Já começou a queda de braço para o domínio dos recursos hídricos (além da já iniciado há longo tempo para os hidrocarbonetos), assim como para a abertura de itinerários para o respectivo transporte por intermédio de oleodutos, gasodutos e, agora, aquedutos em quase toda extensão da Ásia Central, particularmente, em uma época caracterizada pela falta de água.

Existem, aliás, previsões, segundo as quais, dentro dos próximos 20 a 25 anos, o problema da água potável será agravado em nível mundial, com resultado de a região da Ásia Central encontrar-se em situação extremamente crítica, quando as disputas por petróleo e gás natural serão substituídas por guerras, violentos conflitos bélicos por água.

Já as disputas para o domínio dos recursos hídricos foram iniciadas nas regiões mais atingidas pela falta de água, como são a África e o Grande Oriente Médio. A expansão desta espécie de "escaramuças", também, em outras regiões e, sua evolução em guerras já é considerada como próximo objetivo estratégico.

Não é casual o fato de que a questão de gerenciamento do uso de água ocupa cada vez mais organizações estatais interperiféricas criadas na região da Ásia Central por iniciativa da Rússia e da China, como são a Organização de Cooperação de Xangai, a União Econômica Euro-Asiática, a Organização de Segurança Coletiva, além das criadas por iniciativa dos EUA e da União Européia.

Quirguistão, Tajiquistão, Usbequistão, Turcomenistão e Kasaquistão, países nos quais, frequentemente, registram-se entreveros armados, são unidos com dois rios básicos, o Sir Daria, com extensão de 2.337 quilômetros e com vasão anual de 36,6 quilômetros cúbicos de água, e o Amou Daria, com extensão de 2.540 quilômetros e com vazão anual de água avaliada em 79,4 quilômetros cúbicos de água.

Sem problema durante a URSS

Durante a União Soviética, os atuais países da Ásia Central eram repúblicas soviéticas no âmbito da URSS que coordenava o planejamento da manutenção do equilíbrio das relações entre as ricas em hidrocarbonetos repúblicas soviéticas do Kasaquistão, Usbequistão e Turcomenistão, e das repúblicas soviéticas possuidoras de gigantescas reservas de água, como Tajiquistão e Quirguistão.

As repúblicas montanhosas, Tajiquistão e Quirguistão, dispunham de barragens e usinas de geração de energia elétrica e forneciam água para as repúblicas do Usbequistão e Turcomenistão, as quais, por sua vez, cobriam as necessidades das duas repúblicas montanhosas de petróleo e gás natural.

Após a derrocada da União Soviética e a adoção do capitalismo, os cinco países da Ásia Central encontraram-se – de repente – em condições desiguais, porque aqueles que dispunham de petróleo, gás natural e energia elétrica os vendiam, enquanto a água corria grátis aos países que se encontravam em nível inferior. Com sua "independência", surgiram vários problemas políticos, econômicos e sociais. Com exceção de Kasaquistão, o nível de vida das demais ex-repúblicas socialistas soviéticas desabou drasticamente, atingindo níveis do denominado Terceiro Mundo.

Hoje, os ricos em água Tajiquistão e Quirguistão são frontalmente contrários à cessão grátis de água aos seus vizinhos e exigem, em troca, recursos energéticos (petróleo e gás natural). No Tajiquistão encontra-se em construção uma rede de aquedutos, na região superior do nível de fluxo. Mas as obras foram interrompidas e desde o ano passado o Tajiquistão está procurando investidores dispostos a aplicarem US$ 1,4 bilhão na conclusão.

Com a situação evoluindo assim, cresceram as complicações ainda mais quando consideradas as mudanças climáticas. Calcula-se que nos próximos 50 anos, por causa do aquecimento do planeta e da dissolução das geleiras, os países da Ásia Central registrarão aumento de fluxo de água das montanhas.

A excepcionalmente importante posição geoestratégica da região – situada entre três potências emergentes (Rússia, China e Índia), em sintonia com as consideráveis reservas de petróleo e gás natural que dispõe, a localiza no epicentro das disputas endo-imperialistas nos próximos anos.

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Fonte: Monitor Mercantil