Steen Jacobsen, economista-chefe do Saxo Bank, comenta as últimas evoluções na economia da União Européia e dos EUA, e espera fortes decisões políticas, as quais poderão levar os mercados a evolução ascendente.

Destaca que "já é difícil acreditarmos nas práticas e fáceis soluções para a contenção da disseminação da crise. O pedido dos mercados para o enfrentamento do motivo da crise, isto é, da falta de produtividade no Ocidente e da situação fiscal na periferia da Zona do Euro".

E por fim completa que "o aumento de custo dos CDS alemães constitui indício de que o mercado vê a Alemanha – que é também, o maior credor da Europa – não como simples parte da solução, mas como a única solução".

"Como uma crise de confiança nos governos será solucionada pelos próprios governos?. Está pergunta me formulou um amigo, em resposta a um recente artigo meu", pergunta Jacobsen, que coloca uma clara e importante questão: "Como conseguimos ficar sentados esperando a Alemanha decidir sobre algo que deveria ter sido feito há muito tempo, ou a Comissão de Mercados de Capitais (Fomc) conscientizar-se de que as flexibilizações quantitativas 1 e 2 (QE e QE2) não eram eficazes? Ou, ainda, acreditarmos que o Congresso norte-americano iniciará o processo para a redução da dívida dos EUA?"

Obviamente, o mercado possui uma agenda de inacreditável precisão: exige que o governo enfrente o motivo desta crise, isto é, a falta de produtividade no Ocidente e o caos fiscal na periferia européia.

Nem a Alemanha

Entretanto, as notícias do mercado nos últimos dias foram péssimas, com o custo de seguro dos bônus alemães (CDS) aumentando e superando o respectivo custo da Grã-Bretanha. Isto constitui um verdadeira sinal de que o mercado acredita que, finalmente, o maior credor da Europa não é, simplesmente, uma parte da solução, mas a única solução.

O preço para isto poderia, facilmente ser uma avaliação inferior para a Alemanha. Mas, por enquanto, no interior da Alemanha, os veículos de comunicação e, principalmente, os veículos de comunicação anti-europeus divertem-se jogando a carta de "não salvação" (no bail-out clause) da Convenção de Maastricht e esclarecendo que sequer a Alemanha pode pagar por esta situação.

O mercado, contudo, pede desesperadamente "soluções", muitas das quais constituem, simplesmente, medidas de curto prazo para se deter a péssima disseminação atual da crise. Um novo sinal de desespero surgiu com a passagem do ganho em depósitos trimestrais em franco suíço (CHF) para o negativo semana passada.

Sim, será necessário pagarem para aplicar seus recursos na Suíça por três meses. Antes de dizer que isso é parálogo, lembrem-se a velha máxima: "As semanas seguintes nada têm a ver com o desempenho de seus recursos, mas quanto de seus recursos lhes serão devolvidos"!

É preciso destacar que não há pretensão de se formular uma previsão pessimista, porque há muitos acreditando de que existirá uma forte resposta política antes do fechamento dos mercados no final de semana.

Prováveis cenários

– A China readequará suas taxas de juros com objetivo de colaborar na correção das desigualdades, considerando que, não busca tonificação do mercado. Anotem que o iuan chinês foi ligeiramente valorizado nos últimos dias.

– O Japão compromete-se publicamente a adquirir títulos estatais dos EUA e de países da Europa, decisão apoiada pelas 100 maiores empresas do mundo com reservas de liquidez.

– O Banco Central Europeu (BCE) zera suas taxas juros.

– A Alemanha manifesta seu compromisso pleno com o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) e declara – de fato – que garante um mecanismo para mais de 2,5 trilhões de euros. (Isto, provavelmente, resultará em "desvalorização" da dívida estatal alemã).

– Nos EUA o presidente Barack Obama pede "feriado".

– A União Européia adota proibição de vendas a descoberto (short-selling).

– A Grécia e Coréia do Sul já adotam o short-selling.

– Seguem, também, os países-membros do Grupo dos 20 (G20).

– O Grupo G7+1 intervém no iene japonês (JPY) e no franco suíço (CGF), com a ajuda da China.

O mundo ingressa em uma fase quando a crença em práticas e soluções fáceis já é difícil. Deve-se, ainda, considerar que a convulsão em Londres, as manifestações de rua em Israel e a crescente tensão na Itália não ajudam a situação e, infelizmente, ao que tudo indica, a maioria das previsões dos especialistas sérios para o terceiro trimestre prova-se verdadeira: grande insegurança, desaceleração mundial, atraso de decisões para se ganhar tempo e, finalmente, forte tensão social.

"Euro-marco"

Anotem que o mundo não chegou, ainda, a um novo 2008. As empresas encontram-se em melhor posição do que naquele ano e com muito inferiores níveis de manipulação, as empresas com capital e mercado possuem melhores perspectivas e existem centenas de boas oportunidades em ações. Entretanto, já é muito tarde para praticar o "compro impulso".

A posição dos especialistas permanece neutra em relação ao risco, considerando que o mercado é quase não negociável. Aguarda-se alguma espécie de alta, com base em uma ou mais das respostas políticas acima, enquanto o espectro e a essência deste alta ditará o próximo risco a ser assumido.

Por ora, o mercado considera, provavelmente, o surgimento de um "euro-marco", isto é, uma Zona do Euro sem os fracos da periferia, ao invés de acreditar que os políticos (isto é, a Alemanha) assumirão, finalmente, os compromisso necessários a fim de garantir a sobrevivência da União Européia.

Mas anotem que a ameaça persiste e um teste das mil unidades no indicador S&P no outono próximo poderá, infelizmente, ser o preço que será necessário a pagarem os cidadãos europeus, por causa da incompetência de todos os empoados líderes que formulam a política para conseguirem antecipar-se do mercado.

Por ora, resta prestar atenção ao conselho de J.P Morgan, o qual, quando questionado como se tornou rico, respondeu: "Sacava meu lucro bem cedo".

___________

Fonte: Monitor Mercantil