Theófilo Rodrigues: Para não esquecermos da Revolta Comunista de 1935
Levante da Aliança Nacional Libertadora (ANL) teve início em 23 de novembro de 1935
Por Theófilo Rodrigues
Em 23 de novembro de 1935, há 88 anos, teve início o levante da Aliança Nacional Libertadora, também conhecido como a Revolta Comunista de 1935. Trata-se de uma das grandes aventuras da história do movimento comunista no Brasil, mas que muitas vezes é detratada ou invisibilizada.
Para entendermos o significado daquele levante é preciso compreendermos o seu contexto histórico. A década de 1930 ficou marcada pela ascensão do nazi-fascismo na Europa. Era o tempo de Mussolini na Itália, Salazar em Portugal e Hitler na Alemanha. Mas essa mesma década de 1930 estava também caracterizada pela ascensão socialista da União Soviética. Como o Brasil não é uma ilha, esses dois grandes movimentos históricos informaram decisivamente a ação política no contexto nacional.
Inspirados por essa emergência da direita no cenário internacional, os reacionários se organizaram em torno da Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado. Do outro lado, os comunistas brasileiros orientados pela URSS buscaram construir uma frente ampla contra o avanço do fascismo no país. Foi assim que nasceu, em 1934, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), sob a liderança de Luiz Carlos Prestes.
Não obstante a liderança de Prestes, a ANL não era composta apenas por comunistas. Dela também participaram o movimento tenentista, socialistas e mesmo liberais de esquerda. Era um movimento amplo de fato e que conquistava corações e mentes por todo o país.
Essa amplitude não era fruto de voluntarismo, mas sim da orientação do próprio movimento comunista internacional. Como se sabe, em agosto de 1935 Dimitrov apresentou o seu célebre informe no VII Congresso da III Internacional em que defendeu como tática “a criação de uma extensa frente popular antifascista”. Essa frente popular antifascista, dizia Dimitrov, deveria ser formada pela “aliança de luta do proletariado com os camponeses trabalhadores e com as massas mais importantes da pequena burguesia urbana”. Foi o que tentou fazer a ANL no Brasil.
Em razão do rápido crescimento da ANL e do discurso insurrecional de Prestes, não demorou para que o governo autoritário de Getúlio Vargas colocasse o movimento na clandestinidade. Esse foi o estopim para o levante que teve início em 23 de novembro de 1935 com uma rebelião de quartel em Natal (RN). Dois dias depois a revolta chegou em Recife (PE) com importante participação de Gregório Bezerra. Finalmente, foi a vez dos revolucionários iniciarem a revolta no Rio de Janeiro no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, no 2º Regimento de Infantaria e no Batalhão de Comunicações, na Vila Militar, e na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos. O governo Vargas, no entanto, rapidamente controlou a situação e pôs fim ao levante.
A Revolta de 1935 foi heroica, mas também foi um erro tático. Sobre esses erros, João Amazonas diz o seguinte:
“O plano de Prestes, idealista, calcado nas melhores intenções, era frágil e inconsequente. […] Prestes, na época, tinha uma visão puramente militar do movimento revolucionário, confiava acima de tudo no seu prestígio pessoal e na experiência da Coluna. Isso levava a uma compreensão sectária e voluntarista, que se manifestou repetidamente”.
Mas esses erros não significam que a Revolta Comunista de 1935 deva ser esquecida. Como também registrou Amazonas, “apesar dos erros, nosso Partido não condena as lutas heroicas daquela época”.
Vale lembrarmos das belas palavras escritas por Pedro Pomar sobre aquele evento:
“Os comunistas, ao cumprir o imprescritível dever de homenagear os aliancistas e camaradas que se sacrificaram para conter a ofensiva fascista, ressaltam o significado da iniciativa heróica, procuram extrair as lições da derrota, esforçam-se por empunhar com maior firmeza e acerto a bandeira vermelha da revolução. Hoje ainda mais convencidos de que, por longo e difícil que seja o caminho a trilhar, o futuro pertence ao povo. Ninguém poderá evitar seu triunfo”.
Veja abaixo entrevista em que Theófilo Rodrigues e Marly Vianna explicam o significado da Revolta Comunista de 1935:
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