Horror e arrepio provoca o "linchamento político" do até há alguns dias diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss Khan, pelos EUA, país com tradição em linchamentos físicos desde a época do faroeste, quando a pena para roubo de cavalo era, exatamente, esta, que ficou conhecida como "Lei da Forca".

Deve-se, contudo, esclarecer que os gregos – de uma modo geral – não nutrem nenhuma espécie de simpatia para o Strauss-Kahn e sequer compartilham o ponto de vista de que o ex-diretor do FMI é amigo da Grécia e, acompanhando por anos sua presença política e trajetória na França, têm conformado péssima impressão a respeito de sua pessoa.

Os gregos avaliam, também, que Strauss-Kahn manipulou cinicamente o problema da Grécia, tendo em vista única e exclusivamente seu interesse político pessoal, sob o prisma de surgir aos olhos dos franceses, dizendo-lhes: "Eu salvei a Grécia, assim como o euro, consequentemente a França me deve gratidão, e eu já tenho provado que sou adequado para Presidente da República. Então, votem em mim".

Sua postura sem hesitação, com a qual revelou diante das câmeras da televisão as negociações secretas que durante meses manteve sobre o mnemônico com o primeiro-ministro da Grécia, Geórgios Papandreu, as quais o último desejava manter em segredo do povo grego, revelam seu essencial desprezo não só pela Grécia, mas também para seu suposto "amigo" e "companheiro" Geórgios Papandreu, presidente da Internacional Socialista.

O negativíssimo ponto de vista político que os gregos têm sobre o Strauss-Kahn é impossível de impedi-los de se indignarem com a forma com a qual promoveram sua "execução" a frio os círculos de liderança dos EUA.

Não esperaram sequer o último dia, seis somente dias após sua prisão, quando a corte norte-americana decidiria se existiam elementos suficientes para marcar seu julgamento, e, exercendo-lhe asfixiante pressão, obrigaram-no a demitir-se do cargo de diretor-gerente do FMI.

Tentativa de "suicidá-lo?"

Até o secretário de Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, entrou em cena e, publicamente, exigiu a demissão, não respeitando sequer o sistema processual norte-americano e o pro forma, mas fundamental, critério de inocência presumida de qualquer pessoa até prova em contrário.

Sequer 24 horas resistiu o governo de Barack Obama, o qual, por motivos até o momento desconhecidos, deseja ardentemente massacrar Strauss-Kahn, antes de seu comparecimento à Corte, garantindo, paralelamente, que será levado a julgamento, de qualquer forma.

Porque, naturalmente, o que compreenderão os – por sorteio – escolhidos jurados se a demissão de Strauss-Kahn do cargo de diretor-geral do FMI constitui ou não indireta, porém clara confissão de culpa?

Também, como Strauss-Kahn não se apavorar e pedir demissão, por mais indeciso que seja, quando ouve as autoridades prisionais norte-americanas proclamando ao mundo inteiro que o monitoram dia e noite porque, supostamente, apresenta "tendências de suicídio"? Esta proclamação não estaria constituindo uma ameaça típica de gângsteres, de que estão se preparando para "suicidá-lo", caso não se demita?

Após ter sucumbido às exigências do Governo Barack Obama, como era mais do que óbvio, a Justiça norte-americana concedeu-lhe "liberdade domiciliar" até seu julgamento, o qual, ao que tudo indica, será realizado após as eleições presidenciais da França, em um ano a partir de agora. Assim, os EUA terão prestado um "serviço político" a Nicolas Sarkozy.

"A Americana"

Os EUA proibirão a saída de Strauss-Kahn do país, mantendo-o refém e explorando-o de acordo com seus critérios, intervindo, talvez, até nas eleições presidenciais francesas de forma diferente, se concluírem que seus interesses impõem outra linha política.

Considera-se provável, a escolha da ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, como sucessora de Strauss-Kahn ao cargo de diretor-gerente do FMI, mas, provavelmente, só para o restante da gestão do demissionário, isto é, para um ano e meio.

Lagarde tem o apoio da Alemanha, mas, também, dos EUA. Já viveu neste país e até trabalhou como assistente no Congresso. É, também, neoliberal e seu apelido de honra na França é… "a Americana"!

No início de sua gestão como ministra das Finanças, os franceses a toleraram com descontentamento, porque trata-se de pessoa cuja mentalidade é totalmente estranha aos franceses. Mais tarde parece que adequou-se de alguma forma "à francesa" e, agora, seguramente, tem mais amigos em Washington do que em Paris.

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Fonte: Monitor Mercantil