Anos passados, numa formatura de jornalistas de que fui paraninfo, na Universidade Metodista, o prefeito Herrmann, um visionário, convidou-me a ser seu assessor de imprensa. Jovem professor, aceitei o desafio e honrei o prefeito com mensagens vindas do Vaticano, das Nações Unidas e de outros organismos, só deferidas a chefes de estado. João Herrmann acreditava na inteligência e premiava o mérito.

Nos oitenta, o espaço cultural da cidade, inaugurado com a presença dos peões que o haviam construído, fato inédito no país, foi cedido à União Nacional de Estudantes, presidida, nesta época, por Aldo Rebelo, o atual Ministro de Estado do Esporte que iniciou sua vida pública na UNE, num tempo em que pensar dava cadeia, falar era proibido e alinhar-se em favor de igualdade social, crime. Aldo foi um líder estudantil extraordinário e soube comandar como poucos um organismo na clandestinidade, permitindo que seus ideais não sucumbissem.

Por esta mesma época, presidente do Salão Internacional de Humor, encontrei-me com Millôr e o convidei a que fizesse o cartaz de difusão do evento. Mais de cento e cinquenta países participaram da mostra humorística que encontrava o cone sul fechado a ideias e expressão livre, prato cheio para críticas bem-humoradas.
Na visita a Millôr Fernandes, fui ver Chico Anysio no Teatro e, feliz, pude ouvi-lo falar publicamente do Salão que ganhava cada vez mais adeptos no país e fora dele.

Recentemente a morte de Chico Anysio e Millôr com diferença de dias enrugou a cara do país. Em meio a este luto, falei com Aldo Rebelo ao telefone, na sua casa em São Paulo. Solidarizei-me com sua postura frente ao secretário geral da FIFA e aplaudi sua atitude de honradez e destemor.
Aldo Rebelo, na conversa nossa, lembrou-se de Piracicaba, de seu prefeito à época, da cessão do espaço público, com tantas resistências locais, que acabou por fazer de Piracicaba cidade conhecida fora dos limites do Brasil, por resistir, com bravura, a um regime de exceção.

Ao fim da conversa decidi juntar, num mesmo registro, Aldo Rebelo, Chico Anysio e Millôr. O que havia de comum entre nós é que o governo da época nos via a todos de forma enviesada. Pensávamos. A vocação jornalística herdada de meu avô materno me obrigava à oposição. “O resto, como dizia Millor, “é armazém de secos e molhados”.
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Jornalista e professor. E-mail: [email protected]

Fonte: Jornal Cidade