O plano alternativo secreto (plano B) da Alemanha para a crise de dívida da Grécia e as consultas secretas que realizam-se no núcleo do governo para o eventual abandono do acordo de 21 de julho conformam circunstâncias perigosas para a Grécia.

De acordo com informações que se intercruzam, os interesses, incentivos e alvos do governo de Atenas e de Berlim, caso torne-se inevitável a ampla reestruturação de dívida, não há certeza de que coincidem.

Fontes rigorosamente fidedignas avaliam que o governo grego não tem percebido que a linha divisória entre a "controlada" e a "incontrolada" falência e entre "falir dentro" e "despencar fora" da Zona do Euro é fosca e indefinida e que, em caso de "perda do controle", os fatos que serão gerados não favorecerão o governo de Atenas.

Apesar de tudo isso, o acordo de 21 de julho (que aprovou, por unanimidade dos 27 empoados líderes da União Européia, a concessão do segundo pacote de ajuda) permanece válido e sua consecução, que segue o lento, arrastado e empoado "cerimonial europeu", continua sendo considerada pelos mercados e pelos 27 Estados do Velho Continente a mais segura opção para a Grécia e Zona do Euro.

As equivocadas manipulações durante a negociação com os representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Européia (UE) fizeram com que a Grécia perdesse tempo valioso e condenaram a máquina estatal grega a funcionar em condições de "asfixia controlada", fortalecendo a convicção internacional de que o país, desde que impossibilitado a adotar um programa básico de estabilidade, optará pela derradeira solução de falência.

A troca de títulos estatais (PSI) garante os emprestadores particulares, considerando que os bônus que adquirirão serão acompanhados de uma – mais forte – garantia européia.

"Falência controlada"

O corte de 21% do acordo foi formalizado após negociações de muitas semanas e definiu as condições para a "participação voluntária" dos emprestadores no programa de troca. O acordo de 21 de julho é a única "falência controlada", considerando que o caráter voluntário da troca "permite" as perdas sem acionar os seguros de risco e sem que os bônus gregos se tornem inadequados como garantias que depositam os bancos no BCE para a reciclagem da liquidez. Maior corte de dívida pública anula o "caráter voluntário", equivale a "falência não controlada" e condenarà à falência o sistema bancário.

O 21 de julho tirou do campo dos "atos proibidos" a reestruturação da dívida estatal na Zona do Euro e funcionou como catalisador para a elevação das taxas de juro de endividamento de bancos e Estados, considerando que os mercados apostaram em futuras reestruturações de dívida estatal e bancária e decidiram pré-arrecadar o custo avaliado.

Se o 21 de julho for substituído pela reestruturação da dívida grega em 50%, então as fontes internacionais de capitais revisarão, novamente, suas avaliações sobre o risco das aplicações, detonarão os spreads de bancos e Estados e, eventualmente, levarão ao congelamento as artérias interbancárias de endividamento em grave crise de liquidez, análoga daquela do outono de 2008.

Consequentemente, é convicção pública nos centros europeus de tomada de decisões que o acordo de 21 de julho será sufragado pela maioria dos parlamentos dos 27 países-membros da UE (nove aprovando será suficiente) para a consecução do plano de salvação da Grécia, considerando que, além das previsões gregas, arma a Zona do Euro com um poderoso mecanismo provisório, capaz de intervir nos mercados de títulos e evitar crises de dívida estatal, a exemplo daquela que faz a Itália tremer desde seus alicerces e a Espanha agonizar pelas crises de dívida bancária, a mesma que ameaça os bancos franceses.

Em outras palavras, se não for materializada a decisão tomada em 21 de julho, então a Zona do Euro não terá as elementares ferramentas para estabilizar o euro-sistema, tanto em meio aos atuais abalos que o acordo provocou, quanto em vista de uma ampla desestabilização que sua anulação, certamente, provocará. A conclusão é que a disseminação da crise na Zona do Euro provocada pelo 21 de julho torna ainda mais necessária sua adoção. Mas esta é apenas uma face da moeda.

A instância secreta

A outra face da moeda é que o acordo de 21 de julho será materializado, mas sua alça de mira que refere-se a troca de bônus não tem garantia que avançará a tempo. A disseminação da crise pode mudar as prioridades do Mecanismo Provisório, considerando que o processo de troca é complexo e demanda muito tempo.

A declaração de Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha, sexta-feira passada em Washington, sobre "reexame" do acordo tensionou as incertezas. Fontes próximas ao governo de Atenas avaliam que um eventual fracasso da troca de títulos pode provocar refluxo de capitais. Se os euros abandonarem a Grécia, então a Grécia abandonará o euro.

Para ser evitada uma tal eventualidade e para que exista resposta às condições de incertezas que predominarão em caso de fracasso da troca de bônus, discute-se – a portas fechadas e em reuniões secretas no Ministério das Finanças aqui, em Atenas – a última "tentação" do corte da dívida em 50%.

De acordo com informações confirmadas, esta é a "instância secreta" que, ao que tudo indica, sustenta seus contatos com o governo grego Lee Bucheit, sócio da banca de advocacia Cleary Gottlieb. Esta banca, antes de assumir o caso da Grécia, já havia sido conselheiro de muitos governos em questões de reestruturação de dívida estatal e sempre sustenta a opção de amplo corte da dívida (haircut).

Nos corredores do Ministério de Economia, no Centro de Atenas, ouve-se que a opção de amplo corte da dívida (mais ou menos 50%) parece ser bem atraente para o ministro das Finanças da Grécia, Evángelos Venizelos, porque compõe uma grande iniciativa política com características "heróicas" e porque "liberta a Grécia das garras de dívida".

Esta solução torna-se seguramente viável desde que a Zona do Euro e o BCE confirmem – com todas as letras – que concordarão com as dolorosas perdas e de que proporcionarão (de uma forma não esclarecida hoje) apoio de liquidez ao sistema bancário repleto de bônus "protestados", para que o país possa permanecer na Zona do Euro.

Terapia e contra-indicações

A "alternativa terapia governamental" apresenta duas contra-indicações mortais. Primeiro, a anulação da troca de bônus é acompanhada pela anulação do programa de endividamento que, de acordo com as decisões de 21 de julho, substituirá o atual. Na falta de novo programa, o governo grego deverá anunciar mais outras medidas, a fim de equilibrar o orçamento. A convulsão social e a crise política que, certamente, serão provocadas poderão desestabilizar a economia e eliminar a frágil confiança no sistema bancário.

Segundo, a "corajosa" e apressada reestruturação da dívida grega – é extremamente provável – agigantará a crise na Zona do Euro. Neste caso, o BCE não se dará ao luxo de apoiar por longo tempo o sistema bancário de uma Grécia que encontra-se sob condições de choque político, econômico e social.

Em consequência, o cenário de "falência controlada dentro da Zona do Euro", poderá ser transformado, a galope, em um cenário de "controlada volta à dracma".

Vítima útil

Cresceram no último fim-de-semana os indícios de que a Alemanha, paradoxalmente, não seria contrária à "generosa reestruturação da economia grega", apesar dos riscos que esta decisão está envolvendo para o sistema europeu.

A explicação desta paradoxal posição, de acordo com fontes de Berlim, é que o famoso "plano alternativo" (plano B) do ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, existe e, de acordo com seu conteúdo, a insuspeita Grécia deverá desempenhar um papel especial.

Ainda, são fortalecidas as suspeitas de que o plano B é baseado sobre a unânime conclusão de que a moeda comum não poderá sobreviver por longo tempo, sem o BCE abandonar a (imposta pela Alemanha) política anti-inflacionária, sem desviar-se de seu severo regulamento e sem funcionar como verdadeiro banco central capaz de estabilizar os mercados adquirindo títulos estatais e bancários com "dinheiro novo", impresso pelo ali, nos porões de seu arranha-céu em Frankfurt.

Para desviar-se das grandes resistências dos "falcões fiscais" alemães em uma "opção proibida" assim, a Zona do Euro, como dizem os "desconfiados", necessita de um "choque existencial". Exatamente, a exemplo do choque decorrente da "falência" do Lehman Brothers, em 2008, que permitiu ao Congresso dos EUA aprovar a salvação de Wall Street pelo Estado, exatamente como uma falência da Grécia pode ser "usada" para salvar a Zona do Euro.

Avaliações de fontes políticas e econômicas indicam que, seja qual for a opção dentro do mês de outubro – além da materialização de 21 de julho – será, eventualmente, catastrófica para a Grécia, considerando que poderá torná-la "vítima útil". Em consequência, é extremamente perigoso o fato de o governo grego parece estar discutindo "cenários alternativos".

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Fonte: Monitor Mercantil