Portugal, embora numa posição subalterna e dependente, integra o centro capitalista mais desenvolvido, onde a resistência à ofensiva do capital para fazer recuar de muitas décadas conquistas históricas do movimento operário tem tido grande dimensão e maior visibilidade. É porém necessário olhar com atenção para o resto do mundo e em particular para a vasta área dos países subdesenvolvidos e neocolonizados de África, Ásia e América Latina, de onde as agências de informação apenas transmitem notícias fragmentárias, confusas e manipuladas, que ocultam a ofensiva recolonizadora em curso (aliás acelerada pela crise capitalista e pela agudização das contradições inter-imperialistas na corrida a mercados, fontes de matéria prima e de mão-de-obra barata) e procuram fazer crer que as lutas dos trabalhadores da Europa estão isoladas e sem possibilidades de vitória.

Isso não é porém verdade e o PCP, que sempre valorizou na sua análise e nas suas relações internacionais a luta libertadora dos povos e das forças progressistas dos países colonizados e dependentes e a sua necessária aliança com o movimento operário dos países capitalistas, e que sempre combateu quaisquer manifestações de «eurocentrismo», está em boa posição para o afirmar. Que não se iludam aqueles que varrem para debaixo do tapete a realidade da luta de classes que percorre todo o planeta e procuram convencer-nos de que passaram os tempos de generosos projectos libertadores e que à exploração e opressão do capital apenas se opõem bandidos, traficantes, terroristas, corruptos, ambiciosos candidatos a ditadores. É essa a imagem que procuram impingir-nos, nomeadamente sobre África, onde rivalizando com os seus aliados da União Europeia e sob pretextos que vão do combate ao narcotráfico a modernas versões do «perigo chinês», o imperialismo norte-americano desencadeou uma operação de grande envergadura para saquear as riquezas do continente negro, dominar o arco do petróleo que liga o Sudão ao Golfo da Guiné, apropriar-se de matérias-primas de importância decisiva para novas tecnologias e indústria de armamento. E desde a criação do comando militar Africom, à DEA (a famigerada agência norte-americana de «combate ao tráfico da droga» que tanto sangue tem vertido na Colômbia e noutros países da América Latina) não poupa meios para se ingerir nos assuntos internos dos países africanos, apoiar regimes corruptos «amigos», impor mal disfarçadas situações de ocupação.

É verdade que, tal como o movimento comunista, o movimento nacional libertador sofreu com o desaparecimento da URSS e as derrotas do socialismo um enorme recuo de que tarda a recompor-se. Mas é também verdade que a luta de libertação nacional e social continua, embora revestindo frequentemente formas alienadas e ocultas sob roupagens étnicas, religiosas ou outras, que o imperialismo estimula. Em qualquer caso é importante não perder de vista os ensinamentos do materialismo histórico. Faz agora em Janeiro 50 anos que Patrice Lumumba, herói da luta anticolonial e primeiro-ministro do Congo independente, foi brutalmente assassinado pela CIA. Mas se morreu o revolucionário que deu o nome à Universidade da Amizade dos Povos fundada em Moscovo para apoiar a formação de combatentes da liberdade de todo o mundo, as razões do seu combate persistem. Lumumba como tantos outros revolucionários africanos não surgiu por acaso, foi produto de circunstâncias históricas prenhes de contradições a exigir superação. Os valores e os ideais por que lutou não desapareceram, vivem na consciência e aspirações dos povos oprimidos que acabarão por forjar as forças que conduzirão uma segunda vaga libertadora, de carácter nacional mas ainda mais profundamente anti-capitalista. E certamente também ainda mais estreitamente convergente e aliada com a luta da classe operária e das massas trabalhadoras dos países capitalistas.

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Fonte: jornal Avante!