Para o economista, é verdade que no curto prazo traz mais prejuízos do que ganhos, mas no médio e longo prazos, se a taxa real de câmbio for mantida estável, previsível e competitiva, os efeitos sobre o crescimento econômico serão extremamente benéficos para o futuro bem-estar da população brasileira. “Aliás se não fosse a depreciação e a melhoria prevista no saldo das transações correntes para os próximos anos, a nossa situação seria dramática”, escreveu.
Segundo ele, se combinadas com outras políticas macroeconômicas consistentes, particularmente uma forte contração fiscal e redução na taxa de juros, a depreciação cambial lançaria uma luz no fim do túnel, fundamental para recompor a confiança, particularmente do empresariado do setor industrial. “Antes de mais nada é preciso frisar que a taxa real de câmbio deve ser, como foi já destacado, estável, previsível e competitiva”, afirmou.
O economista lembra que, por viver numa economia capitalista, o Brasil só terá investimento se houver o mínimo de previsibilidade, num horizonte longo, de que terá retorno razoável. “Daí a estabilidade da taxa real de câmbio ser tão ou mais importante do que o próprio nível no processo de crescimento. Fique também claro que este efeito só ocorre no longo prazo, pois a firma precisa antes certificar¬se de que a taxa será estável persistentemente, terá que adequar o seu projeto ao nível de taxa de câmbio e existe um intervalo relativamente longo entre a decisão de investir e o início da produção efetiva”, escreveu.
Nakano explica que a taxa de câmbio tem um efeito redistributivo ao reduzir o salário real da economia, pois eleva o preço dos tradables, aumenta a margem de lucro neste setor. “Ao aumentar os preços relativos reduz a sua absorção doméstica de bens tradables, ao mesmo tempo que promove a sua produção para exportação, desestimulando a sua importação. Desta forma, aumenta a poupança doméstica, isto é, melhora o saldo em transações correntes do país”, comentou.
Segundo ele, este mecanismo de transmissão da taxa real de câmbio para a taxa de crescimento da economia toma tempo, particularmente numa economia como a brasileira em que a taxa de câmbio é das mais voláteis e instáveis no mundo, portanto, os riscos são enormes. “A taxa real efetiva de câmbio tem variado mais de 100% entre os períodos de maior apreciação comparado aos períodos de maior depreciação”, analisou.
O economista explicou também que enquanto os efeitos de redução de salários ocorrem uma única vez, sempre que há mudança de preços relativos, os efeitos da depreciação câmbio sobre o crescimento econômico ocorrem no longo prazo e serão persistentes. “É bom lembrar também que este setor de tradables é o setor moderno e dinâmico da economia porque está inserido em parte da economia globalizada que é extremamente competitiva. É também o setor de retornos crescentes de escala e tecnologicamente mais dinâmico onde ocorrem aumentos sistemáticos de produtividade”, escreveu.
Ele também disse que certamente os economistas rigidamente ortodoxos consideram uma heresia estabelecer a taxa real de câmbio como um instrumento intermediário de política macroeconômica tendo como objetivo a aceleração do crescimento a longo prazo. “Para defender suas posições, estes economistas apelam para a trindade impossível. Com mobilidade de capital, para ter uma política monetária de meta de inflação, tendo como instrumento a taxa de juros, a taxa de câmbio tem que flutuar livremente”, explicou.
Nakano afirmou também que logicamente a trindade impossível é válida, mas deve ser tomada como restrições que a política macroeconômica tem que enfrentar. “Por que razão temos que tomar como dogma a livre mobilidade de capital. [?] Em certas circunstâncias em que há pressão inflacionária, o Banco Central pode elevar a taxa de juros, acima da internacional, e provocar variações cambiais. Mas a autoridade fiscal pode, nestes casos, estabelecer um imposto de equalização da taxa de juros. Aliás, originalmente o IOF foi criado com este objetivo.”
E finalizou dizendo que a taxa real de câmbio perseguida pela política precisa ser compatível com os outros objetivos convencionais de política macroeconômica: pleno emprego; equilíbrio do setor externo e inflação baixa. “Alcançar estes objetivos simultaneamente é o grande desafio para os economistas e requer uma coordenação rigorosa entre política fiscal, monetária e cambial, com instrumentos e metas bem definidas, bem como o desenho adequado de instituições”, concluiu.