Mas Saleh não, não vai embora. Recusou-se, pela terceira vez, a formalizar o acordo de transição a uma outra época, democrática. Aquela que, há alguns dias, o presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu apoiar com todas as suas forças.

Entende-se com suas forças pessoais, certamente não com as forças militares. Porque Saleh é amigo, melhor amigo de amigo, e com isto não se brinca. Com a Arábia Saudita, especificamente, Obama não brinca mesmo.

"Os árabes sauditas estão se expandindo para conservarem o status quo", escreve o jornal norte-americano International Herald Tribune, "para limitarem o refluxo, para protegerem os monarcas, para evitarem a derrubada de outros líderes". "Não estamos tentando impor nosso desejo, simplesmente defendemos nossos interesses", declara o príncipe da Arábia Saudita. Tropas no Bahrein, enviados ao Egito, intervenção no Iêmen. E depois, o quê?

Agora que Saleh se recusa, o que acontecerá? Seguramente, não mais uma operação militar. Este "monarca", os príncipes de Riad não defenderão. Os árabes sauditas pesam os prós e os contras. Os EUA fazem o mesmo. Todos instam Saleh para ir embora, mas Saleh não vai.

Intervenção "light"

"O pior cenário para Washington e Riad revela-se verdadeiro", escreve James Dorsi, pesquisador do Instituto de Oriente Médio. "Aquilo que começou em março como manifestação pacífica contra a corrupção e a favor da democracia está concluindo em divisão nacional e caos", escreve o jornal Al Arabiya.

O jornal prossegue: "Isto é o pior cenário para os cidadãos do país. Porque, para Washington e Riad, os piores cenários estão em outro lugar: o Iêmen hospeda a sede da Al Qaeda da Península Arábica e o caos foi, desde sempre, terreno favorável para o terrorismo."

Consequentemente, para o Iêmen não despencar mais em direção ao caos, algo deve ser feito, e rápido. Para Dorsi, o caminho leva somente a uma direção. E como a situação é crítica e não há tempo, possíveis sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) soam ridículas.

E como os EUA e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), assim como nenhum outro na região mostram-se dispostos a intervir, único candidato disponível para o serviço sujo é a Arábia Saudita. (O príncipe já disse: "Nós defendemos nossos interesses", lembram-se?).

O cenário de Dorsi prevê que a Arábia Saudita intervirá militarmente, não naturalmente para expulsar Saleh à força, mas para restituir a ordem e repor a paz. E depois poderá negociar a partida de Saleh, desde que já tenha encontrado – pagando com petrodólares – um sunita substituto que, ato contínuo, prestará juras de fidelidade e subserviência a Riad e a seus príncipes.

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Fonte: Monitor Mercantil