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De Olho no Mundo

14 de junho de 2021
EUA x China: Vacinação coronavírus

A crescente tentativa dos Estados Unidos em tentar reduzir os avanços da China nas relações internacionais é um dos destaques na análise internacional da cientista política Ana Prestes desta segunda-feira (14). Outros temas também abordados são: a cúpula do G7, a volta do Brasil, como membro não permanente ao Conselho de Segurança da ONU, as eleições presidenciais no Peru, a troca de Benjamin Netanyahu por Naftali Bennett, em Israel, a visita da CIDH à Colômbia e o segundo turno das eleições para governador no Chile.

Em uma clara disputa com a China, sobre qual o país lidera os esforços para acabar com a pandemia do novo coronavírus, em sua visita à Europa, Biden anunciou a doação de 500 milhões de doses da vacina Pfizer para cerca de 100 países mais pobres do mundo. Até agora a China tem sido a maior exportadora de imunizantes e do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para o conjunto dos países do mundo. Biden esteve na Europa para participar da reunião do  G7, de uma cúpula da OTAN – ocorre nesta segunda-feira (14) – , bilaterais com EU e uma reunião com o presidente Vladimir Putin (ainda por ocorrer na quarta-feira em Genebra). Todos os encontros tiveram claras sinalizações anti-China. Biden tentou posicionar o G7 em uma rota de colisão contra a China, apontando para um plano que rivaliza com o projeto Cinturão e Rota, lançado em 2013 por Xi Jinping e que abrange mais de 100 países. Entre esses países está a Itália, por exemplo, que após a reunião do G7 já anunciou que revisará sua participação na cooperação em infraestrutura com o país asiático. A ofensiva estadunidense é feita com base nos instrumentos de sempre, colocaram na declaração final do G7 denúncias sobre violação de direitos humanos em Xinjiang, uma petição pela autonomia de Hong Kong, reforço à solidariedade a Taiwan e exigência de mais investigações sobre as origens do novo coronavírus. A declaração já é vista como a mais dura dos países ricos do ocidente contra a China em 30 anos, desde os eventos na Praça Tiananmen. A chancelaria chinesa reagiu chamando o grupo de manipulador e dizendo que um pequeno grupo de países não pode ditar as políticas globais. Segundo as autoridades chinesas, as declarações são feitas com base em “mentiras, rumores e acusações infundadas”. No editorial do Diário do Povo, jornal do PCChina, aparece o trecho: “muitas das principais potencias seguem dominadas por uma mentalidade imperial obsoleta depois de anos tratando de humilhar a China. Agora tudo mudou. Somos mais fortes e mostraremos competência. Mas não toleraremos as interferências em nossos assuntos internos”. Biden dá um passo a mais na ofensiva contra a China em relação ao que Trump vinha fazendo via guerra comercial. Biden quer unir EUA e Europa em uma disputa com uma defesa ideológica da ordem liberal.

Esta reunião do G7 foi a primeira presencial em quase 2 anos. O anfitrião da vez, o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, declarou o aquecimento global como prioridade da cúpula. Ao final do ano, o Reino Unido vai sediar a COP26, em Glasgow (Escócia). Outro tema do encontro foi o enfrentamento da pandemia, com a promessa de esforços para prevenir futuras crises sanitárias dessa magnitude e de doar 1 bilhão de vacinas contra a covid-19 para os países mais pobres, a partir do próximo mês de agosto. Não houve muito avanço na questão da quebra de patentes e restou uma declaração genérica de “importância da propriedade intelectual” e “impacto positivo do licenciamento voluntário e transferência de tecnologia” em alguns casos. Os cálculos são de que o mundo precisa de 11 bilhões de doses de vacinas e não de 1 bilhão e ainda sem quebra de patentes. Foi discutido também um plano que citei na Nota acima que rivaliza com o projeto Cinturão e Rota da China e que está sendo chamado de “Reconstruindo o mundo para melhor”. Houve ainda a formalização de um pedido do grupo para a OMS para um estudo sobre as “origens da covid-19”. Houve ainda um chamado à Rússia para que coloque fim em suas “atividades desestabilizadoras”. E ainda um projeto para tentar colocar 40 milhões de meninas em escolas ao redor do mundo em um projeto chamado Parceria Global para a Educação.

O Brasil volta a ter assento não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A eleição se deu na 75ª Assembleia Geral da ONU e o Brasil recebeu 181 votos. Esta é a 11ª vez que o Brasil ocupa esse posto. Historicamente nossa diplomacia luta por uma reforma do Conselho de Segurança e um assento permanente. Esse é o único órgão da ONU que pode adotar decisões que se tornam obrigatórias para todos os 193 Estados-membros, inclusive com autorização para intervenções militares. Sua composição é de 15 membros, sendo 5 permanentes (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) e 10 não permanentes (mandatos de 2 anos).

No Peru, a Oficina Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) ainda não pronunciou a eleição de Pedro Castillo como presidente eleito do país. Segundo um anúncio do órgão eleitoral, na última sexta (11), 100% das atas já haviam sido processadas, mas contabilizadas 99,5%. Atas processadas são aquelas que já tiveram seus votos computados, digitados e verificados, mas ainda não contabilizadas. A diferença entre os dois candidatos está em 60.398 votos. Enquanto isso, a campanha de Keiko Fujimori luta para impor um processo por fraude eleitoral. Um grupo de 60 Júris Eleitorais Especiais vai fazer a análise das reclamações e emitir uma decisão de primeira instância, que pode ser revista e confirmada pelo Júri Nacional Eleitoral. A campanha de Castillo também apresentou demanda de impugnação de algumas atas. Já os observadores eleitorais internacionais não sinalizaram para nenhum indício de fraude eleitoral no processo. A batalha se dá também no cenário internacional, enquanto os presidentes da Argentina e Bolívia cumprimentaram Castillo por sua vitória, 17 ex-presidentes latino-americanos pediram atenção às denúncias de Keiko. Mas ela também enfrenta de modo concomitante outra batalha com a justiça, depois que um procurador pediu sua prisão preventiva por romper normas às quais está submetida por se encontrar em liberdade condicional.

O ultranacionalista Naftali Bennett (à esq.) e o centrista Yair Lapid fecharam uma aliança para tirar o primeiro-ministro Benyamin Netanyau do poder, em Israel. AP – Ronen Zvulun

Em Israel, terminou a era Benjamin Netanyahu. Será a primeira vez em 12 anos que o país não terá sua participação no governo. O novo primeiro ministro agora é Naftali Bennett, líder do partido religioso de extrema direita Yamina, após decisão do parlamento israelense do domingo (13). Para destronar Netanyahu por 1 voto foi feita uma aliança de oito partidos, possibilitando que 60 dos 119 deputados presentes votassem por Bennett, que deve ficar no cargo até agosto de 2023, sendo substituído nos dois anos seguintes por Yair Lapid, líder do segundo maior partido israelense e considerado de centro, Yesh Atid. Apesar da muito comemorada queda de Netanyahu mundo afora, inclusive por setores da esquerda e apoiadores da causa palestina, há baixa expectativa sobre reais mudanças na condução da política israelense. Bennet construiu uma carreira com base no racismo e no ultranacionalismo, como membro da ala religiosa-sionista de seu partido. Em 2014 incitou o massacre contra os palestinos e foi seu o estímulo para que o exército israelense exterminasse cidadãos palestinos na operação “Margem Protetora”, inclusive com a morte de mães palestinas para que não gerassem filhos palestinos. Avigdor Lieberman, o partido Israel é Nosso Lar será o ministro das Finanças, de política neoliberal sem dúvida, a líder trabalhista Merav Michaeli será ministra dos Transportes e o líder do Meretz, Nitzan Horowitz ministro da Saúde. O ministro da defesa será Benny Gantz, ex-comandante do Exército e que tentou revezar o cargo de primeiro ministro com Netanyahu. Outras distribuições de cargos e revezamentos podem ser lidos no artigo da Moara Crivelente, publicado no Portal Vermelho.

Na Colômbia, terminou a visita da delegação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos CIDH, seguem os protestos e o impasse nas negociações com o governo Duque. Em Cali, que virou epicentro dos confrontos entre manifestantes e governo foi inaugurado neste final de semana um monumento gigante que é um braço erguido com uma mão segurando um letreiro escrito “Resiste”.

No Chile, neste domingo (13), houve segundo turno para a eleição de governadores regionais. Um cargo novo na estrutura governamental chilena que não é federativa. Somente 19,5% dos aptos a votar compareceram às urnas. Regiões como Antofagasta e Atacama tiveram 12% de participação, já para o governo da Região Metropolitana de Santiago foram 25,6%. Em três regiões a eleição foi decidida no primeiro turno: Valparaíso, Aysén e Magallanes. Das 13 regiões onde houve disputa para o segundo turno, 5 ficaram com candidatos independentes de partido, 4 ficaram com o PDC (democracia cristã – centro), 3 com o PS (partido socialista – centro) e uma com o Comunes (esquerda). Na eleição mais disputada, pela Região Metropolitana de Santiago, ganhou Claudio Orrego (PDC), da chapa Unidad Constituyente, com 52,6% contra Karina Oliva (Comunes), da chapa Frente Amplio, com 48,3%. A chapa governista Chile Vamos só venceu uma eleição, em La Araucanía.