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Revelações de Diógenes Arruda: Ajuda teórica de Stalin (14)

 

Iza – E quando começaram as lutas internas no Partido?

Arruda – Então, dá-se o golpe contra o Partido e nós, através de uma reflexão, vimos que nossa linha política não era correta. É preciso dizer que nós éramos todos jovens dirigentes do Partido. O único dirigente mais velho era o Prestes. E os êxitos tinham sido muito grandes, subiram à nossa cabeça e não observamos que na linha do Partido havia fortes componentes reformistas. Então, através de uma avaliação crítica nós fomos chegando à conclusão de que a linha do Partido era uma linha essencialmente oportunista. Nós acreditávamos ingenuamente que podíamos chegar ao poder através da via democrática, parlamentar, eleitoral. Era realmente uma linha oportunista de direita.

Poucos dias ou poucas semanas depois da ilegalidade do Partido nós começamos uma discussão e chegou a que em janeiro de 48 começássemos já a reformulação da linha do Partido. Essa reformulação foi feita posteriormente, com o Manifesto de Agosto de 1950. Esse Manifesto, na essência, já indica uma posição revolucionária. No entanto, cometemos um erro aí sério de esquerda, que foi subordinar demasiadamente a tática do Partido à estratégia. Tática e estratégia ficaram fundidas. Ora, isso levou a uma rigidez na tática, falta de amplitude na tática, falta de flexibilidade na tática, que dificultava a abordagem das massas pelo Partido. Levava à subestimação dos conhecimentos táticos, de nos aproximarmos mais e mais das massas. Em fevereiro de 51, seis meses depois, chegamos à conclusão de que havíamos, ao sair de uma posição reformista de direita, caído numa posição esquerdista.

Iza – Qual era a posição? Você pode definir assim politicamente? Uma era pela via parlamentar. E a outra?

Arruda – A outra... nós dizíamos que já tinha de ser pela luta armada.

Iza – Essa declaração de 50...

Arruda – É. Então, com o Manifesto de Agosto começa a se elaborar uma linha política revolucionária no país. Mas, como nós caímos em posições esquerdistas, em fevereiro de 1951 nós começamos a pensar na necessidade de elaborar um programa do Partido. Então, tiramos uma grande comissão, e tiramos subcomissões, para trabalhar no programa do Partido. Esse programa nós levamos quase um ano para elaborá-lo. E, então, pela primeira vez elaboramos um programa revolucionário. É preciso dizer que para a elaboração desse programa nós recebemos a ajuda teórica inestimável de Stalin. Dado que se imaginava corretamente o seguinte: num texto de Lênin, ele afirmou algumas vezes que se a revolução, tendo sido vitoriosa na Rússia, fosse vitoriosa também na China e na Índia, estava decidida a vitória da revolução socialista proletária mundial.

Mas acontece que a independência da Índia foi (ininteligível) da burguesia. Então, foi uma revolução frustrada, ou truncada — ou não se realizou propriamente uma revolução na Índia. (trecho ininteligível). Bem, pensavam os bolcheviques, e o camarada Stalin, que essa tese de Lênin podia ser reformulada no seguinte sentido: uma vez vitorioso o socialismo na União Soviética, e vitoriosa a revolução na China e no Brasil (ênfase), estava decidido o destino da revolução socialista proletária mundial. E essa tese era inteiramente correta, porque se a gente pensa como teve repercussão na América Latina a revolução em Cuba, com cerca de 7 milhões de habitantes, quanto mais no Brasil, um país de dimensões continentais — que repercussão iria operar uma revolução vitoriosa no país!

Albino – Agora vamos entrar no terreno em que você é mais conhecido, mais polêmico no Brasil. Nesse período que vai do pós-guerra até 53, você na prática era quem dirigia o Partido. Era o homem que tinha contato com Stalin, era o homem que ia a Moscou...

Iza – Tem até o bigode parecido...

Albino – Tem até o bigode parecido...

Arruda – (Risos)

Albino – A gente queria saber como era o seu relacionamento...

Iza – Como era o Stalin?

Arruda – Então, nós recebemos uma grande ajuda teórica, ideológica...

Iza – É verdade que você era o único que Stalin recebia?

Albino – Do Brasil...

Arruda – Não. Uma grande ajuda teórica do partido bolchevique e do camarada Stalin. Principalmente nesse processo de elaboração do programa, ele teve um papel de dizer como podia desempenhar uma revolução vitoriosa no Brasil. De fato, eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Stalin. Foi por ocasião do 19º Congresso do partido bolchevique. Stalin era um figura extremamente simpática. Modesto, simples, afável, não tem nada disso que se propalou no mundo. E ele tinha muito carinho com o nosso Partido. Eu não privei particularmente com o camarada Stalin. Lamentavelmente não privei (ininteligível). O camarada Stalin tinha bastante admiração pelo nosso Partido e nos ajudou do ponto de vista teórico. Usava aquela roupa de soldado (pronuncia pausadamente). (trecho ininteligível)... (cansado, Arruda pede para interromper a entrevista).