Seguramente, Mao Tsé-tung disse que “a força sai do cano do fuzil”, mas agora Hu Jintao melhorou a máxima revolucionária de seu predecessor. Na época do comércio mundial e das transações monetárias internacionais, a força brota de um poço de petróleo ou de uma montanha de reservas cambiais em dólares.

A revelação oficial no último fim-de-semana do segredo estatal da China de que as astronômicas reservas cambiais do país, totalizando US$ 2,45 trilhões, estão investidas em percentual de 65% em dólares norte-americanos, deu a volta do mundo. A composição do restante das reservas cambiais chinesas é de 26% em euros, 5% em libras esterlinas e 3% em ienes, e foi revelada pelo China Securities Journal.

Este acúmulo de reservas cambiais em dólares pelo governo de Beijing em volume recorde constitui risco sistêmico não só para o dólar, mas para economia mundial. E, principalmente, revela o grau de dependência dos EUA.

Obviamente, a dependência dos EUA ao dinheiro chinês está envolvida em riscos incalculáveis. O endividamento norte-americano junto à China como uma colossal injeção tônica à economia norte-americana tornou-se um nó cego.

Na realidade, a China financia o gigantesco déficit fiscal norte-americano e por isso sua relação como “parceiro comercial” dos EUA é extremamente importante. Mas, também, em grau menor, a China funciona também para o resto do Ocidente desempenhando papel decisório.

Bomba-relógio

É possível que o governo de Beijing tenha assumido posições equivocadas. O acúmulo excessivo de reservas cambiais em dólares não constitui fenômeno salutar. A não ser que o governo de Beijing pretenda suicidar-se monetária e economicamente.

Entretanto, cálculos equivocados já ocorreram outras vezes nas relações econômicas mundiais com resultados fatais. “A China está sentada sobre uma bomba-relógio”, advertem vários analistas, e, se não mudar a estratégia, o Ocidente decretará medidas protecionistas, deixando a China em meio a uma grave crise econômica e política.

Roger Boutle, o combativo economista, sustenta em seu livro The Trouble with Markets que “o equilíbrio da economia mundial devera começar pela China”.

Aliás, sequer o Japão foi salvo pelas suas gigantescas reservas cambiais em dólares e mergulhou na década de 1990 na maior e mais profunda crise jamais conhecida por alguma economia desenvolvida após a época de pesadelo da grande depressão nos EUA. O “milagre industrial” do Japão desabou como castelo de cartas e apenas agora – após 15 longo e dolorosos anos – emerge das ruínas.

Vida longa ao dólar

Lembrem-se, em junho de 1996, quando o então primeiro-ministro do Japão, Riutaro Hasimoto, em palestra que proferiu na Universidade de Columbia, em Nova York, e perante um – por excelência – conservador auditório de investidores, atreveu-se a chantagear o governo do então presidente norte-americano, Bill Clinton, afirmando que estava examinando a eventualidade de vender os bônus norte-americanos que seu país dispunha, a fim de enfrentar a crise monetária do Japão no início de 1995. Naturalmente, fracassou.

Na arquitetura da economia mundial o dólar é e será, por longo período ainda, a básica moeda de reservas cambiais. Continua ocupando a posição principal nos organismos internacionais com o maior percentual das reservas cambiais do Fundo Monetário Internacional e do Banco de Regulamentações Internacionais.

Anotem: a liberação do regime cambial da China significa, em essência, que continuará acumulando dólares, mas em ritmos mais lentos. Assim, o dólar não terá o monopólio nas reservas cambiais do Banco do Povo (Banco Central da China).

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Fonte: Monitor Mercantil