A exposição iconográfica “Coluna Prestes: 100 anos” é o registro de um momento heroico do povo brasileiro no século 20. Marco imprescindível para o início da queda da República Velha e auge do movimento dos jovens tenentes que buscavam um Brasil mais justo.
Inicialmente formada por duas colunas, uma liderada por Miguel Costa, a partir de São Paulo (1924), e outra por Luiz Carlos Prestes, a partir do Rio Grande do Sul (1924), os combatentes se encontraram em abril de 1925 no Paraná para seguirem, juntos, Brasil adentro. Formou-se, assim, aquela que ficou eternizada para a história como Coluna Prestes.
A invicta marcha percorreu 25 mil quilômetros do território nacional, através de 13 estados, em combate às tropas legais, até internar-se em 1927 na Bolívia e no Paraguai. Entre as suas reivindicações estavam o voto secreto, a reforma do ensino público, a obrigatoriedade do ensino primário, a reforma agrária e a moralização da política. Denunciavam especialmente as condições precárias de vida no interior do Brasil e a enorme pobreza de sua gente.
Jogar luz sobre a trilha da Coluna Prestes, um século depois, é realizar um tributo a seus autores e reacender a chama de seus ideais transformadores. Ainda estamos longe de alcançar plenamente aquelas bandeiras e, por isso, a marcha segue.
Adalberto Monteiro
Presidente da Fundação Maurício Grabois
Portinari, Coluna Prestes, óleo sobre tela, 46 x 55cm, Paris, 1950
A Revolta do Forte de Copacabana (1922)
A Coluna Prestes constituiu um dos fatos decisivos da história política brasileira do início do século XX. Ela fez parte do chamado movimento tenentista, que representou um dos pontos altos da oposição à República Velha (1889-1930). O tenentismo ergueu alto a bandeira da realização de profundas reformas políticas, econômicas e sociais no país. Denunciou as mazelas do Estado oligárquico que, com seu sistema eleitoral fraudulento e antidemocrático, excluía grande parte da população dos direitos políticos e sociais. Seu marco inicial foi a Revolta do Forte de Copacabana, ocorrida em 5 de julho de 1922. Nele, 17 jovens militares e um civil – que ficariam conhecidos como os “18 do Forte” – enfrentaram o poderio das forças governistas. Por estar acamado com febre tifóide, Luiz Carlos Prestes não participou do levante. Nesse conflito desigual, apenas dois revoltosos sobreviveram: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.
São Paulo sob fogo. Começa a marcha dos paulistas
Em julho de 1924 eclodiu em São Paulo o segundo levante dos tenentes. A rebelião contou com a adesão da Força Pública Estadual e foi chefiada pelo general Isidoro Dias Lopes. A revolta obrigou o governador a abandonar a capital paulista. O presidente Artur Bernardes decretou Estado de Sítio e autorizou o bombardeio da cidade. Os tenentes conseguiram romper o cerco governista e se dirigiram para o interior, seguindo até o Paraná.
A solidariedade gaúcha e a Coluna Prestes
Em 28 de outubro de 1924, em solidariedade aos revoltosos paulistas que continuavam lutando, vários quartéis do Rio Grande do Sul se rebelaram, entre eles o Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, comandado pelo capitão Luiz Carlos Prestes. Este jovem oficial, unido a outros revolucionários – como Antônio de Siqueira Campos, Osvaldo Cordeiro de Farias e João Alberto Lins de Barros – deu início à coluna gaúcha. No Paraná ela se encontraria com a coluna paulista e formariam a Coluna Miguel Costa-Prestes.
Jovem oficial Prestes no Rio Grande do Sul antes de se rebelar em 1924
O Libertador: órgão da Revolução – jornal lançado pela Coluna gaúcha comandada por Prestes em São Luiz Gonzaga em 5 de novembro de 1924
Os caminhos da Coluna Prestes
A Coluna Prestes percorreu uma distância de 25 mil quilômetros, atravessando 13 estados brasileiros: do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Fato que fez dela uma das maiores marchas militares da história mundial. A saga terminou em 3 de fevereiro de 1927, quando Prestes se internou na Bolívia com 620 combatentes, e Siqueira Campos se abrigou no Paraguai com 65 de seus homens. Por não ter sido derrotada, apesar de duramente combatida por tropas do governo federal e dos governos estaduais ganhou a denominação de Coluna Invicta.
Lampião – O encontro que não aconteceu
Virgulino Ferreira, o Lampião, principal líder dos cangaceiros, foi nomeado Capitão do Exército brasileiro para caçar a Coluna Prestes.
Ele aceitou o título, mas não perseguiu a Coluna.
O comando da Coluna Prestes
Comando da Coluna Prestes em Porto Nacional, Goiás, em outubro de 1925. Em pé, da esquerda para a direita: José Pinheiro Machado, Atanagildo França, Emygdio da Costa Miranda, João Pedro Gonçalves, Paulo Kruger da Cunha Cruz, Ary Salgado Freire, Nelson Machado de Souza, Manuel Alves Lira, Sady Valle Machado, André Trifino Corrêa e Ítalo Landucci. Sentados, da esquerda para a direita: Djalma Soares Dutra, Antônio de Siqueira Campos, Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa, Juarez Távora, João Alberto Lins de Barros e Osvaldo Cordeiro de Farias
Emerge a liderança de Prestes nos anos posteriores à Coluna
A consciência da miséria na qual vivia o povo brasileiro foi proporcionando a alguns dos tenentes, especialmente a Prestes, um salto na consciência social e patriótica. Compreenderam que era preciso ir muito além do programa proposto pelos liberais. Começaram a sentir a necessidade de agregar à sua pauta a questão agrária, da soberania nacional e dos direitos sociais do povo. Foram entendendo que não se tratava apenas de mudar um presidente ou de moralizar o antigo regime. Era preciso substituílo. Por isso, muitos dos tenentes capitaneados por Prestes ingressaram no Partido Comunista do Brasil e ajudaram a construir a Aliança Nacional Libertadora em 1935.
Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista do Brasil (PCB), foi à Bolívia para conversar com Prestes e entregar-lhes livros e revistas marxistas. Logo Prestes viajaria à União Soviética e ingressaria no partido comunista, tornando-se o seu principal dirigente.
A Coluna em Verso e Prosa
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Marcha da Coluna
A coluna vai na frente
Dos homens, das mulheres, das crianças.
A coluna deita no leito dos rios,
A coluna se levanta, rasga matas,
A coluna vai na frente,
Vai mostrar o caminho ao país,
A coluna marcha,
O povo diz que ela é de fogo,
A coluna vai sempre na frente,
Nem sabe direito o que vai mostrar,
A coluna marcha,
O povo conta com a coluna,
A coluna conta com o céu.
O governo faz promessa
Para a coluna desaparecer.
Populações inteiras se penduram nela,
A coluna vira coluna de homens,
A coluna cresce, vira uma barba enorme,
A coluna marcha
Na frente dos cavalos, das cidades, dos sertões,
Na frente das ondas, do fogo, das promessas,
A coluna vai, a coluna vai, a coluna vai,
Não dá mais notícias
– perdem a esperança, –
Nunca mais que volta,
Nunca mais que vem.
Murilo Mendes
Rio de Janeiro, 1932.
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O Capitão
Cavaleiro que passa a galope
tão veloz no cavalo alazão
O seu nome é Luiz Carlos Prestes
Comandante sem par, Capitão,
Capitão de oitocentos soldados
que mais logo serão mais de mil,
Comandante da marcha e batalhas,
o seu nome, guardai ó Brasil,
bravo jovem de vinte e seis anos
tão veloz no cavalo alazão
o seu nome é Luiz Carlos Prestes
Comandante sem par, Capitão.
Jacinta Passos
São Paulo, 1953
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Coluna Prestes
De vinte e quatro a vinte e seis
No Brasil aconteceu
A grande Coluna Prestes,
Uma força que nasceu,
Para organizar o povo
Todo o país percorreu.
Do Rio Grande do Sul
A revolução saiu
E com as forças paulistas
A Coluna se uniu,
Contra as forças do governo
A Coluna se expandiu.
Piauí e Maranhão,
Pernambuco, Ceará,
Alagoas e Mato Grosso,
São Paulo e Paraná,
Bahia, Minas Gerais,
Carlos Prestes passou lá
Do Rio Grande do Norte,
Também, Santa Catarina.
Carlos Prestes comandou
Com bastante disciplina…
Pedro Costa
Teresina, Piauí, novembro de 2000.
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Ficha técnica
Exposição: Coluna Prestes 100 anos
Festival Vermelho
22 e 23 de março de 2024
Salvador – Bahia – Brasil
Idealização: Fundação Maurício Grabois
Pesquisa: Augusto Buonicore (in memoriam), Fernando Garcia e Ana Prestes
Texto: Augusto Buonicore (in memoriam) e Ana Prestes
Marca comemorativa dos 100 anos: Fred Vázquez
Arte de abertura: Victor Serebrenick para a Camisa Crítica
Arte gráfica: Estúdio Murga de Criação (Fred Vázquez e Estela Sena)
Curadoria: Augusto Buonicore (in memoriam) e Ana Prestes
Realização: Fundação Maurício Grabois