Vou deixar para nossos ilustres políticos e especialistas do assunto a apresentação da contribuição de Nelson Werneck Sodré, preferindo me deter nas razões que me fazem considerar da maior relevância atos como este e da maior importância a comemoração do centenário desse grande intelectual brasileiro.

Quando eu estava fazendo meu pós-doutorado no Instituto de Medicina Social da UERJ, em 2007, meu orientador, o psicanalista Jurandir Freire, observou a importância que eu dava ao papel do pai no desenvolvimento psicológico dos jovens e perguntou curioso quem era meu pai. Quando lhe disse que era Nelson Werneck Sodré, ele exclamou com alegre surpresa: “Mas esse não é apenas o seu pai! É o Pai da Nação,disse referindo-se à importância que teve esse pensador para a geração dele.

Apesar da enorme contribuição histórica de Nelson Werneck Sodré e da geração de intelectuais que nos anos cinquenta/sessenta pensaram a nação brasileira, as atuais gerações desconhecem sua participação na história brasileira. As comemorações do centenário têm me possibilitado andar pelo Brasil e conversar com os estudantes a esse respeito. Quando lhes conto os acontecimentos dessa época e o que representou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) ficam encantados. Quando lhes digo que a ação dessa geração de intelectuais foi socialmente mais relevante do que a dos intelectuais franceses que participaram dos eventos de l968, na França, ficam espantados. Quando narro o papel de Nelson Werneck Sodré na luta pelo desenvolvimento brasileiro e pela cultura nacional, e minha participação no movimento popular de cultura gerado no intercâmbio entre os intelectuais do ISEB, os artistas e estudantes desse período histórico, o público fica em geral empolgado.

Considero, como o professor Jurandir Freire, que Nelson Werneck Sodré foi não apenas o meu pai, mas foi também o “Pai da Nação” brasileira por ter refletido e elaborado de modo impar os fundamentos da nossa nacionalidade em termos universais, sem nunca ter deixado de lado sua defesa de uma sociedade mais igualitária e humana, rumo a uma mundialização que respeite o colorido e as raízes histórico-culturais de cada nação. Ele não foi um nacional desenvolvimentista, como alguns estudiosos o classificam, mas, ao contrário, distinguiu-se dessa tendência predominante em sua época, ao se manter firme na defesa de um avanço democrático do socialismo brasileiro, com base no reconhecimento dessa importância da nacionalidade.

Tendo trabalhado, no campo da psicologia social, a importância da figura do pai na passagem de uma geração a outra, observo com tristeza a lacuna gerada pela interrupção abrupta da transmissão da experiência da geração intelectual de Nelson Werneck Sodré para as novas gerações. Essa lacuna foi introduzida pelo processo político que instalou no governo a ditadura de 1964 e integrou o Brasil numa globalização que elimina as culturas nacionais. Esse processo impediu não apenas o avanço da construção de um desenvolvimento brasileiro com base na cultura nacional, mas também a preservação da transmissão da memória da geração de Nelson Werneck Sodré para as novas gerações, com graves conseqüências para construção da identidade nacional dos jovens brasileiros que agora caminham a esmo perdidos nas ruas de nossas cidades, ao som de músicas que nada têm a ver com nossas raízes, como se pode observar no Rio, em S. Paulo ou Itu.

O grande valor desse ato de homenagem a Nelson Werneck Sodré e das comemorações de seu centenário me parece estar justamente no fato de resgatar a memória de um Pai da Nação e de aglutinar as pessoas em torno de um símbolo que permita a elaboração da identidade nacional brasileira.

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Fonte: Itu.com.br