Mais de 2.500 poderosos protagonistas da globalização se reúnem esta semana para seu conclave anual de quatro dias no alto da montanha, conscientes de que o mundo continua abalado pelos acontecimentos de meia década atrás. Quando o Fórum Econômico Mundial se reuniu em Davos (Suíça) no início de 2009, foi contra o pano de fundo do colapso do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, poucos meses antes, e uma contração da atividade que levantou temores de uma segunda Grande Depressão. Desde então, as esperanças de um rápido retorno à normalidade foram esmagadas pela recuperação lenta, o serviço de reparo incompleto nos bancos, o aumento da desigualdade, crescente alienação política e preocupações sobre fatos climáticos extremos e fusão na internet.

Klaus Schwab, fundador e presidente do FEM, avisou aos executivos de empresas, acadêmicos e autoridades presentes em Davos neste ano que resta muito a fazer. “Os padrões de crescimento econômico, a paisagem geopolítica, o contrato social que une as pessoas e os ecossistemas de nosso planeta estão todos passando por transformações radicais e simultâneas, gerando ansiedade e, em muitos lugares, tumulto”, disse.

Também resta muito a fazer se o FEM quiser avançar nas cotas de gênero que definiu quatro anos atrás. Então ele disse a seus cem parceiros corporativos – atraídos para o resort suíço pelas oportunidades de conseguir contratos de negócios nos bastidores – que eles poderiam trazer um quinto representante somente se fosse uma mulher. Mas a porcentagem de mulheres que o frequenta é de apenas 16%.

Saadia Zahidi, diretora de paridade de gêneros e capital humano no FEM, diz que estão sendo feitos esforços para levar a questão de gêneros mais para cima na agenda. O tema deste ano é “Reformulando o mundo”, e Zahidi destaca seis sessões, incluindo um evento chave com Sheryl Sandberg do Facebook e Christine Lagarde do FMI em 25 de janeiro – apesar de que muitos delegados já terão partido nessa data. As questões com maior probabilidade de surgir durante os cinco dias de sessões formais e privativas incluem:

Tecnologia

No ano que passou desde o último encontro, o mundo foi convulsionado pelas revelações de vigilância online denunciadas por Edward Snowden. A preocupação no FEM é que a desconfiança semeada por isto tenha causado uma “balcanização” da rede mundial, com as autoridades nacionais menos dispostas a cooperar, em um momento em que o mundo está vulnerável a uma falha do sistema. A reunião este ano notará que, apesar de os avanços científicos e tecnológicos terem o potencial de mudar o mundo para melhor, há necessidade de erguer defesas contra os invasores cada vez mais agressivos e a ameaça de “cibergedom”. Desigualdade Todo ano o Fórum Econômico Mundial pesquisa 700 de seus membros para avaliar os riscos para a prosperidade global na década seguinte. Este ano, a maior ameaça foi considerada a crescente diferença entre ricos e pobres. Como algumas das pessoas mais ricas do planeta estarão em Davos, provavelmente haverá longas reuniões sobre a necessidade de abordar o problema e curtas sobre medidas práticas, especialmente as que poderiam afetar os lucros das empresas ou reduzir os índices de impostos para os abastados. Mas Schwab diz que a questão não pode ser evitada: “A desaceleração está ocorrendo contra o pano de fundo da crescente desigualdade econômica, devido à parcela cada vez menor de renda nacional que vai para os trabalhadores, um fenômeno mundial – resultado do progresso tecnológico e da globalização – que coloca um sério desafio para os políticos. Os sistemas que propagam a desigualdade, ou pelo menos parecem capazes de reduzir seu aumento, contêm as sementes de sua própria destruição. Mas em um mundo interdependente não há uma solução óbvia, pois a alta mobilidade do capital alimenta a concorrência fiscal global”.

Economia global

Muita atenção será dada ao fato de que a recessão mais profunda na história do pós-guerra foi seguida pela recuperação mais fraca. Antes, as economias tendiam a estar pujantes cinco anos depois de uma recessão, mas o crescimento foi fraco apesar das baixas taxas de juros e de programas de geração de dinheiro. A atenção este ano se concentrará em quatro questões. Os Estados Unidos podem reduzir gradualmente seu estímulo de facilitação quantitativa sem abortar sua morna recuperação e provocar uma nova crise em um dos “cinco frágeis” países emergentes (Índia, Indonésia, África do Sul, Turquia e Brasil)? A China pode mudar para um modelo mais liberalizado sem um pouso forçado? A Zona do Euro será capaz de evitar a deflação no estilo japonês? 2014 será o ano em que o Japão sairá de duas décadas de crescimento lento e queda de preços? O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, fará uma palestra no dia 22 e as pessoas mais informadas esperam um tom otimista depois de sinais de que seu pacote de estímulos está funcionando.

Geopolítica

Davos gosta de ver a si mesmo como uma mini-ONU, usando a presença de tantos líderes para buscar avanços em alguns dos lugares mais problemáticos do mundo. Este ano a atenção se concentrará no Oriente Médio, particularmente na Síria, e nas relações entre Irã e Israel. Hassan Rouhani, o presidente iraniano, falará para o fórum no dia 23. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu presidente, Shimon Peres, também estarão em Davos, mas não dividirão o palco com Rouhani. De modo mais geral, o FEM acredita que há uma crise de governança global, com os países relutantes em cooperar sobre questões como a mudança climática e a erosão da confiança nos políticos causada pela crise dos bancos.

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De The Observer para Carta Capital