Estes temas predominam no pensamento dos investidores, preocupando-os em demasia. Os mercados internacionais têm realizado uma bastante forte venda nos últimos tempos, embora nunca poderá alguém conhecer os verdadeiros motivos. Em memorando aos clientes da JP Morgan, o analista estratégico Adam Crisafulli resume tudo aquilo que tem mantido nas últimas semanas os investidores extremamente preocupados.

Conforme destaca, “primeiro as preocupações com o crescimento econômico dos EUA insistem e são fortes. Segundo, a mensagem de “não mais” pelos bancos centrais com relação a eventualidade de um novo turno de flexibilização quantitativa em breve, apesar de que a maioria dos banqueiros avalia que não poderá ser evitada. E terceiro, a crise de dívida na Europa, que recrudesceu novamente, com os desempenhos dos bônus espanhóis, assim como dos italianos, incrementa mais as preocupações”.

A Nomura Securities adverte que “os mercados internacionais registrarão nova correção da ordem de 10%”, destacando que a longo prazo os preços das ações poderão sofrer nova queda.

A propósito, Bob Janjuah, diretor de Ativos Patrimoniais da Nomura Securities e conhecido pelo seu ponto de vista bearish (que espera desvalorização dos mercados), considera que, “embora uma crise sistêmica na Zona do Euro esteja sendo evitada, a região estava e está em situação tão péssima a ponto de ninguém esperar que possa contribuir ao crescimento econômico mundial, pelo menos, nos três a cinco próximos anos, e o quadro poderia tornar-se muito pior, com a indefinição reinante na Espanha e a confusa situação que persiste na Grécia, mesmo agora após a segunda eleição”.

Ele acrescenta que “agora que deixamos atrás a crise sistêmica na Zona do Euro, tornou-se claro para cada vez mais participantes dos mercados internacionais que, essencialmente temos trocado simplesmente uma dramática derrocada de esquema V, que seria seguida pela recuperação, por um prolongado período de crescimento hipotônico”.

EUA perdem fôlego

Nos Estados Unidos, onde, de acordo com certos analistas, a recuperação está sendo consolidada e a tendência ascendente continuará, Janjuah acredita que “as condições sazonais de tempo e fatores variados têm impulsionada tecnicamente os dados econômicos nos últimos três a quatro meses, mas já terminaram. Assim, vejo que a economia norte-americana crescerá com ritmo da ordem de 1,5% neste ano em comparação com as otimistas previsões de 2,5%”.

O analista destaca ainda que “os consumidores norte-americanos encontram-se em posição difícil e vulnerável. As poupanças têm sido reduzidas em níveis preocupantemente baixos, os preços das casas continuam despencando, o quadro do mercado de trabalho é péssimo e os preços da gasolina são cerca de 20% mais altos em comparação com os de dezembro do ano passado”.

“A economia da China também está aterrissando”, continua Janjuah, “as medidas do país para facilitação da política monetária são muito aquém das expectativas do mercado e o país encontra-se em fase transitória de 10% de crescimento econômico para 7% neste ano e talvez até 5% nos próximos três até cinco anos”.

No que diz respeito a medidas de flexibilização quantitativa, o diretor de Ativos Patrimoniais da Nomura avalia que tanto “o Federal Reserve (Fed), quanto o Banco Central Europeu (BCE) não promoverão um novo turno de flexibilização quantitativa. Contudo, o BCE eventualmente se atreverá, se verificar que a Espanha dificilmente será salva da falência”.

Evolução da Espanha

Comunicado do Barclays Wealth anota que “os investidores deverão comprar por ocasião dos mergulhos dos mercados. A correção recente constitui uma excepcional oportunidade para os investidores aproveitarem o recuo dos preços das ações européias e retornarem aos mercados. Os níveis atuais das ações são baratos e o timing para aumento das posições em investimentos está ótimo, considerando o superdesempenho que espera-se em médio e longo prazo para as ações, contra os demais ativos”.

Apesar de, como declarou a Comissão Européia (órgão executivo da União Européia), “são insuficientes as informações sobre as novas medidas incluídas no orçamento deste ano da Espanha”, o país precisou, sim, de ajuda para recapitalizar seus bancos, evitando o pânico que provocou grande convulsão nos mercados internacionais.

Michala Marcussen, analista estratégica do Societe Generale, diz que “neste momento, nas mentes dos investidores institucionais, existem duas grandes perguntas. Primeiro, o que acontecerá no caso da Espanha. Segundo, como poderão ser traduzidos os resultados das eleições na Grécia.” E ela encarrega-se de responder: “Com processos resumidos, a Espanha tem pela frente um longo e duro caminho. Já os resultados das eleições na Grécia criaram mais indefinições.”

Novas rodadas de emissão de dinheiro

Ad van Tiggelen, Senior Strategic do ING IM para a Europa, estima que “embora a flexibilização quantitativa constitua aspirina e não medicamento, considerando que seu resultado dura por pouco tempo, como, aliás, estamos vendo ocorrer também na Europa, com base na falta de alternativas veremos, muito em breve, também, outros turnos de flexibilização quantitativa e os consequentes períodos para assumir e evitar riscos definirão o comportamento dos investidores por muito tempo ainda. Isto tem certas consequências importantes”.

“Primeiro, significa que os investidores deverão permanecer de sobreaviso e manter-se flexíveis mais do que foram no passado. Alternativamente, poderão adotar um horizonte de investimentos de longo prazo – uma década ou até mais – que lhes proporcionará grande possibilidade de conseguirem os desempenhos mais favoráveis, os quais determinadas categorias de capital, como são as ações de países emergentes e as debêntures empresariais, proporcionam ainda”.

“Segundo, os investidores deverão conscientizar-se que a correlação entre categorias de capital de alto risco em períodos quando evita-se assumir risco poderá, eventualmente, permanecer forte. Em outras palavras, quando os mercados tornam-se nervosos, existem pouquíssimos lugares para esconder-se. Somente os títulos estatais dos países mais robustos economicamente, títulos de empresas defensivas multinacionais e commodities específicas comprovaram-se, realmente, refúgios seguros”.

“Em um ambiente em que os investidores enfrentam curtos e fortes ciclos, a eficaz diversificação do risco pode ainda ser realizada com a custódia de certos títulos estatais de baixo desempenho. Mesmo assim, a recompensa por assumir risco é ainda importante, mesmo após a última corrida. Aliás, as categorias de risco mais alto continuam oferecendo desempenhos atraentes e alguma proteção contra a inflação e, para aqueles que o temem. Mas, preparem-se e estejam de sobreaviso”, sublinha caracteristicamente o estrategista-chefe do ING IM.

Preços do petróleo

Patrick Perret-Green, estrategista-chefe FX do Citigroup, observa que “os indicadores básicos apresentam risco crescente de entrarmos em um novo ciclo de problemas de financiamento na Europa, apesar das ações do Banco Central Europeu (BCE) visando a tonificar o sistema bancário com mais recursos de empréstimos baratos”.

Embora o indicador dos bancos mostra-se supervendido sob o ponto de vista técnico, Perret-Green destaca que “o quadro semanal é apavorador. Aquilo que já mostra claramente é que cresce o risco de uma nova crise de liquidez, independentemente de tudo que tentarão fazer os bancos centrais”.

Bilal Hafeez, estrategista-chefe de câmbio do Deutsche Bank, alerta que “os riscos nos mercados permanecem e são mais sérios, apesar de alguns parecer mais tranquilos quanto a crise de dívida da Zona do Euro. A questão com a Espanha é que fracassou em suas metas fiscais do ano passado”.

Os preços recordes do petróleo (cotação em euros) ameaçam abalar mais ainda a já decadente economia da Zona do Euro e com os países integrantes mais fracos recebendo os piores golpes.

As “tradicionais” avaliações da repercussão dos preços do petróleo sobre a economia da Zona do Euro sustentam que um aumento de 10% dos preços do petróleo retira 0,2% do crescimento ao longo dos três anos seguintes. Contudo, estas previsões não consideram a paridade euro-dólar e, assim, reduzem as consequências em um período de frugalidade generalizada. Também não refletem eventuais diferenças entre os países integrantes da Zona do Euro.

Até o momento, neste ano, o preço do petróleo aumentou 17%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já prevê contração do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro em 0,5% neste ano.

O UniCredit calcula que “10% de aumento do preço do petróleo em euro reduz o crescimento da Zona do Euro em 0,3% em apenas um ano, e não em 0,2% ao longo de três anos, conforme estima o FMI”.

Marco Valli, economista-chefe do UniCredit observa que “a repercussão na Zona do Euro poderá ser ainda maior, por causa do alto nível dos preços. O fato de o preço do petróleo aumentar de 50 euros para 55 euros e de 150 euros para 165 euros representa 10% de aumento em ambos os casos, e é totalmente diferente”.

“As consequências sobre a periferia serão muito mais severas”, adverte Carsten Brzeski, economista do ING, “enquanto os altos preços do petróleo foi a grande notícia na Alemanha. A preocupação, contudo, é muito maior para os consumidores nos países integrantes da Zona do Euro”.

A Agência Internacional de Energia (AIE) em comunicado distribuído avalia que “a Zona do Euro foi muito mais atingida do que as demais regiões industrializadas e pagará 500 bilhões de euros para compra de petróleo neste ano”.

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Fonte: Monitor Mercantil