De onde vem a crise

Meados de 2007, crise imobiliária nos EUA, hipotecas de alto risco (subprime). Por isso, esta etapa é conhecida como crise do subprime. Grande peso da indústria da construção civil na economia norte-americana. Esquema de funcionamento a todo vapor, financiamento/crédito fartos, altamente alavancados. Porém, os juros flutuaram bruscamente para cima e o quadro se inverteu. Mercado extremamente aquecido dá lugar a uma situação de mercado relativamente saturado, que é atingido em cheio com queda vertiginosa no preço dos imóveis, consumidores inadimplentes. Imóveis em profusão for sale. No estouro da bolha imobiliária dos EUA foram atingidos agências de financiamento de imóveis, bancos e construtoras. Bancos europeus foram também contaminados, pois eram possuidores dessas hipotecas.

Em setembro de 2008, com a falência do banco de investimentos Lehman Brothers dos EUA a crise se espalhou por todo o sistema financeiro dos EUA e da Europa. Economia real atingida, a exemplo da indústria automobilística. Tornou-se uma crise sistêmica, econômica e financeira. O mundo passou por uma grande recessão econômica em 2008/2009. Crise que, em maior ou menor grau, também atingiu os países em desenvolvimento.

Grandes recuos nos PIBs dos países ricos, em 2009. Crescimento do desemprego. Comparação com os emergentes.

Em 2010, os países em desenvolvimento voltaram a crescer. Os EUA também cresceram modestamente. Países ricos em recuperações anêmicas.

Situação atual

No momento não temos uma nova crise e sim os desdobramentos da crise desencadeada em 2007, que agora se convencionou chamar de crise da dívida soberana. Como se fosse a resultante da “solução” encontrada pelos governos dos países ricos em 2007 e, sobretudo em 2008, qual seja o endividamento público crescente, em pacotes de salvamento (bailout packages), através dos quais foram feitos vultosos aportes ao sistema bancário e empresas em dificuldades. Assim, a dívida que era privada passou a ser pública, soberana, das nações. Dos bancos passou aos Estados. Sitaram Yechury dirigente do PCI-m diz que é “o desdobramento esperado dado a forma com a qual o capitalismo global procurou superar a crise iniciada em 2007.”

A atual crise financeira está centrada na periferia da Europa e poderá contaminar os países centrais daquele continente. Os mais duramente atingidos foram os países mais fracos e vulneráveis da Zona do Euro. Primeiro a Grécia, a Irlanda e Portugal. Agora a Espanha e a Itália. Estão ameaçados a França e mesmo a Alemanha, cujos bancos são aos maiores credores dos países em crise. Grande endividamento, câmbio fixo, baixa competitividade são as causas principais das dificuldades que evoluíram para crises nos periféricos europeus.

A Grécia enfrenta uma situação particularmente grave. Sua dívida atinge 330 bilhões de Euros, correspondentes a 150% do PIB. Tendo recebido um forte apoio ano passado (110 bilhões de Euros) a Grécia passa por um novo ciclo de crise. Em julho passado ficou decidido pela União Européia um segundo pacote de socorro aos gregos no total de 109 bilhões de euros. Mesmo assim, não está definitivamente afastada a possibilidade de uma moratória grega. De outra parte o BCE tem comprado grande quantidade de títulos da dívida da Espanha e da Itália para impedir o contágio da crise da dívida soberana.

Os EUA têm a economia semi-estagnada, podendo estar sujeito a nova recessão (double dip). Enfrentam dois problemas centrais: baixo crescimento e elevado endividamento. O episódio do rebaixamento triplo A nos EUA, episódio da elevação do debt ceiling. Resvalam para a esfera política, luta sucessória. A variação do PIB dos EUA no primeiro semestre deste ano é de cerca de 1% em relação ao mesmo período do ano de 2010. A taxa de desemprego mantem-se ligeiramente acima dos 9% da PEA.

A crise alcança Japão em uma situação de dificuldades. O país vive já duas décadas perdidas de estagnação e mesmo deflação. Ainda não se recuperou. Sua população envelhece rapidamente. A situação foi agravada pelo devastador terremoto que recentemente se abateu sobre o país.

Quais são as manifestações concretas da crise atual?
. Inadimplência de governos para com os compromissos assumidos com as dívidas de seus países, no curto prazo. Passam a emitir títulos (papéis da dívida soberana), pagando juros cada vez mais altos. Não conseguem pagar se não forem ajudados por outros países, pelo BCE e pelo FMI,

. Os empréstimos têm como condicionantes pesados ajustes fiscais: cortes de gastos públicos, aumento das arrecadações e enxugamento de direitos dos trabalhadores,

. Perda de valor das ações de grandes bancos: Bank of America, Citigroup, Morgan Stanley, JP Morgan, Goldman Sachs, Societe Generale, Credit Agricole,

. Mesmo com o rebaixamento da avaliação do risco da dívida dos EUA, os investidores em papel se deslocam para o dólar e para os títulos do Tesouro dos EUA, provocando grande instabilidade nos mercados de capitais,

. A crise financeira tem levado a uma desaceleração da economia real dos principais países capitalistas, sobretudo EUA e Alemanha. Junto com o Japão e a França suas economias se encontram semi-estagnadas. Há, entretanto, um receio generalizado de que poderão sobrevir recessões em diversos países ou mesmo que se configure uma nova recessão mundial. Mesmo os círculos oficiais, a exemplo de Bernanke do FDE e Lagarde do FMI, fizeram declarações que só fazem confirmar a gravidade da situação, após a reunião de Jackson Hole em 26/8/11.

. A crise econômica na Europa tem derivado para crise política. Cresce a resistência popular, Grécia, Espanha, Portugal e mesmo na Itália e na França. São greves e manifestações massivas em resposta aos pacotes de austeridade que os governos oferecem como resposta à crise. Esta é uma diferenciação em relação a 2007, 2008 e 2009. A crise coloca em xeque o projeto de União Européia. Contraditoriamente, parte dos círculos dominantes europeus propõe um laço ainda mais estreito aos países, com um regime fiscal único e a criação de fato do Fundo Monetário Europeu. Vale dizer, maior dominação sobre a periferia européia.

Ambiente de luta em que a crise se desenvolve

Em primeiro lugar algumas observações de caráter estrutural. A economia mundial passa por uma transição, tecla que temos batido com insistência. A propósito é interessante o depoimento de Fred Bergsten do Peterson Institute for International Economics, instituição dos EUA considerada como uma grande think tank sobre a economia global. Diz ele: “Em primeiro lugar nós precisamos reconhecer que a economia mundial do século 21 é muito diferente da economia mundial do século 20. A localização do poder econômico e do dinamismo da economia globalizada mudou drasticamente. Praticamente todos os países ricos industrializados que no passado dirigiram a economia mundial – o próprio EUA, Europa Ocidental e Japão – estão lutando para se manter (sobreviver). Praticamente todos os emergentes de economia de mercado – destacadamente a China, mas também a Índia, o resto da Ásia, a América Latina, e mesmo a África e o Oriente Médio antes de suas recentes erupções – estão estourando. Nós vivemos numa bifurcação ao contrário de uma sincronização da economia mundial.”

Acontece que as duas vertentes da economia mundial se relacionam cada vez mais intensamente. A resultante deste processo são grandes desequilíbrios macroeconômicos mundiais. Os EUA aumentam significativamente sua dependência do exterior e tem uma dívida externa líquida de cerca de US$ 2,5 trilhões, a maior do mundo. A tendência é de agravamento desta situação. O produto norte-americano que representava 50% do total do produto mundial no pós-guerra, hoje não passa dos 20%. Ademais, o país tem várias frentes de guerra no exterior cujas despesas juntas a outros gastos militares pesam muito sobre o desempenho da nação.

A China já é uma grande potência econômica e financeira. Sua economia representa já 10% da economia mundial. Tem em seus cofres US$ 3,2 trilhões de reservas, mais de 40% do total das reservas internacionais de todos os países, aproximadamente 50% de seu PIB. É o principal credor dos EUA, cerca de 70% destas reservas são em dólares, dos quais US$ 1,2 bilhão em papéis do Tesouro dos EUA. Chegou a ter um superávit em conta corrente correspondente a 10% de seu PIB. É hoje a 2ª maior economia do planeta, mantem um crescimento veloz e sustentável por mais de 30 anos e avalia-se que essa robustez tenha fôlego, com uma média entre 7% e 8% (meta do governo). Além disto, é o maior exportador de bens do planeta.

Há quem avalie que “a combinação de tamanho econômico e comercial, assim como o status de credor podem conferir à China um protagonismo econômico central que os EUA desfrutaram por aproximadamente seis décadas após a 2ª Guerra Mundial e que a Inglaterra desfrutou no auge de seu império no final do século XIX.” A crise atual acelera a transição, no aspecto econômico, de lento declínio dos EUA, rápida ascensão da China e aparecimento de pólos econômicos regionais. A discussão hoje não é sobre a possibilidade da China vir a ultrapassar os EUA e sim sobre quando isto acontecerá. Isto se dá em meio a uma intensa luta, pois a crise atual contrapõe crescentemente os interesses dos países de capitalismo desenvolvido dos interesses dos países em desenvolvimento. Aos poucos se constroem alternativas ao mercado único/moeda única.

No sentido econômico vai diminuindo a distância entre os países ricos e os países em desenvolvimento/emergentes. Em 2005 a dívida média do G-7 como porcentagem do PIB era 2 vezes a dos chamados emergentes; em 2010 era de 3 vezes (118,2 do PIB para os ricos contra 33,6% dos emergentes); para 2016 o FMI espera que a dívida dos ricos seja 4 vezes maior que a dos emergentes. O elevadíssimo nível de endividamento público nos países centrais revela a crescente e profunda interconexão do Estado capitalista com os monopólios financeiros.

Agora temos emergentes importantes que são credores dos ricos, países que tem crescido muito mais aceleradamente que os ricos, e nos quais se nota uma mobilidade social positiva, no sentido de que contingentes de pobres vão deixando esta situação. Mas não é só isto, alguns deles têm grandes e modernos parques industriais, sistemas financeiros sofisticados, mercados poderosos. Os emergentes já representam 50% da economia mundial. As articulações do G-20 e dos Brics, agora com a participação formal da África do Sul, tendem a refletir esta nova realidade.

As questões que precisamos procurar responder são: 1) como os países de capitalismo desenvolvido, especialmente os EUA, procuram resolver as suas dificuldades?; 2) em que medida e de que maneira a crise atual atingiria os países emergentes?; 3) que lições eles podem extrair para se defender? Naturalmente, a maior interdependência econômica vigente e a nova divisão internacional do trabalho, tornam impossível que os países em desenvolvimento se vejam livres de algum tipo de contágio “vindo do Norte”.

No texto citado quando Fred Bergsten analisa a situação da Europa conclui: “Os Estados Unidos e a economia mundial como um todo, não conseguirão muita ajuda da Europa por, pelo menos, alguns anos mais”. Quando trata do Japão, conclui: “Tampouco os Estados Unidos e a economia mundial conseguirão ajuda do Japão, e nós, na realidade, agora temos um temor maior de sua fraqueza do que o temor de quando ele era forte”. Mais à frente ele conclui: “Minha análise da economia do século 21 aponta claramente onde os esforços comerciais dos EUA devem estar focados … nosso alvo maior deve estar na metade do mundo que está crescendo rapidamente, que está cheia de dinheiro, e tem grandes superávits comerciais … muitos destes países em desenvolvimento colocam extremas dificuldades para nós penetrarmos em seus mercados. A China é, de longe, o caso mais escandaloso …” Em seguida ele trata da necessidade de remover estas dificuldades, particularmente em como desvalorizar o dólar frente ao Yuan.

Daí os EUA viverem um grande dilema. Necessitam de uma política fiscal e monetária frouxa (expansionista) para enfrentar a semi-estagnação e o desemprego, ao tempo em que precisam de um aperto fiscal para conter os gigantesco déficit orçamentário, a dívida nacional e o risco de novas bolhas financeiras. O governo Obama se debate nesse intrincado problema. Na prática, o seu governo tem feito grandes injeções de recursos na economia para as operações de bailout, que somam US$ 23,7 trilhões segundo porta-voz oficial do governo. Estes quantitative easing que são conjugados com juros-quase-zero. Juros que estão neste nível há quase três anos e que, segundo o FED, deverão assim permanecer até meados de 2013.

Tudo isto gera grande liquidez no centro do sistema, propicia a exportação especulativa de um grande volume de capital o que provoca, como conseqüência, a valorização das moedas dos países emergentes. Ao mesmo tempo o governo americano exerce pressões políticas pela valorização das moedas dos emergentes procurando, a todo custo, desvalorizar o dólar. Provocando uma verdadeira guerra cambial da qual se tem falado, como aspecto das acirradas disputas comerciais e do esforço para reduzir o déficit gigantesco da balança comercial norte-americana.

Uma situação de grande instabilidade. Ora capitais entram excessivamente, ora fogem procurando refugiar-se ali onde a crise é mais grave. No dólar e nos títulos do Tesouro norte-americano. Época de especulações, fundos hedge. Derivativos, hot Money. Situação que persiste, parasitismo. Embora se tenham feito tentativas de regulamentação.

Os países em desenvolvimento, por sua vez procuram prevenir-se deste contágio. Por um lado continuam fazendo reservas para evitar a valorização de suas moedas. Só a China compra por dia pelo menos US$ 1 bilhão. Por outro, questionam crescentemente a centralidade absoluta do dólar, do próprio padrão dólar-flexível. A China propõe uma reforma do sistema financeiro internacional, para reduzir o papel do dólar e colocar como alternativa uma cesta de moedas da qual o Yuan pudesse fazer parte. Esta cesta resguardaria a China de riscos futuros, pensam os chineses. Esta seria a contaminação via mercado de capitais.

Uma outra via de contaminação pode se dar como conseqüência do encolhimento da demanda global em função da desaceleração/crise da atividade econômica. Recessão nos EUA e na Europa afetaria o comércio exterior da China, grande parceiro destes países. Os efeitos de uma diminuição da demanda chinesa respingariam sobre o Brasil. E também nas suas relações os países desenvolvidos, especialmente com os EUA, ainda um grande parceiro comercial do Brasil.

Algumas tendências

Assim como em 2007/08, Marx novamente é lido e citado com freqüência. Entre outros, Nouriel Roubine que, depois de analisar a inviabilidade das medidas até então adotadas pelos governos dos países centrais e as dificuldades por que passa o sistema, dizer: “Karl Marx tinha razão, o capitalismo pode se autodestruir quando chegar a um determinado ponto, porque não pode continuar tirando renda do trabalho e transferindo para o capital especulativo sem criar excesso de capacidade e falta de demanda agregada. Foi isso que aconteceu.”

O capitalismo enquanto sistema e os EUA enquanto potência imperialista hegemônica tiveram um período de crescimento relativamente tranqüilo entre 1945 e 1970. No início dos anos 70 do século passado as dificuldades reapareceram e os EUA romperam com a orientação de Bretton Woods. Iniciou-se um período de transição entremeado pelas duas crises mais importantes do pós-guerra, em 1974/75 e em 1980/82. Depois disto o sistema se recompôs, entrou em uma nova fase, ganhando um fôlego relativo.

É que acontecimentos importantes se deram. A queda da URSS com a reunificação do mercado capitalista único, de um lado. De outro, o advento da financeirização mundializada, com outro padrão monetário, o dólar-flexível, outro regime de câmbio, flutuante, e a grande mobilidade de capitais. O neoliberalismo passou a dominar, a hegemonia dos EUA foi reforçada. O economista marxista norte-americano David M. Kotz, fala deste período: “houve três expansões econômicas longas nos EUA da era neoliberal: em 1982-90, em 1991-2000 e 2001-2007 … cada uma das expansões econômicas longas da era neoliberal nos EUA assistiu a uma grande bolha de ativos, no imobiliário comercial do Sudoeste na década de 1980, no mercado de ações na de 1990 e no setor habitacional nos anos 2000”.

Trabalhadores, povos e nações em defensiva, tiveram seus direitos esbulhados. Nesta quadra as crises tiveram sua localização essencialmente nos países em desenvolvimento e não no centro do sistema.

A situação atual mostra que sistema capitalista não pode se livrar das crises, que vai se esgotando o fôlego relativo ganho com o advento do neoliberalismo. A crise iniciada em 2007 é a maior crise do pós-guerra, se inscreve entre as maiores já enfrentadas pelo capitalismo. Atinge o centro do sistema. Mesmo assim, deve considerar-se que o capitalismo se desenvolve em ciclos de acumulação e reprodução do capital, ciclos dos quais a crise é uma das etapas. Contrariando o que dizem alguns ingênuos, as crises não são permanentes, como assinalou Marx nas Teorias das Mais-Valia. Independentemente da intensidade das crises, o capitalismo nunca colapsa por si mesmo. Em seu conjunto, o sistema tem se expandido muito desde o pós-guerra e as crises sobrevêm exatamente às expansões (superprodução e superacumulação).

O quadro presente mostra que pode se prolongar uma situação onde a semi-estagnação esteja entremeada com recessões. A crise de 29, que guarda certa semelhança com a atual, prolongou-se até 33 a partir de quando o sistema passou por altos e baixos até encontrar uma saída na 2ª Guerra Mundial. Em fins do século XIX, olhando o panorama econômico mundial pós crise iniciada em 1873, Engels falava de um período de “depressão crônica e duradoura”, ao constatar, já naquela época que “o almejado período de prosperidade reluta em voltar; toda vez que acreditamos divisar os sintomas que a anunciam, eles desaparecem novamente no ar”.

A saída de fundo para a crise atual está no advento do socialismo, em derrotar e superar o sistema movido pelo lucro capitalista/privado, baseado na exploração dos trabalhadores. Tarefa que cabe à classe operária e demais explorados, seus aliados. Ou mesmo em buscar aproximações para esta ruptura. Se estas alternativas não se impõem, o capitalismo encontra, inevitavelmente, saídas para a crise, destruindo forças produtivas, acentuando a exploração sobre os trabalhadores, povos e nações mais fracos e, apelando para a guerra. Tal como vem acontecendo no momento presente. Particularmente nos países centrais vem “crescendo as desigualdades, a pobreza, o desemprego e a desesperança”. (growing inequality, poverty, unemployment, and hopelessness). Ademais, crescem as frentes das guerras de agressão imperialista.

Questões para o Brasil

O Brasil se torna mais vulnerável por causa da alta taxa de juros que pratica e por causa das facilidades para a movimentação de capital especulativo que ainda perduram. Por isso, do ponto de vista brasileiro, na conexão com o exterior, algumas medidas se fazem necessárias para defender a economia nacional:

. Participar ativamente das articulações dos Brics, com os países da América Latina e com os demais países em desenvolvimento,

. Ao mesmo tempo procurar aproveitar as diferenciações e particularidades brasileiras nestas relações (atitude pró-ativa), resguardando o interesse nacional e simultaneamente tendo em vista o benefício mútuo,

. Intensificar as relações comerciais com os países da América Latina e demais países em desenvolvimento – transição para um engate mais diversificado que já vem se dando – lutando para não desindustrializar-se neste processo,

. Buscar não perder espaços nas relações comerciais com os Estados Unidos e outros países desenvolvidos,

. Apoiar o movimento para a reforma do sistema financeiro internacional, propondo que também o Real possa entrar na cesta de moedas,

. Apoiar o movimento para a reforma do Fundo Monetário Internacional,

. Taxar mais efetivamente o capital especulativo de curto prazo,

. Adotar o sistema de metas das taxas de câmbio tendo em vista a defesa da indústria brasileira,

Hoje há um consenso – medidas que já foram aprovadas pelos ministros da economia e pelos chanceleres e que seguirão para a apreciação dos presidentes – entre os países sul-americanos, no âmbito da Unasul, sobre a necessidade dos países da região aprofundarem a integração a fim de criarem em conjunto melhores condições para enfrentar a crise. Seria uma espécie de resposta sul-americana à crise cujos três eixos básicos são:

. criar uma coordenação para a utilização das reservas internacionais dos países da região que ultrapassam os US$ 550 bilhões,

. avançar na concretização do Banco do Sul,

. desdolarizar o intercâmbio comercial entre os países da região, estimulando o pagamento em moedas locais.

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Notas

Sitaram, Yechury – Global Financial Turbulence: India Must Draw Proper Lessons, 14/08/2011.

Bergsten, Fred – The United States in the World Economy, August 12, 2011.

Subramanian, Arvind – In Growing Chinese Dominance, a wake-up call for America, April 29, 2011.

Para aprofundar a questão da contaminação via financeira/câmbio ver Os Países em Desenvolvimento diante da Crise Financeira Global – Cintra, M. Antônio e Prates, Daniela Magalhães. Brasília, 2011.

Roubine, Nouriel – Entrevista a Simon Constable, do Wall Street Journal, 21 de Agosto, 2011.

Kotz, David M. – A teoria marxista da crise e a severidade da crise econômica atual, 14/10/2010.

Marx, Karl – Teorias da Mais-Valia, vol. II, capítulo XVII, Teoria ricardiana da acumulação. Sua crítica. Desenvolvimento das crises em decorrência da forma fundamental do capital. Pé da pág. 932.

Engels, Friedrich – Prefácio da Edição Inglesa de O Capital, 5 de Nov. de 1886.

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Dilermando Toni é jornalista e membro do Comitê Central do PCdoB