Com toda razão a atenção de todos os gregos está voltada ao pesadelo das novas medidas de frugalidade que solaparão galopantemente o nível de vida de toda quase a população da Grécia, a fim de ser evitado o risco de falência que ameaça o país. Nestas horas, pouquíssimos gregos, certamente, têm a disposição e a paz de espírito para acompanhar as já tormentosas discussões que provocou em toda Europa a crise de seu país.

A questão de o que fará a União Européia com o imbróglio da dívida grega predomina, naturalmente, mas, paralelamente, já estão sendo travadas inflamadas discussões sobre o futuro não só do euro, mas da própria União Européia, em outras palavras, da própria complementação européia.

Cinquenta e poucos anos após o início da unificação européia e a instituição da moeda comum, jamais esta estrutura de nações encontrou-se tão perto da derrocada quanto hoje. Este ponto de vista já circula impresso nos maiores jornais europeus – entende-se jornais sérios, não jornalecos como o alemão Bild.

Impressionantes, por exemplo, são os título e subtítulo de análise da revista alemã Der Spiegel, no exemplar da semana passada: "A Europa balança econômica e tecnicamente", "A Europa como projeto histórico já faliu". No mesmo tom seguem também os títulos de outra grande análise no mesmo exemplar da revista: "A União Monetária torna-se o maior risco para o futuro da Europa", "O euro algema juntas as economias que não combinam".

Não se trata exclusivamente de pontos de vista da imprensa alemã: "Divergências entre Berlim e Banco Central Europeu, convulsões sociais nos países do Sul: a dívida e a frugalidade ameaçam a instituição européia", são os títulos da análise dedicada à crise, do jornal francês Le Monde.

Sequer os britânicos têm ponto de vista diferente: "A estratégia que salvou as economias periféricas da Europa comprova-se insuficiente", "Isto ameaça o projeto inteiro da complementação europeia", destacam os títulos da análise da revista britânica Economist.

"Não se trata somente da Grécia", reconhece o título de análise do jornal alemão Frankfurter Algemeine Zeitung, em uma crise de sinceridade, e prossegue no subtítulo: "A crise da Grécia nos faz esquecer, facilmente, que a União Européia ainda busca uma resposta global para a crise econômica e a crise de dívida", confessa.

"Euro é indispensável"

E exatamente por ser a situação tão séria que, há alguns dias, muitos jornais (sérios) alemães e franceses publicaram um comunicado, de página inteira, de líderes empresariais de 29 dos maiores conglomerados da França e da Alemanha, os quais registraram faturamento de 1,5 trilhão de euros e empregam mais de 5 milhões de trabalhadores.

O tom do comunicado comum, cujo título é "O euro é indispensável", é dramático: "A União Monetária Européia mergulha na crise, o euro encontra-se no centro das críticas", destaca desde o início, e prossegue: "A curto prazo deverão ser ajudados economicamente os países que têm sido atingidos pela crise de dívida, a fim de reconquistarem sua independência fiscal e mostrarem às suas populações melhores perspectivas para o futuro".

Em outro parágrafo, o comunicado "rejeita categoricamente propostas como aquela de expulsão de países integrantes da Zona do Euro ou a divisão da Comunidade Européia em uma do Norte e outra do Sul. Isto teria consequências que hoje são imprevisíveis. Esta espécie de exigências populistas não justificam-se pela seriedade da situação".

"O euro simboliza a Europa contemporânea. Um fracasso do euro seria uma fatal volta ao passado para a Europa", concluem os empresários.

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Fonte: Monitor Mercantil