Os últimos indicadores econômicos mostraram o seguinte:

– Na sexta foi divulgado o IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). Trata-se de um indicador que tenta antecipar os resultados do PIB (Produto Interno Bruto). O de fevereiro registrou queda de 3,13%. Em doze meses, uma alta de apenas 0,87%.

– Um dia antes, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) constatou uma queda de 0,4% nas vendas de varejo, pior desempenho desde fevereiro de 2003. No acumulado do ano e em 12 meses, os indicadores são razoáveis. A explicação para a queda no varejo é que o aumento da inflação provocou uma retração no consumo.

– No caso dos supermercados, houve queda de 2,1% nas vendas de alimentos e bebidas, também em decorrência da alta de preços.

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Tem-se, portanto, um quadro definido.

Em relação ao comportamento geral da economia, índices claudicantes de recuperação. Em relação ao varejo, queda de consumo decorrente do aumento de preços. Ou seja, a própria inflação criando seu anticorpo, seja através da redução da renda, seja através das manobras defensivas dos consumidores. Vários itens de pressão nos preços começam a ceder.

Entre os que acreditam nos poderes mágicos da Selic, há a crença de uma defasagem de 8 meses entre uma eventual elevação da taxa e seus efeitos.

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Suponha que a Selic tenha eficácia e que exista essa defasagem sobre seus efeitos.

Ela incidiria sobre uma economia desaquecida, em que até os indicadores de varejo começam a claudicar. Ou seja, exerceria um papel pró-cíclico (de acentuar a tendência dominante).

Tem-se uma inflação que superou de leve o limite de alta da meta inflacionária.

Ao mesmo tempo, um conjunto de sinais mostrando uma economia a meia trava e outro conjunto de sinais mostrando distensão nos fatores principais de pressão sobre os preços.

Aliás, o melhor sinal veio da própria queda de vendas dos supermercados, comprovando que as grandes fabricantes de produtos de varejo, que reajustaram seus preços nos últimos meses, sofreram queda de vendas.

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Mesmo assim, o coro prossegue, por razões que nada têm a ver com preocupações inflacionárias.

Além dos especuladores habituais da Selic, há um conjunto de atores engrossando o coro.

Existem gestores de fundos de pensão que não conseguiram fazer a transição para o mercado de renda variável e necessitam de juros altos para fechar suas contas.

Os bancos de investimento atuam em várias frentes e uma redução de juros beneficiaria os segmentos que trabalham com empresas. Mas o sistema de bônus faz com que cada área lute ferozmente para preservar seus ganhos. E os maiores ganhos dos economistas – a parte do mercado com maiores vínculos com a mídia – se dá justamente nos resultados da renda fixa, no comportamento da Selic.

Com apoio dos bancos públicos, Banco Central e Fazenda coordenaram com maestria os movimentos do mercado em direção à redução dos juros e ao aumento do crédito. Desde que se percebeu consistência nas medidas para reduzir os juros, os bancos comerciais se prepararam para atuar em um cenário de competição.

Toda essa construção irá por água abaixo, será uma autêntica abertura da porteira, se o Copom ceder à pressão e aumentar a Selic.

Publicado em Carta Capital