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Minha biblioteca

15 de fevereiro de 2024

Biblioteca do Instituto Durval de Noronha Goyos Jr terá acervo com 17 mil volumes

Foi meu pai quem me apresentou às bibliotecas. Em São Paulo, morávamos na Rua Xavier de Toledo, esquina da Rua 7 de abril, a poucos passos da Biblioteca Mário de Andrade, à qual eu era levado por ele, desde os 3 anos, com o objetivo de desenvolver o hábito da leitura. Ao mesmo tempo, eu fui encorajado a formar a minha própria, com contos infantis e desenhos gráficos. Ao nos mudarmos para São José do Rio Preto, levado por meu pai, passei a frequentar a então modesta biblioteca municipal, todas as noites após o jantar, para ler as enciclopédias nas línguas inglesa e francesa. Ao completar10 anos, o meu presente de aniversário foi um dicionário Caldas Aulete, em 5 volumes, que tenho até hoje.

Assim, num certo sentido, as bibliotecas sempre foram uma extensão de meu lar. Em seus austeros ambientes redolentos de cultura, eu me sinto em casa. Na medida em que eu as frequentava, mundo afora, maior era a minha sede pelo saber, impulsionada pela leitura de seus acervos. Nelas pude satisfazer as minhas muitas curiosidades intelectuais, mas também aprender a respeitos das profissões que exerci. Com 15 anos, vali-me da biblioteca da FAFI, hoje IBILCE. Quando bolsista secundarista nos EUA, constatei que a excelente biblioteca da escola não mais atendia a minha demanda e passei a frequentar aquela universitária, da Hartford University, e anos após, as da PUC-SP e da University of California Hastings.

Assim, logo constatei que o mundo fascinante das bibliotecas é supranacional e verdadeiramente universal. Talvez seja esta a principal característica da instituição. A verdadeira biblioteca não discrimina. Ela não afasta e não exclui. Ao contrário, ao incluir, ela promove a diversidade e oferece uma riqueza de opções na promoção do conhecimento. Umberto Eco chegou mesmo a escrever que a biblioteca é o que há de mais semelhante à mente Divina, o que pode ser quase uma verdade. No mesmo sentido, Jorge Luis Borges observou que imaginava o paraíso como uma espécie de biblioteca. Eu também.

Nos meus anos de prata, resolvi unificar a minha biblioteca na minha chácara, Caaporanga, em Rio Preto, onde construí um edifício para acomoda-la com 300 m2, no que chamei de Instituto Durval de Noronha Goyos Jr. O meu acervo, consistente em cerca de 17 mil volumes, quantidade equivalente à de Lourenço de Medici, encontrava-se esparso mundo afora e está em fase final de reunião e catalogação. O prédio encontra-se situado em meio à pequena área de Mata Atlântica, que foi repristinada por minha família. Como escreveu Cícero: uma biblioteca e um jardim, é o que nos basta.

O meu acervo consiste em obras sobre história, sociologia, economia, filosofia, política, relações internacionais, linguística, literatura, teatro, ecologia, mapas e portulanos, saúde, religiões, além de direito internacional. AS obras estão escritas nas línguas portuguesa (32%); inglesa (32%); italiana (16%); latina; espanhola; francesa; chinesa; e outras (20%). Os meus livros raros, do século 16 ao 19, são cerca de 500 e incluem uma edição fac-simile da biblioteca de D. Manuel I, pela Cambridge University; alguns dos primeiros dicionários da língua inglesa; a primeira história do Brasil, de 1823; e o catálogo real espanhol de 1560. Por sua vez, os livros raros devido à singularidade chegam a 1.500.

Em breve, o catálogo da biblioteca do instituto que leva o meu nome será disponibilizado para consultas acadêmicas pela internet. Assim, espero prestar um serviço público que julgo importante.

Durval de Noronha Goyos Jr. é advogado, escritor, professor e jornalista. 

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