Popular, Caminho da Luta Armada no Brasil, tem como viga-mestra a participação das grandes massas na luta libertadora. A mobilização dos vastos setores da população do campo e das cidades é uma garantia para livrar o país do jugo norte-americano e da reação interna. Ao mesmo tempo, o Partido, em diversos informes e resoluções, destaca a importância da iniciativa de luta dos comunistas. O exemplo pessoal, quando corresponde aos interesses e às aspirações do povo, pode desatar incalculáveis energias revolucionárias. A guerra popular, embora sendo em essência uma guerra das massas, começa de pequenas ações que se avolumam constantemente e que se orientam no sentido de trazer contingentes populares sempre maiores para a participação direta na luta. O Partido não deve ficar à espera do movimento espontâneo. Tem de tomar a iniciativa revolucionária no sentido de cumprir seu papel de vanguarda, uma vez que este não é desempenhado unicamente por uma linha acertada, mas também pela ação prática de todos os dias. Aos comunistas brasileiros cabe empenhar-se com mais decisão e constância no trabalho junto às massas. Nesse aspecto, há uma longa estrada a percorrer, na qual apenas foram dados os primeiros passos. Sem dúvida, o estudo e a assimilação das idéias de Lênin muito ajudarão a realizar essa tarefa fundamental.

O PC do Brasil tem tradições de internacionalismo proletário. Procurou sempre pautar sua conduta, neste terreno, pelo exemplo leninista. V. I. Lênin tinha elevado espírito internacionalista que constituía traço marcante de sua personalidade. Colocou sempre os interesses da revolução mundial acima de quaisquer injunções de caráter nacional. No período da I Grande Guerra, ergueu-se corajosamente contra o social chauvinismo dos partidos da II Internacional e lançou a orientação de que cabia à classe operária de cada país transformar a guerra imperialista em guerra civil contra a sua própria burguesia.

Ele indicou que “o internacionalismo proletário exige: 1) a subordinação dos interesses da luta proletária em um país aos interesses desta luta em escala mundial; 2) que a nação que triunfou sobre a burguesia seja capaz e esteja disposta a fazer os maiores sacrifícios nacionais em favor da derrubada do capital internacional”. Dedicou enorme atenção ao movimento comunista internacional, estimulou a criação de novos partidos operários marxistas em todo o mundo. Ajudou, por todos os modos, os partidos e grupos marxistas que se desprendiam dos velhos partidos oportunistas, independente de que fossem débeis ou fortes. Nesses partidos e grupos via o futuro da revolução mundial. Como chefe incontestável do proletariado, opinava abertamente sobre a tática a seguir e criticava os erros e desvios que surgiam no processo de formação dos partidos. Não apenas pôs em relevo a podridão oportunista da II Internacional como também contribuiu decisivamente para o surgimento da Internacional Comunista que, nas décadas de 20 e 30, desempenhou missão de primeira ordem no movimento operário revolucionário mundial.

O internacionalismo proletário foi um dos motivos que levaram os comunistas brasileiros à ruptura com os revisionistas de Prestes. Estes, sob o pretexto de conseguir a legalidade, haviam retirado dos estatutos partidários a declaração expressa de que o Partido se regia pelos princípios do internacionalismo proletário. Continuando a velha tradição, o Partido, depois de sua reorganização, apoiou com firmeza a China Popular quando esta foi agredida pelos reacionários hindus e posteriormente deu apoio caloroso à Revolução Cultural Proletária, logo em seu início. (1) Colocou-se decididamente ao lado da República Popular da Albânia na ocasião em que os revisionistas soviéticos realizavam contra a mesma infame campanha de mentiras e calúnias. Manifestou sua total solidariedade ao povo vietnamita em luta contra os invasores norte-americanos. Solidarizou-se com o povo tchecoslovaco, vítima de pérfida agressão por parte de tropas soviéticas e do Pacto de Varsóvia. Nestes oito anos de sua reorganização, o Partido tem procurado estreitar seus laços de amizade com o PC da China, com o Partido de Trabalho da Albânia e com todos os partidos verdadeiramente marxistas-leninistas. (2) Coerente com a sua posição internacionalista, o Partido sempre defendeu a opinião de que se faz indispensável maior aproximação entre os partidos marxistas-leninistas, a troca de informações e o intercâmbio de experiências entre eles, o debate das questões comuns ao movimento comunista mundial, a ajuda em todos os terrenos e o apoio mútuo – tudo isso visando ao reforçamento da luta contra o imperialismo norte-americano e os revisionistas soviéticos. Sempre considerou que o movimento comunista jamais pode encerrar-se nos mesquinhos limites do nacionalismo. Seria extremamente pernicioso se a atividade de cada partido ficasse circunscrita às fronteiras nacionais e se cada um deles se desinteressasse pelo que ocorre com os demais.

Para os comunistas brasileiros, o centenário do nascimento de V. I. Lênin é motivo não somente para destacar a ajuda inestimável que prestou ao movimento comunista. É também uma oportunidade para reverenciar a memória desse profundo pensador revolucionário e ressaltar a grandiosidade de sua obra e a atualidade de sua doutrina. Lênin abriu caminhos novos, enriqueceu imensamente o marxismo. Vivendo uma nova época, a época do imperialismo e das revoluções proletárias, que ainda hoje perdura, fundamentou as principais questões atinentes à luta dos povos neste período da história da Humanidade. Fez ressurgir, como disse Stálin com justeza, a essência revolucionária do marxismo que havia sido desfigurada pelos oportunistas da II Internacional. Presentemente, quando os revisionistas contemporâneos tudo fazem objetivando abastardar o pensamento de Lênin, retirando-lhe o conteúdo crítico e revolucionário, deturpando seu sentido proletário de classe, é dever de todos os verdadeiros marxistas salientar com veemência o caráter eminentemente revolucionário de seu pensamento, afiada arma de transformação social. O leninismo representa uma grande bandeira a ser levada adiante por todos os que almejam o socialismo e o comunismo. É um manancial inesgotável de saber que amplia os horizontes de luta dos trabalhadores.

Revolucionário em toda plenitude, político notável, homem de ciência, pesquisador incansável, Lênin foi inimigo de todo dogmatismo e das idéias estereotipadas. Em sua opinião, Marx e Engels, fundadores do socialismo científico, tinham lançado as pedras angulares da extraordinária doutrina social do proletariado e aos seus discípulos cabia desenvolvê-la. O leninismo é precisamente um desenvolvimento genial do marxismo. O enriquecimento da teoria do proletariado, com a generalização de novas experiências, é uma imposição do progresso social e da marcha ascendente da ciência, uma exigência da luta revolucionária. É preciso levar sempre em conta o novo que surge e a complexidade dos fenômenos. “A história em geral – disse Lênin – e a das revoluções em particular é sempre mais rica de conteúdo, mais variada de forma e de aspectos, mais viva e mais ‘astuta’ do que imaginam os melhores partidos, as vanguardas mais conscientes das classes mais avançadas”. Onde a teoria se fossiliza e as idéias se petrificam, sem ter em consideração a vida em constante movimento e renovação, o marxismo perde totalmente sua feição revolucionária, degrada-se e transforma-se numa seita, numa concepção morta, sofre uma metamorfose, torna-se o seu oposto, isto é, o antimarxismo.

O espírito do leninismo exige, assim, uma aplicação viva e criadora das grandes idéias de Marx, Engels, Lênin e Stálin e de seus mais destacados discípulos. O marxismo-leninismo não se esgota, nem poderia esgotar-se com a contribuição de Lênin. Já se passaram 46 anos da morte deste inolvidável guia dos povos e o mundo sofreu profundas mutações. Apesar da Humanidade continuar vivendo a época do imperialismo e das revoluções proletárias, novos fenômenos sociais e políticos ocorreram, acelerou-se a crise geral do capitalismo e a revolução adquiriu novas dimensões. Tais fenômenos têm de ser interpretados à luz do marxismo-leninismo, e as soluções para os problemas da revolução demandam uma compreensão correta da realidade presente e de cada lugar, e a fidelidade aos princípios revolucionários. A aplicação mecânica da experiência de outros povos não poderá conduzir à vitória.
Os revisionistas soviéticos, para impingir seus contrabandos reacionários, proclamam-se leninistas e dizem pôr em prática o leninismo de forma criadora. Não passam, porém, de falsários políticos. Suas idéias nada têm em comum com Lênin, são a expressão máxima do antileninismo, uma réplica hodierna das velhas concepções que Lênin combateu incansavelmente durante toda a sua movimentada e prodigiosa vida. Os revisionistas contemporâneos são os mais furiosos inimigos do leninismo, os mais raivosos adversários do socialismo proletário. Brezhnev, Kossiguin, Sustov e seus comparsas transformaram, criminosamente, o Partido de Lênin numa organização fascista. Adotam orientação semelhante à profligada com indignação pelo criador do Partido Bolchevique com relação aos corifeus da II Internacional: socialistas de palavra e imperialistas de fato. Com a única diferença de que os social-imperialistas desmascarados por Lênin eram agentes da velha burguesia, enquanto os atuais social-imperialistas são expressão da nova burguesia que surgiu na URSS.

Outros, e não os revisionistas soviéticos, são os continuadores de Lênin. Entre estes, avulta a figura de Stálin que, empunhando o estandarte do leninismo, dirigiu a construção socialista na União Soviética e enriqueceu imensamente a doutrina do proletariado. Mao Tsetung abordou novos problemas da doutrina proletária. (3) Enver Hoxha, o grande dirigente do povo albanês, examinou em profundidade, e de modo original, muitas questões, tornando mais rico o tesouro do marxismo-leninismo. Outros discípulos de Lênin, em diferentes países, trazem ensinamentos, tanto na teoria quanto na prática, que impulsionam o desenvolvimento da invencível ciência social da classe operária.

O povo brasileiro, que vive uma situação em constante agravamento, comemora o 100º aniversário do nascimento de Lênin lutando contra as forças reacionárias internas e o imperialismo norte-americano. Essa luta reclama combatentes de elevada têmpera revolucionária. O estudo da obra e da vida de V. I. Lênin, em ligação com a prática, ajudará imensamente a forjar verdadeiros homens de vanguarda, lutadores inquebrantáveis da causa do povo e do socialismo. É da maior importância estudar Lênin, em particular O Estado e a Revolução; A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo; e O imperialismo, etapa superior do capitalismo.

A bandeira vermelha erguida por Lênin desde a sua juventude, a bandeira gloriosa de Marx e Engels, a mesma bandeira que Stálin defendeu com todas as energias, tremula vitoriosa em muitos países do Globo onde se trava a luta pelo socialismo. Tremula também nas mãos dos comunistas brasileiros, fiéis seguidores de Lênin.

Decorridos cem anos do seu nascimento, Lênin continua vivendo no coração dos povos e sua obra magistral servirá, através dos tempos, de inspiração e exemplo a todos os que almejam o nobre ideal da sociedade sem classes, sem opressão e exploração, o ideal do comunismo.

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A presente edição leva o nome dos autores deste artigo – João Amazonas e Maurício Grabois – então omitidos no n.º 40 de A Classe Operária