Então é isso. Yanukovich capitulou vergonhosamente. Assinou um acordo com os insurgentes, o qual, segundo a BBC,[1] inclui os seguintes itens:

·                     A Constituição de 2004 será restaurada em 48 horas; e será formado um governo de unidade nacional dentro de 10 dias;
·                     Reforma da Constituição que tornará equivalentes os poderes do presidente, do governo e do Parlamento, a ser imediatamente iniciada, para estar completada até setembro;
·                     Eleição presidencial a ser relidade depois de a nova Constituição ser adotada, mas não depois de dezembro de 2014 e novas leis eleitorais a serem aprovadas;
·                     Investigação sobre os recentes atos de violência, sob monitoramento conjunto das autoridades, da oposição e do Conselho da Europa;
·                     As autoridades não imporão “estado de emergência” e os dois lados, autoridades e oposição cuidarão de evitar o uso de violência;
·                     Todas as armas ilegais serão entregues a unidades do Ministério do Interior.

E o que significa tudo isso, em palavras claras?

O dito “retorno à Constituição de 2004” significa, na verdade, que o presidente entregou todo o controle sobre a polícia e as forças de segurança, ao Parlamento. Assim, de um ponto de vista legal, Yanukovich entregou aos insurgentes o comando sobre as forças antitumulto (Berkut). Os mesmos insurgentes que até ontem espancaram, queimaram, agrediram, torturaram e assassinaram policiais das forças antitumultos hoje estão no comando, com autoridade sobre aqueles mesmos policiais que Yanukovich pôs nas ruas até ontem com ordens para não usar força letal.

À luz dessa absoluta monstruosidade, só posso aplaudir a sabedoria e visão civilizada dos governadores de Kharkov e da Crimeia, que tiraram das ruas todas as suas forças Berkut.

O chamado “governo de unidade nacional” significa que os insurgentes passam a governar o país, mas sem qualquer responsabilidade pelo desastre político, econômico e social no qual a Ucrânia será imediatamente mergulhada.

Quanto à chamada “investigação dos recentes atos de violência” evidentemente absolverá os terroristas e insurgentes de qualquer crime; e culpará os policiais que tentaram manter a lei e a ordem e proteger a presidência eleita.

É ‘acordo’ que entrará para a história como um dos maiores atos de traição nacional dos tempos modernos.

Desnecessário dizer que os verdadeiros ‘cabeças’ da insurgêngia, o chamado “Bloco da Direita”, rejeitou o acordo e prometeu continuar na ‘resistência’ até completa ‘mudança de regime’.

Esse recente desenvolvimento realmente vira uma página. O experimento de uma Ucrânia como estado unitário claramente fracassou e, a menos que ocorra um milagre, o país mergulhará numa guerra civil, ao cabo da qual o país será dividido em duas ou mais partes, o que já parece inevitável.

Kiev caiu e o novo “Front Ocidental” andou cerca de 400 km na direção leste.
Está para começar um longo conflito.

[assina] The Saker

PS: Acabo de ouvir que o Parlamento controlado pela ‘insurgência’ acaba de aprovar uma ordem para libertar Yulia Timoshenko.  Ótimo! Espero que Yanukovich passe imediatamente a ocupar a cela onde esteve Yulia: ele merece cadeia, muito mais do que ela jamais mereceu.
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[1] http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-26289318

Publicado em 22/2/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker

http://vineyardsaker.blogspot.com.br/2014/02/deconstructing-yanukovichs-treason.html

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu