O retorno do capitalismo à Polônia, 20 anos após a derrubada do socialismo, alterou completamente o cotidiano do povo e, apesar das tentativas do governo de configurar o país como uma economia em desenvolvimento e bem sucedida – algo que poderá vigorar para o capital – a realidade é totalmente diferente para a maioria dos poloneses. Predominam a pobreza, o desemprego e a miséria, enquanto cresce cada vez mais o número dos sem-teto.

Pelo menos 500 mil não têm habitação decente na Polônia, de acordo com cálculos de diversas organizações humanitárias, apesar de os dados oficiais do governo totalizarem entre 80 mil e 130 mil. Trata-se de pessoas que ficaram desempregadas ou miseráveis recentemente, e são obrigadas a dormir nas estações dos bondes e do metrô, enquanto a maioria recorre aos subúrbios da capital, em casas abandonadas ou em barracos feitos com restos de madeiras e papelão.

E a única forma para aumentar seus indigentes rendimentos é procurar nos lixos latas vazias, caixas de papelão e outros objetos inúteis, que vendem a empresas de reciclagem, ganhando 4 zlots (94 centavos de euro) por quilo.

Por causa destas condições de vida e da barbárie capitalista, morreram no inverno 50 pessoas em uma semana na capital Varsóvia, fenômeno já em expansão em outros países da Europa Central e da Europa Oriental.

Desemprego supera 13%

O índice de desemprego divulgado pelo governo em abril deste ano superava 13%, enquanto, em janeiro de 1990, era de apenas 0,3%. O salário mínimo oficial atinge 347 euros, mas, após os descontos, sobram 250 euros. Calcula-se que quase 13 milhões de poloneses, isto é, 35% da população total de 38 milhões sobrevive em condições de pobreza. Já o percentual de pobreza em crianças calcula-se em 30,8%.

Crescem cada vez mais os contratos de trabalho individuais por tempo determinado, medida que, aliás, encontra-se em vigor em todos os países-membros da União Européia (UE), condenando à incerteza os trabalhadores e tornando-os presos de seus empregadores para a renovação de seus contratos.

Além dos 2 milhões de poloneses – jovens em sua maioria – que foram obrigados a imigrar nas duas décadas anteriores, hoje no país quase 27% dos trabalhadores são obrigados a trabalhar sob contratos por tempo determinado, quase o dobro de tempo da média da UE (14%). Vítimas principais deste trabalhismo moderno polonês são os jovens com idade inferior a 24 anos, cujo percentual de subemprego atinge 85%. Além disso, o percentual dos trabalhadores que são obrigados a aceitar as denominadas “formas elásticas de ocupação” supera 30%.

Apesar das mentiras dos políticos do país de que tais contratos de trabalho são premissa indispensável para o crescimento econômico e que os próprios trabalhadores os preferem porque lhes concedem mais “liberdade”, em essência, os capitalistas e seus representantes políticos transformam os trabalhadores em reféns, sem nenhum direito, tornando-os trabalhadores de segunda categoria e mão-de-obra barata para qualquer uso.

Adicionalmente, recentemente o Parlamento da Polônia aprovou o aumento do limite para aposentadoria para 67 anos (de 60 para as mulheres e 65 para os homens). Assim, a partir do ano que vem, a idade de aposentadoria será aumentada a cada quatro meses em um mês, a fim de atingir o “desejável” – para o capital – limite para os homens em 2020 e para as mulheres em 2040.

Mais frugalidade

O governo de Donald Tusk, reeleito em outubro de 2011, continua adotando a política de severa frugalidade, proclamando a necessidade de “sacrifícios de todos” “para serem enfrentadas as consequências da crise”, sacrifícios que referem-se, única e exclusivamente ao povo.

Já realizou severos cortes de postos de trabalho para funcionários públicos, congelou os salários dos funcionários públicos, cortou quase pela metade as aposentadorias dos ferroviários e dos motoristas de caminhões, com base na nova legislação que impede a aposentadoria prematura, enquanto já está preparando novas demissões e novos cortes nas aposentadorias e pensões, piorando cada vez mais as condições de vida do povo.

Anotem: a dívida externa do país, que em 1989 era de US$ 20 bilhões, hoje supera os 200 bilhões de euros (US$ 250 bilhões). O governo planeja reduzir o déficit fiscsl de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB), índice ano passado, para 2,9% neste ano e 1% até 2015, algo que sinaliza condições insuportáveis de vida para a grande maioria do povo polonês.

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Fonte: Monitor Mercantil