Estaria Milton Friedman, o pai do monetarismo, certo? O igualmente influente e polêmico economista norte-americano vaticinou em 2002 que a Eurolândia colapsaria entre cinco e quinze anos. O desenvolvimento dos participantes seria muito desigual, e a ausência da moeda própria impediria uma melhoria de sua capacidade de competição internacional por meio da desvalorização. Uma moeda unificada sem uma política econômica comum e sem uma união fiscal condenaria o projeto de integração ao fracasso.

Uma década transcorreu desde o ridicularizado prognóstico. A críse da dívida do Estado ameaça inflamar o material explosivo na zona euro. Ela compreende, nesse meio tempo, 17 países com 17 diferentes títulos de governo e distintos juros, cotações e rendimentos. Um paraíso para malabaristas financeiros! Esses tomam emprestado barato em países com boa notação de crédito e investem o dinheiro em países apertados por juros mais elevados. Bancos compram títulos do governo dos países em crise, depositam-nos como segurança junto ao Banco Central Europeu, e recebem por isso notas de euro recém impressas a uma taxa de juros baixa. Mercados financeiros decidem pelo destino de Estados democráticos e de milhões de pessoas.

Guarda-chuvas de resgate já foram abertos várias vezes para salvar países da zona euro excessivamente endividados diante da bancarrota ameaçadora. Irlanda, Portugal e Grécia buscaram proteção sob ele. A preocupação cresce de que também a Espanha precisaria estar sob o guarda-chuvas. Especula-se sobre uma saída dos helenos da zona euro ou o refinanciamento.

Aos países carentes de ajuda são prescritas as mais fortes ataduras. Isso estrangula a força de suas economias. A população geme sob medidas de austeridade rígidas e responsabiliza a União Europeia por isso. Tendências nacionalistas propagam-se. Mas também em países que se vêem como o caixa da Europa o descontetamento cresce. Nos Países Baixos o “Partido pela Liberdade” quer ter de volta o florim e a retórica anti-euro presenteou ao partido “Finlandeses Verdadeiros” quase 20 por cento nas últimas eleições na Finlândia. Na França, o direitista “Front National” troveja contra o euro.

Um renovado aumento do guarda-chuvas de resgate – mesmo com referência às vantagens desse – dificilmente será intercedido nos países doadores junto à grande população, pois o principal lucrador é a economia de exportação. Um retorno à moeda nacional deixaria o país em crise afetado afogar-se em suas antigas dívidas em euro. Um refinanciamento poderia ser para a Grécia atualmemte um desafogo. Capitalistas precisariam renunciar a uma parte de suas exigências e aumentar o prazo dos títulos gregos. O problema: atingidos não seriam apenas os investidores privados como seguradoras, fundos de pensão e bancos, mas também os contribuintes. Na Alemanha, o WestLB e o estatizado Hypo Real Estate seriam forçados porventura a amortizações, e o governo federal teria de injetar capital novo.

A quebra da zona euro não pode ser evitada com outros bilhões de resgate e novas imposições de austeridades. Derrubados seriam também juros de usura de bancos privados para créditos a países em dificuldades, enquanto a Eurolândia emite títulos, cujos prêmios de risco seriam reduzidos através da boa notação de crédito de alguns membros da União. A consolidação econômica de países altamente endividados também exige, além de fortes esforços próprios, um programa de investimento europeu de promoção de crescimento.

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Fonte: http://www.neues-deutschland.de/artikel/197699.sprengstoff-in-der-euro-zone.html, na Carta Maior

Tageszeitung Neues Deutschland, 16 de maio de 2011.

(*) Na coluna de economia semanal do ND, o filósofo Robert Kurz, o economista Harry Nick, a especialista em economia Christa Luft e o professor de economia Rudolf Hickel comentam contextos de processos atuais.

Tradução: Eduardo Ruttke von Saltiél