Expressão maior da «liberdade de informação» no mundo, a Time é, por isso mesmo, danada para a brincadeira democrática. Assim, com vista a eleger a «Personalidade do Ano», a revista pediu aos seus leitores para que se pronunciassem. Democraticamente. Votando.

E a capa da Time foi Mark Zuckerbery, o criador do Facebook.

Os jornais portugueses deram a notícia, aproveitando para fornecer aos leitores alguns dados biográficos de Zuckerbery, sublinhando devidamente o facto de ele ter arrecadado, com o seu Facebook, uns quantos milhares de milhões de dólares, que o transformaram no não sei quantos mais rico dos EUA.

A escolha não surpreende: uma pessoa que, de um momento para o outro ascende ao ranking dos homens mais ricos, está por direito próprio nas capas todas de todas as Time do planeta.

No entanto, há neste caso um pequeno pormenor a assinalar: é que a escolha dos leitores da Time, isto é, a personalidade na qual os leitores votaram maioritariamente, não foi o fundador do Facebook, mas sim Julian Assange, fundador do WikiLeaks.

Com efeito, contados os votos, Assange somou mais de 380 mil, sendo o mais votado, enquanto Zuckerbery se ficou por uns 18 mil votos, que o colocaram num modestíssimo 10.º e último lugar.

Porquê, então, Assange não foi – e Zuckerbery foi – a «Personalidade do Ano» da Time?

Boa pergunta!: porque a direcção da Time achou – e o que a direcção da Time acha, faz lei – que Julian Assange não devia nem podia ser «Personalidade do Ano», e pronto!; e que Mark Zuckerbery devia ser «Personalidade do Ano», e pronto!

Percebe-se: Assange está em vias de entrar para a Lista Negra do Terrorismo; Zuckerbery já entrou na Lista Dourada dos Mais Ricos…

Em contrapartida – e sempre exibindo-se em exercício de democracia aplicada – a direcção da revista «elegeu» Assange «Personalidade (não grata) do Ano».

A estas coisas, a Time chama «jornalismo democrático e interactivo».

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Fonte: jornal Avante!