As equipes econômicas dos países da União Sulamericana de Nações (Unasul) reúnem-se hoje e amanhã em Buenos Aires. Os ministros de Economia e os chefes de bancos centrais da região procuram avançar na coordenação de medidas para enfrentar a crise financeira internacional e diferenciar-se da abordagem recessiva impulsionada pelos países centrais.

O encontro, onde a turbulência global voltará a estar no centro dos debates, concluirá com o ato constitutivo do Conselho Sulamericano de Economia e Finanças. Além de reforçar e relegitimar a independência econômica dos membros do bloco, o grupo de trabalho quer encontrar ferramentas concretas no plano financeiro que permitam responder de forma conjunta a possíveis ataques especulativos contra as moedas da região e outras políticas destinadas a aprofundar os processos de integração.

O turbulento cenário internacional e a vontade política dos presidentes da Unasul prepararam o terreno para o trabalho conjunto para além das diferenças na orientação da política econômica aplicada nos distintos países. A agenda do convite foi elaborada na reunião extraordinária de ministros de Economia da Unasul, realizada em Lima, na semana passada.

Neste convite, os funcionários tomaram como ponto de partida o debate sobre a crise financeira iniciado pelos mandatários. Na sexta-feira, serão divulgadas as conclusões e deliberações do encontro em um documento conjunto.

Os eixos das discussões, disseram fontes do Ministério da Economia da Argentina ao Página/12, estão colocados em quatro pontos: a promoção da integração produtiva regional, a administração coordenada das reservas internacionais dos bancos centrais, a regulação dos movimentos de capitais especulativos de curto prazo (medidas macroprudenciais) e o financiamento dos processos de integração regionais.

A inclusão dos chefes de bancos centrais no encontro não só enriquece os debates, como também possui uma forte carga simbólica: “A política monetária e fiscal não são independentes nem autônomas. Para enfrentar os efeitos colaterais de uma crise como a atual são necessárias a coordenação e o trabalho conjunto entre o governo e os bancos centrais. É relevante que participem para começar a desmontar o fracassado arcabouço neoliberal”, assinalou entusiasmado um funcionário que participa do Grupo de Trabalho de Integração Financeira.

– Integração produtiva e comercial: os fluxos comerciais entre os países da Unasul cresceram entre 2003 e 2008, antes do estouro da crise, mas ainda se situam abaixo dos parâmetros alcançados no final dos anos noventa. Segundo a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) , 20,5% das exportações da Unasul são intra-regionais, nível inferior aos 28% observados em 1998. O lugar de provedor de matérias primas e insumos manufaturados de baixo valor agregado que a região ocupa nas cadeias globais de valor das empresas multinacionais representa um dos principais desafios na matéria. A Unasul pretende difundir os incipientes mecanismos de uso de moedas locais nas transações comerciais e criar provedores locais que permitam reduzir a exposição da região à instabilidade do dólar.

– Coordenar o uso de reservas: Ao longo dos últimos anos, a região acumulou, segundo assinalou a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, mais de 700 bilhões de dólares de reservas. O braço econômico da Unasul aspira firmar convênios multilaterais que creem um pool com uma porção desses ativos para responder a possíveis ataques especulativos contra os países da região. As economias do sudeste asiático contam com um mecanismo similar e na região existe um relegado Fundo Latinoamericano de Reservas do qual são membros vários países do bloco, ainda que a Argentina e o Brasil não participem dele. A constituição de um fundo de reservas da Unasul faz de um processo de mais longo prazo, onde também figura a capitalização do postergado Banco do Sul.

– Financiamento para o desenvolvimento: Pra impulsionar a integração produtiva e a infraestrutura regional são necessárias maiores fontes de financiamento. Em março, decidiu-se que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) duplicaria seus fundos para empréstimos. A medida, aprovada por todos os países membros, ainda não foi concretizada. Por isso, na Unasul, analisam a possibilidade de fortalecer a Cooperação Andina de Fomento (CAF), um organismo do qual são acionistas os países da região, que financia obras de infraestrutura na América Latina.

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Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Pagina/12, na Carta Maior