Em 2005, após o rumoroso episódio chamado de “mensalão” – um flagrante crime de caixa 2 dos petistas transformado pela imprensa em falso maior escândalo de corrupção da República em todos os tempos – perdeu uma grande fatia de apoio da população. Dois anos antes, porém, o governo Lula tinha aprovação generosa da população. Mais da metade dela (51%) avaliava o governo como ótimo e bom. Dois anos depois, a avaliação nesse item teve uma queda, dramática politicamente, para 35%. Os que avaliavam o governo como ruim e péssimo subiram, nesse período, de 7% para 22%.

Tabelas do Ibope, preparadas exclusivamente para esta coluna, mostram que esse movimento de queda tem estreita relação com a opinião das classes média e alta, aqui representadas pelo nível de escolaridade.

Em março de 2003, 54% desse contingente de eleitores, que soma à carga de preconceito uma rejeição política a alguns programas do PT, ainda sufocava sua oposição diante do sucesso do governo: 54% avaliavam o governo Lula como ótimo e bom.

O reflexo desse apoio ainda continha a disposição da mídia de declarar guerra ao governo. Mas o “mensalão” provoca o fim dessa circunstância. Em junho de 2005 (tabela), esse apoio baixou para modestos 33%.

“Essa me parece ser a mais importante pesquisa para o PT nos últimos dez anos”, afirma Carlos Augusto Montenegro, diretor do Ibope.

A declaração é apoiada em fatos, não em simpatia. A pesquisa Ibope-CNI mostrou um apoio expressivo a Dilma no Sul do País. Nessa região, em 2010, Dilma perdeu a eleição para Serra no primeiro turno. Nos três estados – Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina – ela venceu entre os gaúchos e perdeu entre os paranaenses e catarinenses.

Compare-se esse quadro com a situação do governo Dilma. A própria presidenta, oriunda da classe média que se meteu na luta armada contra a ditadura, baixou o nível de rejeição ao PT e a ela. Uma mulher de gostos e gestos diferentes dos gostos e gestos de Lula.

Ao longo da campanha eleitoral, a Dilma candidata de Lula já não sofria rejeição igual à que a classe média dedicava ao ex-presidente. Vitoriosa, ela iniciou o governo com apoio do eleitor de “nível superior” em porcentual que o metalúrgico Lula nunca alcançou.

Em março deste ano, o governo Dilma alcançou 55% de avaliação “ótimo/bom”. Em setembro, esse porcentual variou para menos: 51%.

“Dilma recuperou, sem dúvida, o descrédito nessas regiões, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, de população mais rica e importante formadora de opinião”, explica Montenegro.

O diretor do Ibope lembra que Dilma não tem o perfil exato do militante petista. Ela ingressou na política na porta aberta pelo PDT de Brizola.

“Dilma, a exemplo de Fernando Henrique para o PSDB e de Lula para o PT, também é maior do que o partido. Mas o partido, sem dúvida, se favorece disso”, analisa Montenegro, que um dia chegou a pregar a morte do PT.

Essa é uma questão incômoda para ele. A frase de Montenegro, de 2005, foi dita em tom mais profético que analítico – Montenegro não é profeta, é analista com experiência de mais de 30 anos –, mas deu bastante dor de cabeça.

Ele admite o erro e faz uma correção de rumo.

“Eu errei o tom. Mas, de fato, aquele glamour inicial e o verniz de novidade o PT perdeu. Ele está igualado aos outros, mas ainda mantém certo vigor social que os demais partidos não têm.”

Talvez seja melhor a mídia se aproximar mais dos leitores do que tentar afastá-los do governo Dilma.

Fonte: CartaCapital