Povo na rua, uma boa-nova!
Eles, desde a República Velha, tratam os movimentos sociais como caso de polícia. Isto se repetiu no último 13 com a truculenta repressão da Polícia Militar (PM) de São Paulo contra o movimento pela redução da passagem no transporte coletivo. O governador Geraldo Alckmin elogiou o desempenho de seus comandados e qualificou os manifestantes de “baderneiros”. A presidenta Dilma Rousseff, hoje, dia 18, depois que milhares de pessoas, a maioria jovens, saíram às ruas e avenidas de várias cidades do país, disse: “ O Brasil acordou mais forte.” E considerou que as passeatas são florestas que brotam no chão de países onde reina a democracia.
Nos últimos dias, ruas e avenidas, largos e praças foram transformadas em rios de gente, de correnteza forte, como acontecem na época das tempestades . De onde provém essa benévola enchente? Mil teses já circulam por aí e, também, muita manipulação e veneno. A “nascente” vem de uma democracia que foi reconquistada em 1985 e depois sufocada nos anos 1990 por Fernando Henrique Cardoso. E, desde 2003, se alarga e se amplia com os governos de Lula e Dilma. Seria frustrante, e até motivo de preocupação, se “explosões” de participação como as que estão acontecendo não eclodissem no país depois das conquistas do último decênio.
Há mil reivindicações e outros tantos mil protestos escritos de improviso com pincel atômico em cartolinas de muitas cores. Fim da corrupção, mais escolas, melhor saúde, moradia, transporte. Transporte: o drama do povão que paga um preço alto para ser tratado como gado. As conquistas que o povo obteve nos últimos dez anos são importantes, mas numa década não se resolve as imensas injustiças e desigualdades que marcam a sociedade brasileira. E mais: as conquistas, embora que ainda insuficientes, abriram os olhos do povo. Por isto, ele ocupa as ruas para exigir, sem demora, mais e mais direitos. Acaso não é uma tragédia cotidiana a situação da saúde pública? Da mesma forma, a violência e a precariedade das condições dos milhões que vivem na periferia das cidades? A péssima qualidade do ensino das escolas públicas?
É claro, como em toda torrente, toda enchente, não há rios de águas claras. Numa explosão de gente que pela primeira vez faz sua passeata, como era de se esperar, a mira nem sempre é a mais certeira. Aqueles que, por exemplo, gritam que “o povo unido, não precisa de partido”. Com o passar das passeatas, pelo próprio caminho percorrido, irão saber separar melhor “quem são os amigos e os inimigos do povo”. Irão saber separar o joio do trigo. Compreenderão melhor e irão perceber que as classes dominantes, com o apoio da grande mídia, bloqueiam as reformas democráticas de que o país precisa, a exemplo da reforma política. Querem a ferro e fogo manter o financiamento privado das campanhas eleitorais, uma das principais raízes dos escândalos de corrupção.
E esta perspicácia já acontece. Na segunda-feita (17), em São Paulo, um cordão grande de manifestantes fez um protesto em frente ao prédio da TV Globo. Repudiam esta atitude da mídia de tentar exercer o papel de tutor digital, eletrônico, virtual, da juventude rebelada. A grande mídia que amaldiçoa os partidos, desmoraliza a política, ela, a grande mídia, que é parte e instrumento da oligarquia financeira, tenta cumprir o papel de “comando “ das manifestações. Os apresentadores de TV grotescamente se apresentam como se fossem os generais que dos estúdios estariam a comandar a manifestações.
O povo na rua é uma boa-nova. Agora, quem tem humildade para aprender com o povo saberá atender ás reivindicações e tirar as lições que vêm das avenidas.
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Adalberto Monteiro, jornalista, poeta e presidente da Fundação Maurício Grabois